SXSW 2017 pra quem tem preguiça

agatha kim
8 min readMar 24, 2017

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Festa de Encerramento SXSW Interactive 2017, créditos SXSW

O festival tem como vocação inspirar e apontar caminhos sobre inovação e criatividade, nas mais diversas áreas. Trazer um extrato de nove dias (contando o Interactive, Music e Film) e mais de 2800 sessões é uma tarefa sobre-humana, por isso, além das anotações das sessões que vi, contei com a troca de impressões com amigos que estiveram no evento e com a cobertura da mídia especializada como the drum, the next web e adage. Aqui vai uma lista de alguns dos principais assuntos abordados:

1. Diversidade e representatividade importam,

  • no cinema: Wagner Moura e Alice Braga falaram para uma sala lotada sobre a importância da representatividade dos latinos no cinema, em papéis que vão além dos estereótipos (ambos ficaram famosos em Hollywood em papéis de traficantes de drogas). Diversidade também foi o tema do painel “Hacking the Script: Disrupt Diversity in Hollywood, com as atrizes Gina Rodriguez e Yara Shahidi.
  • no mercado de trabalho: muitas palestras levantaram o tema da diversidade de diferentes pontos-de-vista, a Black Valley no painel “Black Valley:Increasing Tech Internships & Jobs” contou sobre sua busca em aumentar as oportunidades de negros no mercado, e o autor best-seller Dan Lyons falou sobre a importância de acabar com a cultura do “bro” no Vale do Silício, que favorece apenas jovens brancos, os “bro’s” ou amigos do CEO.

“The social contract that existed between employers and employees is gone. The safety net that we all thought we had is gone. So, the only way for us to survive is to look out for each other. We have to create companies that we want to work for so that we can create a world that we want to live in.” — Dan Lyons

  • na sociedade: Jessica Shortall, diretora do Texas Competes, fez uma apresentação emocionante o projeto e como ela convenceu, com o uso de dados, 1,20o empresas a se juntar em uma coalização para tornar o Texas mais aberto à comunidade LGBT. Um dado triste apresentado por ela: 41% dos transgêneros americanos já tentaram suicídio, e a expectativa de vida das transgêneros mulheres é de 35 anos.
Keynote da Jessica Shortall, SXSW Interactive 2017

2. Versões da verdade,

  • Pós-verdade foi a palavra de 2016 e tema do keynote da Yasmin Green, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Jigsaw, um braço do Google que desenvolve tecnologias, como o perspective, para lidar desafios de segurança que o mundo enfrenta hoje. Ao invés de fazer uma palestra sobre o assunto, ela chamou dois fornecedores de fake news, Jestin Coler, criador do site de notícias falsas Denver Guardian, e Jeffrey Marty, criador de um perfil falso de um político republico.
  • Em “The Messy Truth”, Van Jones traz um panorama do momento, com a habitual análise crítica vista no seu especial da CNN de mesmo nome, onde tenta criar pontes entre os opostos políticos em um momento em que a verdade nunca esteve tão confusa.

“We don’t have to agree. That’s the point in a democracy. We should learn to understand.” — Van Jones

  • Alexis Ohanian, fundador do Reddit, falou sobre a plataforma, uma comunidade que ajuda a expor as pessoas a diferentes perspectivas e Zeitgeists. E como marcas e humanos podem sobreviver e manter sua autenticidade nesse ambiente sem filtros que é o Reddit.

3. O futuro do presente,

  • da mobilidade: Danny Stillion da Ideo e Rasheq Zarif da Mercedes-Benz falaram sobre a democratização do ecossistema da mobilidade e sua reinvenção. A sessão mostrou como mobilidade hoje também tem a ver com acessibilidade (acesso a lugares remotos), novas formas de propriedade e armazenamento, transporte de coisas (delivery) e um 3º lugar (escritório sobre rodas). Mais infos no report da ideo. A automatização da mobilidade também foi comentada por Bill Ford, executivo da Ford na sessão sobre smart mobility.
Futuro da Mobilidade pela ideo, SXSW Interactive 2017
  • das cidades: em 2030, 8.5 bilhões de pessoas estarão na Terra, 97% delas vivendo em cidades de economias emergentes. O futuro delas foi o tema do painel “A tale of future cities”, que falou sobre as questões em torno da projeção da infraestrutura de megacidades e como elevar o potencial dos mais de seus milhões de habitantes para se relacionar e interagir.
  • da biologia: Jennifer Doudna, Ph.D e professora de biologia celular e molecular da Universidade da Califórnia, contou sobre sua descoberta do CRISPR — um processo que revolucionou a edição de genes, tornando o processo de edição do DNA tão simples quanto o de um documento de texto. Além de explicar como funcionou, falou sobre as implicações na biologia, tecnologia e principalmente, ética.
Keynote da Jennifer Doudna, SXSW Interactive 2017

4. Inteligência artificial ou inteligência aumentada,

  • para Rob High, vice-presidente e Chief Technology Officer para IBM Watson, os sistemas cognitivos amplificam a cognição humana que nos limitam. Em sua palestra, tentou quebrar mitos do IBM Watson e mostrou como a computação cognitiva funciona na prática. A.I. foi protagonista de muitas sessões populares, como o da Melanie Cook “Augmented Intelligence: The Next-Gen AI.”
Keynote do Rob High, SXSW Interactive 2017
  • a ascensão dos chatbots e as implicações das interfaces conversacionais, foi o tema do painel “Computers, We Should Talk: The Conversational Web”, que debateu os diferentes usos para consumidores e marcas e implicações e um futuro próximo em que a voz será a principal interface com a tecnologia. Também foi o tema da interessante palestra da Sophia Yeres, da Huge, sobre os riscos da mente quantificada. Quando esses assistentes inteligentes forem capazes de prever nossas decisões, seremos potencialmente removidos da possibilidade de descobertas e escolhas.
  • os robôs inteligentes do Dr. Ishiguro, da universidade de Osaka e do Dr. Higashinaka, da gigante telecom japonesa NTT, assombraram mais uma vez o SXSW. Esse ano, além da demonstração de uma conversa entre um robô e um android com humanos, eles fizeram uma explanação da lógica que fizesse este diálogo possível.
“Humans and Robots in a Free-for-All Discussion”, SXSW Interactive 2017

5. Humano, demasiadamente humano,

  • a resistência humana pela empatia esteve presente em muitas das sessões relacionadas a AI, como foi o caso de “AI: Actually Still Terrible”, apresentada por Kate Darling do MIT Media Lab e Nilesh Ashra da Wieden+Kennedy. Para eles, à tecnologia, com toda sua praticidade, parece faltar a empatia humana, e a inteligência emocional deveria ser o foco na hora de desenhar experiências AI. O diálogo entre a inteligência artificial e humana também foi um dos tópicos na conversa entre Amy e Ray Kurzweil (autor do livro “The Singularity Is Near”) sobre o futuro.
  • empatia também foi o centro da sessão com os atores Rainn Wilson, co-fundador da empresa de vídeo Soul Pancake, e Justin Baldoni, da Wayfarer. Em “Shake Up the Industry by Entertaining with Empathy”, eles falaram sobre a importância de conteúdos capazes de inspirar pela positividade e nos lembrar que somos humanos, afinal.

“One of the highest acts that we can achieve as human beings is to feel with someone, and the media at its pinnacle leads us to that end” — Rainn Wilson

  • na sessão denominada “Empathy Lab”, uma parceria entre o site Refinery29 e a Columbia University, os moderadores pediram aos participantes para que pensassem em um momento em que sofreram bullying. O que gostariam que alguém tivesse feito para ajudar? Uma tentativa de prototipar soluções usando empatia como agente de mudança social.

6. As ausências do ano

  • Uber e Lyft deixaram Austin este ano, possivelmente para nunca mais voltar. A causa disso foi a perda na votação da Prop. 1 (Proposição 1), que permitia a verificação de antecedentes via impressão digital. Ambas as companhias alegavam que seus próprios sistemas de verificação de antecedentes são suficientes e que a medida é desnecessária e não tão abrangente.
Anúncio da Fasten, via BuzzFeed News
  • “O” app do ano. Nos anos anteriores, grandes lançamentos de aplicativos e start-ups eram realizados no SXSW. Twitter (2007), Foursquare (2009) e Meerkat (2015) — o precursor dos apps de live, são apenas alguns dos exemplos. Esse ano, não houve nenhum grande lançamento, embora as Pitch Sessions, onde empreendedores do mundo todo apresentam suas inovações, tenham trazido novidades interessantes em 10 categorias diferentes.
  • Twitter no telão. Diferente de anos anteriores, em que as perguntas eram selecionadas a partir da hashtag de cada sessão e projetadas no telão, a organização preferiu selecionar as questões da platéia pelo app sli.do e visualizadas apenas pelo moderador.

7. Marcas que bombaram

  • National Geographic: a gigante da mídia esteve presente com uma “embaixada“ com uma ativação de realidade aumentada e robôs para promover a série Genius. Ela ainda marcou presença em várias sessões: no keynote do Cory Richards, alpinista e fotógrafo da revista, e no painel “Letting Go and The New Way to Tell Visual Stories”, em que eles contaram a história do sucesso nas redes sociais. Eles são a maior conta (não-pessoal) no Instagram com 72 milhões de seguidores, e para eles, o segredo é abrir mão, hoje, 105 fotógrafos tem o controle do perfil.
A selfie que virou capa da National Geographic, por Cory Richards
  • Budweiser: a Bud foi a patrocinadora master do evento com Bud Light, mas chamou a atenção mesmo com o anúncio de seu comprometimento em ser a primeira cerveja em Marte, no painel “Bud on Mars”.
  • Em um ano que muitas das grandes marcas diminuíram ou cortaram seus investimentos do festival, a quase desconhecida Topo Chico chamou a atenção. A água mineral de origem mexicana esteve presente em quase todas os eventos e festas do SXSW, e tem seguidores fiéis em Austin.

*Bonus Tracks:

  • Duas descobertas musicais no SXSW: Jidenna, rapper americano de origem nigeriana, e Tokyo Ska Paradise Orchestra, uma banda de ska japonesa!
  • Sideways, é um dicionário que usa analogias ao invés de definições para explicar complicados termos de tecnologia. Pelo projeto da Jigsaw, apresentado na introdução à sessão da Yessica Green.
  • Na minha opinião, a fala mais interessante do SXSW foi o discurso anual de fechamento do Bruce Sterling, sobre o futuro que ainda não aconteceu. Nele, ele refletiu sobre as consequências de uma sociedade em que a maioria da população estará excluída e não terá empregos, já que estes serão automatizados e substituídos por robôs. Bruce, um autor de ficção científica e futurólogo, descreveu onze cenário possíveis.

“When we say our machines are rendering us useless we are buying into a suicidal mentality. Lethal moral despair is one of our vices.” — Bruce Sterling

Até 2018 ;-)

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agatha kim

“history has failed us, but no matter” 🇧🇷🇰🇷 *all views are my own