Porque falhamos em executar os negócios

Bizcool
5 min readSep 14, 2016

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Dizemos que nos dias de hoje ideias são commodities e o que importa mesmo é tirá-las do papel e executá-las rápida e eficientemente. Quem conseguir executar bem uma ideia inovadora terá mais chance de sucesso, mesmo que não tenha sido o primeiro a trabalhar nela.

No Brasil, o problema tem sido colocar a mão na massa. Empreendedores travam, procrastinam, dispersam, ficam inseguros, erram e não aceitam seus erros, têm medo do que as pessoas vão dizer etc. São muitas as razões para falharmos na execução. Vamos explorar um pouco uma delas hoje: não saber o que fazer.

É normal que a gente não se comporte por não entender o que fazer em um ambiente novo. Para alguém que está começando, sair por aí “realizando seus sonhos” pode gerar um sentimento de “arriscar seus sonhos”. Então podemos questionar que se o empreendedor corre riscos, talvez essa pessoa não seja empreendedora e ponto.

Na verdade, o empreendedor corre riscos sim, mas depois de mapeá-los e de avaliar sua capacidade de mudar o ambiente. Se ele não sente que pode ser o principal responsável por reverter situações de riscos; se ele sente que depende de alguém e que tem pouca influência sobre essa pessoa, por exemplo, o empreendedor tende a não engajar nesse caminho.

Para quem está vendo de fora o empreendedor pode parecer um aventureiro, correndo grandes riscos. Mas para o empreendedor, que está imerso dentro de um contexto, conhece seu histórico de realizações (sabe do que é capaz), conhece a rede de relacionamento que pode mobilizar para pedir ajuda, e consegue perceber mais variáveis do ambiente do que quem está de fora, esse risco é bem menor, é um “risco medido” ou “calculado”. Por isso temos uma grande distorção entre o que é um risco para o empreendedor e o que é um risco para quem observa ele em sua trajetória. Não podemos cobrar de um empreendedor iniciante que ele corra os mesmos tipos de risco.

Um empreendedor que conhece o seu ambiente corre riscos calculados.

Voltando ao empreendedor de primeira viagem, depois que ele tem a ideia, ainda precisa entender como o ambiente em que vai atuar funciona. Assim, empreendedores que criam negócios relacionados a cadeias de valor onde já atuaram profissionalmente, têm maior probabilidade de executarem bem seus negócios. Ele também precisa entender que é o centro das decisões e que não pode depender de ninguém para que seu negócio aconteça. Precisa aprender a construir caminhos que não estão mapeados, que está mudando a forma de se ver.

Esse é um processo normalmente longo por ser muito intuitivo e pouco consciente. Cheio de falhas, cada falha é a chance para concluir que “isso não é pra mim”. O quanto ele acredita na sua ideia e o quanto foi bem sucedido em persistir em outras ideias no passado vai dizer se ele vai ou não “desistir”.

Por isso, falhar em executar novos negócios por não saber como se comportar em um ambiente empreendedor é tão recorrente em um país onde aprendemos a trabalhar em grandes empresas, em ambientes e negócios já mapeados. A seguir planejamentos estratégicos feitos top-down, a trabalhar dentro de funções e responsabilidades previamente descritas.

As metodologias de estruturação de novos negócios que estão disponíveis hoje em dia ajudam muito nesse processo. Elas quebram um longo caminho em partes menores, iluminam um caminho escuro e muito imprevisível.

Mais especificamente, elas descrevem o passo-a-passo e o que deve ser alcançado em cada etapa (mesmo que falhem em descrever o como fazer, o que é outro entrave). Assim, o empreendedor tem a oportunidade de avaliar seu risco e sua capacidade em cada pequena parte do processo, e a medida que segue nessas etapas, ele aprende sobre seu ambiente e sua própria capacidade de domínio sobre ele.

Isso acontece porque na nossa cultura o comportamento é fortemente influenciado por regras. Não estamos falando de regras morais, mas descrições explícitas ou implícitas de como as coisas funcionam no mundo. São poucas as ocasiões onde temos que “descobrir essas regras” (um intercâmbio entre países pode ser um bom exemplo disso). Vejam como as pessoas do interior possuem uma flexibilidade grande em lidar com o ambiente das grandes capitais depois que aprendem suas regras — elas desenvolveram a habilidade descobrir regras e operá-las, dando uma maleabilidade comportamental que realmente é uma vantagem na hora de empreender.

Portanto, metodologias e processos que organizam os passos para empreender fazem com que o empreendedor entenda o que deve ser feito e o porquê, avalie se é capaz e identifique os recursos que possui para realizar determinada etapa. Realizando, ele aprende muito e se sente cada vez mais capaz de controlar o processo e o ambiente para criar seu negócio e realizar seus sonhos.

Assim, uma educação empreendedora mais sistemática pode aumentar a probabilidade do empreendedor iniciante partir para ação mais rapidamente e de forma bem sucedida. Mas o que é essa educação mais sistemática?

Programas de aceleração em geral tendem a ser organizados em fases, e relativamente sistemáticos. Entretanto, nem sempre o empreendedor está focado em entender o processo e o que ele está aprendendo, ele possui metas de realização do negócio e elas passam a ser seu objetivo. Isso funciona bem para realizar o negócio, nem sempre funciona para extrair o melhor dele ou do empreendedor, pois deixa a cargo do acaso uma parte fundamental, que é a consciência do aprendizado que ele obteve. Saber descrever o aprendizado é fundamental para aumentar seu poder de atuação e sua probabilidade de sucesso em contingências semelhantes do futuro.

Processos que acontecem dentro das faculdades e universidades já são o contrário, é possível que o aluno entenda bem o que está passando e os mecanismos de controle do ambiente. Entretanto ele observa e realiza pouco seu potencial de transformação no ambiente. Além disso, o processo pode se tornar tão lento que o aluno perde a visão do todo.

No ambiente acadêmico é comum, as diversas disciplinas não conversarem entre si. Enquanto em uma ele aprende a criar um negócio, na outra ele aprende a gerir uma grande empresa, em cada um dos casos as premissas de tomada de decisão são extremamente diferentes, e quase nunca isso é explicitado, tornando o aprendizado confuso.

Aprender com o conteúdo disponível on line, como o que Steve Blank disponibiliza, pode permitir acesso a um processo sistemático, porém fazer isso sem disciplina e interlocução também não resolve nossas questões.

Apesar de ser uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento da cultura empreendedora, aumentando a probabilidade da boa execução, a educação empreendedora ainda é um problema importante a ser resolvido.

A Ginga tem feito grandes avanços em transformar nosso conhecimento sobre comportamento empreendedor e processos de aceleração de negócios em uma experiência única e sistemática de educação empreendedora, mas ainda há muito trabalho a ser feito e muita gente que quer ajuda para realizar seus sonhos.

Enquanto isso, é importante que os empreendedores de primeira viagem tenham consciência de seus processos e façam uma boa curadoria dos mecanismos de aprendizado que utiliza, combinando e extraindo o melhor de cada um, ganhando confiança para explorar seu ambiente de atuação e executar suas ideias de forma efetiva.

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