Desigualdade social no Brasil: reflexo da globalização

Gabriela Jahn
5 min readSep 18, 2017
Áreas urbanas com falta de saneamento, segurança e coleta de lixo são características de uma sociedade desigual. (Foto: Gabriela Jahn).

Apesar de estar sempre entre os dez melhores PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, o Brasil também figura entre os dez com maior desigualdade social, segundo dados, divulgados em março deste ano, no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), elaborado pelas Nações Unidas. O ranking que é liderado pela África do Sul, calcula a diferença de renda entre os habitantes, que varia de 0 a 1. Quanto menor for o número, mais igualitária é a nação.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, se considera ‘‘extrema pobreza’’ pessoas que vivem com até R$ 234,25.

Selvino Heck, assessor da Secretaria Geral da Presidência da República, divulgou no ano passado, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) que ainda existem mais de 20 milhões de brasileiros nesta situação.

Fonte: Pnud.

Recentemente essa desigualdade presente no país foi caso de um estudo orientado pelo economista Thomas PikettyMilá em Paris, que verificou, a partir da divulgação da declaração de imposto de renda da pessoa Física (IRPF), que a população mais rica no Brasil detém 27% de toda a renda do país.

Essa grande concentração de riqueza nas mãos de uma pequena parcela da população tem ligação direta com a baixa tributação que as grandes riquezas têm, como explica o cientista político Luiz Domingos Costa

‘’O Brasil é um dos países que mais tributa o consumo, onde todos estão pagando impostos, e menos tributa a renda, onde se paga pelo que se ganha. Os EUA retiram 40% de seu orçamento de tributos sobre a renda, já o Brasil retira 18%. Nós taxamos muito os consumidores e não os rentistas. Esse é o grande problema tributário do Brasil, pois coloca a conta da despesa governamental nos ombros dos consumidores, da maioria, e não tributa os rentistas, as grandes empresas. ’’

A globalização

A globalização, de forma breve, é um processo mundial de integração política, econômica e social. É possível se aprofundar e entende-la melhor na obra ‘’Globalização: As consequências humanas’’, de Zygmunt Bauman.

Esse processo tem diversas características: diminui as distâncias geográficas, pois amplia a comunicação e os horizontes de deslocamento, diminui os custos do contato cultural e estreita laços comerciais, porém gera também a concentração de poder, no qual os grandes blocos econômicos como União Europeia atua para afirmar sua dominação econômica sobre os mais pobres com um pretexto de ajuda econômica.

Para Costa o pior fator se faz presente quando falamos da tecnologia e comunicação ‘’. As maiores empresas de tecnologia da comunicação e informação estão nos países ricos, e eles dominam informação, incluindo aquelas que os usuários não sabem e que envolvem a sua liberdade e privacidade. Se esses grupos registram como as pessoas usam o Facebook ou o WhatsApp, eles controlam toda a dinâmica cultural e privada do mundo. São informações sobre sexualidade, religião, ideologias, sobre gosto pessoal e sobre deslocamento que podem se transformar informação estratégica, de mercado. Os governos, que deveriam pensar nos direitos dos indivíduos, não estão olhando para isso. Por esse ângulo, a globalização parece funcionar como um novo colonialismo, pois existem os players mundiais que comandam as economias e ordenam a política econômica dos países periféricos. ’’, relata.

A crise econômica

A crise econômica presente nos últimos anos no Brasil, e no mundo, agravou ainda mais a situação de desigualdade. Dados divulgados pelo IBGE em 2015 apontaram que a desigualdade tinha havia caído devido a todas as classes sociais tendo menos recursos. Fato que segundo órgão já era resultado da piora do mercado de trabalho. E em 2017 pela primeira vez em 22 anos, os dados que se mantinham estáveis mostraram um aumento e o retrocesso entre 2013 e 2015 quando os índices eram estáveis ou mostram redução, como em 2014.

Reflexos da desigualdade social podem ser identificadas pela arquitetura da comunidade. (Foto: Gabriela Jahn)

Costa aponta que a crise econômica prejudicou a economia como um todo incluindo os empresários, entretanto quem mais sente são as classes baixas, já que a crise corrói a renda do trabalhador e piora os empregos, como citado pelo IBGE

“ Essas são as medidas mais importantes para medir enriquecimento ou empobrecimento. E a média brasileira está em R$ 1.200,00 reais percapta, mas esse valor chega a R$ 575,00 no Maranhão. Então, quando a economia vai mal, a renda do trabalhador decresce. ”, diz.

Os Programas Sociais

A pós doutora em economia, Aldaíza Sposati, explica que a globalização não atinge todos os países do mesmo modo e que é necessário pensar em alternativas que assegure os direitos da população excluída desse processo, e que é papel do Estado de coordenar o desenvolvimento.

Historicamente o Brasil sofre com questões de exploração e desigualdade, ao longo dos anos o país criou diversos programas sociais visando o combate à desigualdade.

Em âmbito nacional temos exemplos como:Bolsa Família, Prouni. Já no âmbito internacional: 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Médicos Sem Fronteiras, entre outros.

Entretanto, mesmo com programas e ações que visam diminuir a desigualdade o Estado ainda falha nas suas principais funções. A partir disso alguns indivíduos assuem esse papel, como as Organizações não Governamentais (ONG) e projetos que oferecem auxílio.

A Associação Emaús Casa do Peregrino é uma dessas iniciativas. A ONG que atua em Curitiba, presta serviços à população de rua em vulnerabilidade social. Arli Brasil, é coordenador da Casa do Peregrino de Curitiba e fala um pouco do projeto e da atuação da sociedade civil para uma nação mais justa.

O que é?

PIB: Representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, atua como o indicador na macroeconomia, quantificando a atividade econômica de uma de um país

RDHs: segundo a ONU o relatório inclui o Índice de Desenvolvimento Humano e apresentam dados e análises relevantes à agenda global e abordam questões e políticas públicas que colocam as pessoas no centro das estratégias de enfrentamento aos desafios do desenvolvimento.

IDH: O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde.

Por: Andréa Ross, Gabriela Jahn, Isabella Eger, Jehnifer Kammer e Leonardo Henrique.

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