Como Escolher um Programa de Aceleração
Dicas para sair do óbvio e aproveitar todas as oportunidades que estão surgindo no ecossistema empreendedor Brasileiro
Quando aprofundamos e renovamos nosso processo de aceleração, Steve Blank e sua equipe haviam mapeado quase 200 programas espalhados pelo mundo. Isso foi em 2013 e o Customer Development ainda era uma novidade. Hoje, somente 3 anos, certamente podemos encontrar mais de 200 programas no Brasil.
Em meio a tantas iniciativas e oportunidades, percebemos que muitos empreendedores se sentem perdidos ou fazem escolhas impulsivas. Um programa de aceleração mal escolhido pode ter efeito inverso e atrasar o desenvolvimento de seu negócio. Por isso, decidimos listar alguns critérios que podem ajudá-lo a selecionar o melhor programa pra você, indo além do óbvio.
Tipos de programas de aceleração
A primeira coisa a se pensar é que tipo de programa de aceleração beneficiaria mais sua startup. Alguns tipos: programas públicos, programas institucionais, programas privados.
Programas Públicos
São programas criados em nível Estadual, Federal ou Municipal e que em geral têm o objetivo de desenvolver economicamente uma região. Eles oferecem os benefícios mais diversos, mas em geral não pegam equity (participação acionária) na empresa. O programa Seed do Governo de Minas Gerais é um bom exemplo disso.
Esses programas podem trazer muita visibilidade e uma rede de contatos interessante, mas como em geral são generalistas, essa rede pode não ser a mais proveitosa para seu negócio.
Em geral o investimento financeiro pode vir de forma lenta ou envolver mais controle na prestação de contas.
Programas Institucionais Privados
Muitas Instituições como Associações de Indústria, örgãos de classe tem se organizado para oferecer programas de aceleração como forma de atrair oportunidades para seu mercado e aproximar a indústria e o comércio das startups. Esses programas comumente não oferecem investimento financeiro, mas podem ser alavancas importantes no desenvolvimento do negócio (quando há um processo de aceleração sistemático) e definitivamente na entrada ao mercado, uma vez que aproximam a startup de seus associados gerando oportunidades para ambos.
O programa de Inovação da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha é um exemplo disso — utiliza sua rede e seus ativos para gerar oportunidades de negócio concretas, além de oferecer apoio ao negócio de forma estruturada. Através do programa startups voltadas para alguns eixos tecnológicos de interesse da indústria podem interagir com empresas como Volkswagen, Bayer, Siemens, Basf e outras.
Aceleradoras
As aceleradoras em geral investem nas startups selecionadas, possuem uma rede de mentores e empresas que apoiam o processo de desenvolvimento da empresa e entrada no mercado de forma bastante profissional. Desenvolver startups é o foco de seu negócio, então estão mais preocupadas com resultados. Elas se tornam suas sócias e cobram resultados. Também tem como objetivo “sair” da sua empresa, vendendo sua participação aos próximos investidores, ou seja, vão te ajudar a passar para o próximo round de investimento.
As aceleradoras em geral também possuem um pouco mais de foco e têm se especializado em fases do desenvolvimento ou verticais tecnológicos. Startup Farm, Ace, Ginga são exemplos completamente diferentes de formas que aceleradoras podem tomar.
Entender os objetivos de um programa de aceleração é extremamente importante para você alinhar suas expectativas, definir sua estratégia e compromisso, e saber capturar valor de cada um.
Mas esses três tipos de programa não são suficientes para você fazer sua escolha. Veja alguns critérios que podem estar em todos eles e que você deveria pensar para escolher se o seu objetivo primordial for desenvolver uma empresa de sucesso.
Alguns Critérios para escolher o programa de aceleração
Os critérios intuitivamente usados pela maioria dos empreendedores são: valor do investimento, proximidade geográfica, recomendação de outros empreendedores, popularidade do programa. Todos esses podem ser válidos, mas vamos apresentar mais alguns que impactam seu objetivo de desenvolver uma empresa de sucesso mas comumente são esquecidos ou desconhecidos.
Equity
Qual o percentual de participação na sua empresa que este programa terá? O valor absoluto pode não significar muito. Ele deve ser considerado frente às contribuições tangíveis que esse programa pode oferecer: rede de contatos, valor do investimento, dedicação da equipe de aceleração ao desenvolvimento do negócio. É importante conhecer todas essas contribuições e comparar com alternativas que você tem no mercado para isso. Dependendo do seu estágio de desenvolvimento esse percentual não poderá ser definido pela valoração da empresa. Em um levantamento feito por nós encontramos programas que pedem 3,5 a 30% de participação. Lembre-se que esse é só seu primeiro round de investimento.
Como vem o investimento
O valor oferecido pelo programa pode vir em forma de investimento financeiro ou econômico. Nenhum deles é melhor a princípio, tudo depende de que você precisa e qual sua estratégia de desenvolvimento. Mas não adianta um programa oferecer 500 mil reais em bolsas para contratação de equipe se você precisa agora validar o seu modelo de negócio.
Outra pergunta importante relativa a isso é como vem o investimento no sentido de estar “amarrado” em rubricas ou não, por exemplo. Ou quando ele vem, já que em alguns programas o recurso pode demorar a “cair na conta”.
Processo de aceleração
Nem todos os programas vão te acompanhar de perto. Se você precisa de ajuda para empreender, principalmente nas fases iniciais. Um processo de aceleração sistemático vai te ajudar a focar, estabelecer prioridades, metas e terá mais interação com gente experiente para te ajudar. Em geral isso tende a acelerar mais do que dinheiro, principalmente nos estágios iniciais do negócio.
Conhecimento da equipe de aceleração
Quem vai apoiar o seu negócio tem conhecimento sobre o seu mercado? Ou tem experiência com seu tipo de empresa (ex: tecnologias que nascem no laboratório da universidade podem não se adaptar aos tempos e processos tradicionais das aceleradoras).
Rede de contatos da equipe da aceleradora no seu mercado
Depois do modelo de negócios criado e validado, do produto desenvolvido. O grande desafio das empresas é entrar no mercado. Clientes podem valer mais que investimento financeiro. Assim, a rede de relacionamentos de toda a equipe do programa conta. Procure saber que tipo de empresa já interage com o programa e quais outras startups foram aceleradas e pra quem elas vendem, por exemplo.
Estágio do Negócio x Proposta do Programa
O programa pode oferecer benefícios maravilhosos, mas se ele for focado em outro estágio de desenvolvimento, provavelmente você não será selecionado e poderá perder tempo e se frustrar com o processo de seleção. Mesmo que consiga passar, você pode não estar pronto para aproveitar todos os benefícios. Por exemplo, se um programa oferece entrada no mercado, você precisa estar pronto para escalar o produto, e escalar prematuramente é um fator conhecido de fracasso das startups.
Visibilidade
Programas públicos e institucionais podem ser ótimas formas de ganhar visibilidade, eles recebem muita atenção da mídia. Mas você precisa aparecer para o seu cliente, não para outras startups ou para qualquer pessoa. Empresas B2C se beneficiam bastante desse tipo de visibilidade.
Acesso a investidores
Tenha em mente quais caminhos seu negócio podem seguir. Em geral, você precisará de investidores na hora de escalar, e o programa pode te ajudar a criar um relacionamento com eles para a hora que chegar esse momento. Mas atenção: com que tipo de investidor o programa interage? Porque você pode não fazer parte da tese de investimentos de nenhum deles.
Localização geográfica
A melhor localização para o seu negócio pode não ser a mais próxima de você. Estar mais perto dos seus clientes ou investidores pode fazer muita diferença nessa fase.
Nesse ponto é importante pensar grande. Se você fez seu dever de casa e está disposto a criar um negócio internacional, procure o melhor programa dentro ou fora do país! Procure conhecer programas internacionais e veja que Europa e Estados Unidos estão repletos de programas muito focados, que podem se encaixar direitinho com o que você precisa e se sua oportunidade for boa e o inglês ok (ok é diferente de perfeitamente fluente) você já vai chamar atenção deles.
Faça seu dever de casa, pense o que é estratégico pra você, defina uma visão ousada de longo prazo e não deixe de trabalhar nela no dia-a-dia, gerando resultados para relatar. Lembre-se que nenhum programa é perfeito, então se informe e construa expectativas realistas para não perder tempo com frustração e reclamação.
Por fim, pense o que você busca e o que está disposto a abrir mão (equity, ficar longe da família, alguns apertos financeiros, sócios…). Mas não se esqueça: se você tem um bom projeto em mente ( com um grande mercado e diferencial tecnológico) e um time empreendedor forte, provavelmente estará em posição de escolher.
Referências e links:
Programa SEED — Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development
Programa da Câmara de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha
Startup Farm
Ace
Ginga