[Media Party] Realidade Virtual e outras coisas que o The Guardian anda fazendo na internet

Gabriel Galli
4 min readSep 1, 2016

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Este é o terceiro texto sobre a Media Party, um evento organizado pelo grupo HackHackers Buenos Aires, que reuniu jornalistas, programadores, designers e empreendedores de várias partes do mundo para pensar o futuro da mídia. Veja os outros aqui.

Aron mostrando a relação do Guardian com as redes sociais. (Foto minha mesmo)

Uma das palestras mais esperadas da Media Party foi a do Aron Pilhofer, que é Executive editor of digital do The Guardian e em breve será professor da Temple University. Ele já passou também pelo The New York Times, onde coordenou por nove anos uma equipe focada em iniciativas de produtos interativos.

Pilhofer começou relembrando como era difícil reunir profissionais de diferentes áreas nas equipes do NYT. Havia um choque geracional e de formas de trabalho que tornava as coisas um pouco mais difíceis. Já no Guardian, as coisas são mais naturais e é mais fácil de trabalhar.

Segundo ele, o jornal tem “ido muito fundo em realidade virtual”, que é uma forma de fazer com que o jornalismo seja pensado de forma mais participativa. Aliás, Pilhofer definiu como deve ser o que ele chama de “jornalismo participativo” (participatory journalism): interativo, colaborativo e experimental. A visualização de dados pode fazer com que se tenha uma noção mais clara dos fatos e dá a possibilidade de o usuário “interrogar” as informações que ele tem acesso e compreender melhor o contexto das situações. Muda a postura do público em relação ao jornalismo, usando o material produzido para construir outras narrativas (se ele quiser, é claro).

Assim como o Vox Media, o Guardian também tem centrado o foco no mobile. E aí vem um gancho com a ação que virou a menina dos olhos deles: o 6X9.

Ele falou que ama o projeto e que é um dos maiores exemplos de como contar uma história com realidade virtual no jornalismo. A equipe decidiu montar o projeto no Unity, um software de modelagem 3D e desenvolvimento de games, porque parecia a única forma de fazer de um jeito mais interativo. Mais uma vez, aparece o relato de jornalistas afirmando que é difícil trabalhar com realidade virtual. Daí a importância de ferramentas que ajudem nesse trabalho.

Agora, um pouco de contexto do 6X9. O grupo queria provocar uma sensação de alucinação para quem navegasse pelo modelo 3D e, ao mesmo tempo, dar detalhes e informações ao público. De fato, é bem “experimental”, no sentido de viver uma experiência. Mas o que faz disso jornalismo? Para Pilhofer, é o fato de que cada frame da experiência foi reportado e investigado pelos jornalistas do Guardian com muita informação e cuidado. Eram assuntos com que a redação se preocupava, estava atenta e sobre os quais já vinha fazendo investigações prévias. Ao mesmo tempo, tem um forte aspecto político de contestar a viabilidade de manter pessoas nessas condições e questionar a normalidade com que esse recurso é utilizado para punir detentos, principalmente nos Estados Unidos. Não há dúvidas, para mim, de que isso é carregado de jornalismo.

Mas como nem tudo são rosas, a inovação não vem apenas pelo amor do jornal às novas técnicas e ferramentas. Aron foi bem sincero sobre a situação financeira da empresa, que tem precisado rever custos e demitir funcionários. Ele diz que isso é um sinal muito claro de que os produtos impressos estão acabando e é preciso ver a situação com realismo. Há um movimento muito veloz de desaparecimento da publicidade no impresso. Ele diz que não está pregando o fim de algo clássico e que foi muito importante, mas que é preciso estar atento.

- Eu amo impresso. Só não vou arriscar o futuro de uma profissão por causa de apenas uma plataforma.

Por falar em plataforma, é preciso dizer que não é apenas no papel que o Guardian encontra problemas. Segundo ele, pela primeira vez esse ano a renda da empresa como um todo diminuirá, incluindo os ganhos com o digital. Para Pilhofer, é uma questão ligada ao conteúdo. O dinheiro está indo principalmente para o Google e Facebook.

- Nós precisamos agora de novos produtos, novas tecnologias e que todo o time editorial esteja junto nisso.

E nesse salve-se quem puder, muitos jornais estão tentando produzir coisas com cara de jornal e enfiá-las em celulares, o que não faz o menor sentido para ele. É necessário pensar esses produtos novos com foco nos leitores.

Se você gostou do texto, saiba que também escrevi sobre outras mesas:

Mais sobre a HackHackers Media Party no site oficial do evento.

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Gabriel Galli

Jornalista, Mestre em Comunicação Social, membro da ONG SOMOS (http://somos.org.br) e do grupo Freeda — Espaços de Diversidade (http://freeda.me)