Gabryela Magueta
7 min readJun 10, 2016

Entrevista com Bárbara Pustai — O Mundo na Cozinha

Bárbara Kreutz Pustai é jornalista formada pela PUC­RS no ano de 2012/2 e atualmente é autora do blog O Mundo na Cozinha, onde publica suas receitas, dicas e experiências gastronômicas. Anteriormente trabalhou na GT de Gatronomia Regional no Palácio Piratini (2014). Elaborou reportagem sobre tendências do jornalismo sob a supervisão do crítico literário e escritor José Castello em São Paulo e Região para o Itaú Cultural (2012), estagiou no Editorial J da PUCRS (2011) onde criou e produziu o programa online Clique Sabor com profissionais da gastronomia que apresentavam dicas e receitas.

O que te motivou a cursar a graduação de Jornalismo?
Bárbara: ‘’Como quase todo o jornalista, eu sempre fui ávida por leitura ¬ e a escrita foi uma consequência natural. Eu devorava um livro por dia, a ponto da bibliotecária me questionar se eu realmente estava lendo tudo. Depois das aulas de educação artística, Língua Portuguesa era a minha favorita: eu adorava compreender a formação das frases, descobrir novas palavras e novos significados, enriquecer os textos praticados em sala de aula. O Jornalismo acabou sendo a faculdade que mais se ajustava ao meu perfil, pois eu adorava a ideia de ser uma agente de comunicação.’’

Qual foi a maior inspiração durante o período de faculdade? O que te fez entrar no meio de Jornalismo Cultural, ligado a Culinária e a Gastronomia?
Bárbara: ‘’As minhas aulas preferidas eram as de Jornalismo Online, pois eu o encarava como uma ponte para o futuro da comunicação. Eu adorava poder criar reportagens interativas, unindo o aprendizado de todas as disciplinas em um lugar só. Vídeo, áudio, fotografia, entrevista, linha do tempo, redes sociais: a web possibilita a união dos mais diversos recursos em uma mesma reportagem, deixando ela muito mais rica e completa, e isso me fascinava. Fui estagiária e monitora da CyberFam, uma espécia de revista online interativa da Famecos, onde dei os meus primeiros passos no Jornalismo. Como eu comentei antes, as aulas de Educação Artística eram as minhas preferidas ¬ o que sempre deixou meus colegas muito intrigados, pois poucos viam a utilidade dela. O Jornalismo Cultural foi a maneira que eu encontrei de unir a paixão pela arte e o jornalismo. Comecei timidamente fazendo cobertura da Bienal para a Cyberfam, depois estagiei em uma agência de conteúdo que trabalhava bastante com reportagens nessa área. Aos poucos, fui redescobrindo o amor pela cozinha, que ficou adormecido depois de algumas peripécias na infância. Comecei a comprar livros, a pesquisar receitas nos blogs da área (que eram novidade na época) e a me arriscar no forno e no fogão. Os meus trabalhos da faculdade começaram a ser todos voltados pra gastronomia, o que acabou culminando no trabalho de conclusão de curso sobre crítica gastronômica. Depois de formada, resolvi me aprofundar na área, e fiz um curso de cozinheiro profissional. Desejando unir a faculdade com a paixão pela cozinha, criei o blog O Mundo na Cozinha, onde compartilho as receitas junto com as suas histórias. E quem disse que gastronomia não é arte e cultura?’’

Quais foram seus apoiadores comerciais? E como surgiu essa parceria?
Bárbara: ‘’Nesses dois anos e meio de blog, já fechei várias parcerias, entre elas: Casa Perini, Neugebauer, Brig’s, Sakura, Escola de Gastronomia Aires Scavone (EGAS). Elas vêm de forma bastante orgânica, pois as empresas estão começando a enxergar os blogs como uma vitrine para os seus produtos. Claro que existe uma polêmica muito grande em torno dos jabás (presentinhos enviados pelas empresas), pois eles acabam enfraquecendo o poder comercial dos blogs. Explico: Se um blogueiro postar gratuitamente todos os presentes que receber, as empresas não vão ver necessidade de fechar um acordo de venda, pois irão encarar o blog como uma maneira de fazer propaganda barata. É daí que surge a necessidade dos blogueiros se unirem e não aceitarem esse tipo de relacionamento, que só é bom para a empresa e enfraquece economicamente a ‘’Blogosfera’’.’’

Como é ser Jornalista e uma Aprendiz de Cozinheira?
Bárbara: ‘’É muito gratificante poder unir duas profissões que eu gosto e admiro muito, e poder compartilhar isso com as pessoas. Ter um blog de gastronomia é muito divertido, pois é possível unir a prática da cozinha, a fotografia, a pesquisa e a escrita em um só lugar. Cada dia é um desafio diferente, pois não existe uma rotina fechada e sisuda. Eu gosto da possibilidade de poder trabalhar no meu ritmo, sem depender do ritmo frenético de uma redação ou das muitas horas extras de uma agência de conteúdo. Agora estou fazendo um curso de confeitaria profissional em parceria com a EGAS, e pretendo, futuramente, abrir uma confeitaria ¬ mas sem nunca deixar de lado a parte cultural da gastronomia.’’

Como foi a elaboração do seu TCC sobre as potenciais críticas gastronômicas e o jornalismo cultural? O que mais te desafiou na elaboração do trabalho de conclusão?
Bárbara: ‘’Foi bastante difícil de realizar esse trabalho pois, na época, haviam raríssimos estudos publicados na área. Acabei usando muitas fontes do jornalismo cultural, adaptando para o jornalismo gastronômico, justamente por ser um assunto recente e de pouco interesse acadêmico. A parte mais desafiadora, certamente, foi criar a base do estudo, pois as referências eram extremamente escassas. Depois que a parte inicial ficou pronta, fazer a comparação entre a crítica tradicional (publicada semanalmente no jornal por um crítico renomado) e a crítica online (publicada por amadores) foi bem tranquila de realizar.’’

Você foi selecionada em 2012 no Prêmio Itaú Cultural com estudantes de Jornalismo. O que foi esse projeto?
Bárbara: ‘’Por indicação do meu professor de Jornalismo Online, inscrevi uma reportagem que havia escrito durante as aulas para participar da competição. Eu e mais onze estudantes de jornalismo do Brasil fomos selecionados para participar do projeto, que consistia em discussões semanais sobre jornalismo cultural com o escritor José Castelo. Além disso, ao longo do ano, cada um produziu uma reportagem, cada qual na sua respectiva plataforma (online, vídeo e texto), na área cultural. No fim do ano, fomos todos a São Paulo para o lançamento do conjunto de trabalhos. Eu produzi uma reportagem em quadrinhos, em parceria com um ilustrador, sobre um famoso bar de Porto Alegre, que era conhecido por receber pessoas ligadas à cultura. Foi uma experiência muito rica, principalmente pela possibilidade de discutir os rumos do jornalismo cultural com um renomado crítico e escritor.’’

Quais áreas do Jornalismo você já trabalhou?
Bárbara: ‘’Como a minha paixão é o jornalismo cultural, sempre dei preferência para trabalhos e estágios nessa área. Atualmente eu trabalho, além do blog, como freelance, produzindo conteúdo para revistas, jornal e sites.’’

Com o teu trabalho na Internet e nas tuas experiências em geral, algumas revistas de Porto Alegre te convidaram para participar de algumas pautas. Qual foi o projeto que te trouxe mais reconhecimento na área de Gastronomia?
Bárbara: ‘’Eu gostei muito de ser capa do caderno de gastronomia da Zero Hora, pois isso mostra que estou me encaminhando para o lugar certo. Já fiz matérias e escrevi colunas para a Revista Sabores do Sul, única do RS focada na área da culinária. Mas a maior vitrine do meu trabalho, certamente, continua sendo o blog e as redes sociais.’’

O artigo ‘’Gastronomia no jornalismo cultural: crítica e crônica na Folha de São Paulo e na Carta Capital ‘’ de Renata Maria do Amaral e Cristina Teixeira Vieira de Melo da UFSC apresenta o lugar do jornalismo gastronômico. Piza (2003) foi o primeiro autor no Brasil a se incumbir da função de lançar um olhar acadêmico sobre o jornalismo cultural, e observa o crescimento do espaço dedicado a assuntos tidos como menores, como gastronomia e design. O antropólogo e professor Lévi¬Strauss considera a cozinha “uma linguagem na qual cada sociedade codifica mensagens que lhe permitem significar pelo menos uma parte do que ela é”. O que pode-se concluir sobre essa afirmação?
Bárbara: ‘’Como eu já comentei antes, a gastronomia é, sim, cultura. Ao conhecer os hábitos alimentares de um povo, é possível compreender muito sobre o funcionamento daquela sociedade. Segundo um trecho da minha monografia, explico melhor esta questão: “A alimentação é uma manifestação sociocultural, parte importante da identidade de um povo. Quando nos referimos aos hábitos culturais de uma determinada população, a comida não fica de fora da lista. A diversidade gastronômica da espécie humana é evidente e amplamente conhecida — e, ainda sim, muitas vezes causa estranhamento. Essa grande diversidade pode ser utilizada para fazer classificações depreciativas e pejorativas. No início do século passado, por exemplo, os americanos chamavam os franceses de “comedores de rãs”. O estranhamento, porém, pode ser estabelecido dentro de uma mesma cultura — tudo depende de como as situações são retratadas. Mas não é apenas o que as pessoas comem que difere de cultura para cultura, mas também como e onde. Enquanto alguns povos comem com garfo e faca, outros comem com as mãos ou com palitos; enquanto em algumas sociedades o ato de comer é público, em outras é uma atividade privada. Essas diferenças entre os hábitos alimentares, por mais simples que sejam, ajudam a formar o background cultural de um povo”.’’

Para finalizar, o futuro do Jornalismo no Brasil…
Bárbara: ‘’Seria arrogante da minha parte dizer que eu sei qual é o futuro do jornalismo do Brasil, essa área tão rica e tão cheia de nuances. O que eu posso dizer é que eu acredito no crescimento exponencial da área, pois as pessoas estão cada vez mais ávidas por cultura ¬ uma boa mostra disso é a ocupação dos parques de Porto Alegre com eventos como Piquenique no Museu e Serenata Iluminada. O jornalismo cultural não precisa e não deve ser apenas de serviço, mas sim uma plataforma para mostrar a pluralidade e a criatividade ilimitada do ser humano.’’

Gabryela Magueta

Jornalista — Formação Unisinos e Mestranda em Artes Visuais UFRGS.