Relatos da vida real #1 : Ansiedade

Gabrielle Darin (Biba)
4 min readJun 23, 2022

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Decidi escrever sobre a vida real porque já vivemos num mundo de idealizações e fantasias, com recortes selecionados do que mostramos aos outros. Apesar de ter consciência que é essa não é a realidade, meu cérebro humano, como o seu, se engana com essas visões. Com isso, eu sinto falta de ver relatos mais crus, agridoces, mostrando as coisas boas e não tão boas. Cá estou :)

E a sua ansiedade, como vai?

A ansiedade é característica inegavelmente humana. Nos ajudou muito a chegarmos até aqui porque nos orientava a prever cenários e nos preparar para eles. Mas nos tempos de hoje, viver se posicionando para o futuro e entrando em modo de luta e fuga o tempo todo não faz mais sentido e está nos deixando doentes. Eu não escapei dessa e possivelmente você também já sentiu algum dos efeitos críticos da ansiedade. Eles podem variar entre insônia, falta de ar, aperto, enjoo, dores de cabeça, dificuldade de concentração, alterações na pele entre tantos outros. Quando eu tive minhas primeiras crises e eu não sabia o que estava acontecendo, minha maior aflição era que os sintomas não passavam. Eles duravam horas e não me deixavam focar em mais nada: era impossível viver outra coisa além da crise de ansiedade. Se você se identifica com essa relato, eu já te adianto: é possível viver sem crise.

É dessa forma que me sentia: debaixo d'agua e desconectada

Recentemente passei por um marco importante na minha jornada da ansiedade: tive alta do medicamento. Claro que começar a tomar remédio para tratar uma doença mental foi vencer um estigma considerável. Os tratamentos são longos e doenças mentais não têm o mesmo peso que doenças físicas na nossa sociedade. Mas eu tinha muita convicção que ter crises era algo que precisava de uma ajuda diferente: eu já praticava exercícios com alguma regularidade, meditava ocasionalmente e fazia terapia há algum tempo. Porém, eu não queria mais ser dominada por aqueles sintomas. Foi uma boa decisão, apesar de desafiadora: as primeiras semanas são muito difíceis e todo o processo teve altos e baixos. Meu tratamento teve um tempo recorde e em um ano eu consegui parar o medicamento. Mas a ansiedade é como uma doença auto imune: ela sempre estará lá e o seu objetivo é mantê-la sob controle.

Como eu tentei (e tento) controlar minha ansiedade:

O que eu acredito que foi um fator muito determinante nesse processo foi praticar atividade física, quase sempre todos os dias. Eu já praticava circo duas vezes na semana e comecei a correr na pandemia, mas nesse processo descobri o hot yoga e depois de um tempo passei a fazer academia. Pra que praticar uma coisa só né? Mas esse foi meu jeitinho de despertar interesse e ficar chapadinha de endorfina. Nosso corpo é movimento e esse foi o melhor investimento que fiz: mudou minha relação comigo mesma e me ajudou a liberar todas as coisas gostosas que temos que sentir. É tranquilo? Claro que não. Exige muita disciplina e como boa preguiçosa que sou, as vezes é na força do ódio apenas. Mas sempre, sempre, vale a pena. Retorno garantido.

Fazer terapia me ajudou também a ter espaço pra identificar e falar dos gatilhos da ansiedade. O poder de falar em voz alta somado ao fato de criar novas perspectivas sobre que você está vivendo é realmente mágico. Terapia é vida, nem preciso advogar muito sobre isso.

Buscar uma rede de apoio também foi importante. Minha ansiedade está muito relacionada ao sentimento de solidão: pra quem trabalhava remoto, morava sozinha, é extrovertida e estava vivendo numa pandemia, solidão foi um prato cheio. Foi muito importante poder falar sobre isso com minhas amigas. Para uma delas, eu mandava meu diário da ansiedade. Para outra, eu ligava quando tinha crise. No fundo, eu não queria atrapalhar ninguém com meus problemas, até porque sempre fui a pessoa animada, enérgica. Mas eu estava num período de sombra e era isso. Essa parte foi complicada de aceitar e acho que eu não lido bem com isso ainda hoje. Mas pra ser luz, tapar as sombras não é solução. Fácil falar, difícil fazer. Talvez seja por isso que eu quis escrever sobre ansiedade: encontrar identificação com outros seres humanos nos ajuda a sentir suportados e isso é essencial.

Todas as outras coisas que me fazem sentir bem também me auxiliaram nesse processo: contato com a natureza, meditação, cozinhar e comer coisas que amo. Problemas complexos exigem soluções complexas: eu fui tentando de todos os lados possíveis e acredito que a combinação de fatores foi decisiva para segurar as crises e poder sair do medicamento em pouco tempo. Viver sem crises é de fato viver: é conseguir ter energia pra focar nos outros aspectos da sua vida.

Acho inclusive que isso é válido para qualquer coisa: se toma toda sua energia e atenção, tem algo errado e você precisa agir.

Esse foi meu primeiro relato da vida real e se você pensou em alguém quando leu, compartilha! Fiquei refletindo se esse era um tema bom ou profissional o suficiente, mas no fim não acredito que haja uma separação entre vida pessoal e profissional. Dito isso, alguns próximos temas já aparecerem na minha cabeça e se você tiver algo interessante da vida real para ser abordado, me conta nos comentários.

Abraços da (ansiosa) Biba.

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Gabrielle Darin (Biba)

Energic senior product manager and addicted to physical activity, especially aerial circus and yoga