O assassinato de Júlio César

Giulio Roberto
7 min readMar 15, 2018

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Cena do Assassinato de Júlio César pelo pintor Vincenzo Camuccini

Após uma guerra civil contra seu rival político Pompeu Magno e sua subsequente vitória, Julio César, político e general, se torna ditador da república romana, conseguindo o título excepcional de ditador perpétuo pelo senado romano. Essa declaração por parte da magistratura e dos políticos da república fizeram com que diversos senadores, muitos deles antigos apoiadores de Pompeu (conhecidos como optimates), temessem pela instalação de uma tirania que levasse a queda da república romana, isso levou esse grupo político a elaborar o plano que mudaria a história do mundo, o assassinato de Júlio César.

Escalada para o assassinato

Após 4 anos de guerra civil, declarada entre a facção ‘’Populares’’, liderada pelo cônsul e general, Júlio César, contra a facção dos ‘’Optimates’’, liderada pelo também cônsul e general, Pompeu Magno e com a vitória dos Populares, a república romana se via em beiras de anarquia, tendo em César a única figura que poderia restaurar a ordem política. Sendo assim, ao retornar da guerra, César foi recebido pelo povo na capital romana, tendo recebido o a coroa de louros, porém seus tribunos (cargo político e militar na antiga roma) proibiram seu uso, já que ela estava destinada a realeza e aos deuses (dizem que César nunca se dissociou da realeza após este ato). Após isso, a acensão política foi rápida, César foi nomeado ditador e logo em seguida, ditador perpétuo, tendo recebido também o título de Pontífice Máximo ( Chefe da estrutura religiosa romana, sendo o nome posteriormente usado pelo chefe da Igreja Católica).
Apesar destes títulos somados ao clamor político e popular para que César fosse nomeado rei, este se recusava a aceitar a coroa, tendo a negado três vezes quando seu fiel general, Marco Antônio, oferecera o titulo a ele. Sabe-se que César mandou prender ou castigar qualquer cidadão que proclamasse publicamente césar como rei, tendo respondido, ‘’Sou César, não rei’’ ao senado quando a assembleia o convocou pelo título de rei. No entanto, apesar de toda honra pública e política que César agora gozava, ele ainda tinha muitos problemas com o poder político e tentava acumula-lo sem se associar com seus novos títulos, esse acumulo de poder levou antigos aliados de Pompeu, liderados por Marcos Júnio Brutus e Gaio Cassius Longino a se reunirem e decidirem pelo assassinato do ditador romano, esse grupo que posteriormente se denominava ‘’optimates’’, agora se declaravam como ‘’liberatores’’, ou no português, liberadores.
Os conspiradores se reuniram com cautela por diversas vezes para planejar a melhor maneira de se cometer o assassinato. Um sugeriu que o ato fosse cometido durante uma das habituais caminhadas do ditador, porém foi descartado por causa da presença dos guardas, outros sugeriram que o assassinato se desse durante as eleições, onde César andaria a frente de uma assembleia em meio a uma ponte, outra ideia foi de matar o ditador durante uma batalha de gladiadores, já que em tais eventos armas não chamariam atenção, por fim, o plano aceito foi de que o assassinato ocorreria durante a celebração político-religiosa dos idos de Março, onde César estaria sozinho no senado e seria fácil esconder os punhais por baixo de suas togas.
No entanto, o descontentamento dos ‘’liberatores’’ se espalhava, o que levou os aliados de César a alerta-lo sobre algum tipo de conspiração. Sua esposa Calpúrnia, disse ao marido que havia tido uma premonição de que este seria morto nos idos de Março, porém, Decimus Brutus, um dos conspiradores que até o momento César pensava ser um amigo, disse ‘’Porque isso, ó César? Vai desrespeitar o senado e povo por causa dos sonhos de uma mulher?’’, isso levou César a tomar a decisão de ir a reunião na tarde do dia 15 de março de 44 A.C.

O assassinato

Na tarde do dia marcado para o crime, os ‘’liberatores’’ agendaram uma luta de gladiadores perto do senado, os gladiadores eram na verdades homens aliados ao grupo para defende-los caso a guarda de César conseguisse impedir o plano, Marco Antônio, que fora alertado por um senador que desistira do plano, Servilio Casca, de que o ditador seria assassinado no senado naquele dia, se adiantou e tentou acompanhar César até as escadas do complexo, porém os conspiradores interceptaram o ditador e levaram-no a uma sala adjacente ao senado, com a desculpa de que queriam que César ouvisse uma petição urgente.
Quando César entrou no senado, o senador Lucius Tilius, ofereceu uma petição para que César perdoasse seu irmão que fora exilado no começo da ditadura, os demais senadores conspiradores ficaram em volta de César para oferecer suporte a Tilius. César tentou abrir caminho quando Tilius puxou sua toga, César então gritou ‘’Isso é violência!’’, neste momento o senador Casca puxou sua adaga e enfiou na garganta do ditador, que se virou e gritou ‘’O que está fazendo Casca, seu maldito?’’, Casca por sua vez chamou por ajuda e todos os conspiradores começaram a atacar César que tentou correr, porém gravemente ferido, caiu com os senadores continuando a esfaqueá-lo. No total, mais de 60 conspiradores atacaram César, que foi esfaqueado 23 vezes, um doutor que examinou o corpo posteriormente, alegou que apenas uma das facadas tinha condições de matar o ditador, deduzindo que César morrerá de hemorragia e não pelos golpes (esse é o primeiro registro de uma autópsia com relatório post-mortem na história).
Não se sabe quais foram as últimas palavras de César, a versão mais aceita é que ele cobriu a cabeça com sua toga quando viu que seu filho adotivo, Brutus, estava junto dos conspiradores. Os ‘’liberatores’’ tentaram explicar aos senadores presentes que não eram parte do plano o que havia acabado de ocorrer, porém a grande maioria havia fugido, restando alguns poucos assustados demais para dar ouvidos aos conspiradores, logo estes saíram pelas ruas conclamando o povo para apoia-los, porém foram recebidos com hostilidade e perceberam que apesar do assassinato ter sido bem sucedido, o golpe político fracassara, assim deixando Roma rapidamente antes que qualquer autoridade pudesse prendê-los.
César ficou no chão por vários minutos, até que três de seus escravos o resgataram e levaram o corpo para casa, posteriormente uma enorme procissão fúnebre foi organizada pela população e pelos apoiadores de César. No meio de toda desordem gerada pelo grande número de pessoas, um enorme incêndio se iniciou matando várias pessoas e destruindo vários quarteirões da área adjacente ao senado.

Consequências do assassinato

Apenas dois dias após o crime e a cerimônia religiosa, Marco Antônio conclamou o senado e o povo a caçarem os assassinos de César, também visando assumir politicamente o poder em Roma, porém, foi surpreendido com o testamento de César que deixava seu poder político para o sobrinho neto, Otávio, que estava longe de Roma na época, no entanto navegou rapidamente para a capital quando soube da herança do tio, onde conseguiu apoio da grande maioria dos partidários de César.
O que se deu a seguir foi uma série de grande guerras civis, a primeira foi para vingar a morte do ditador, Otávio, Marco Antônio e Lépido, um general de confiança de César, formaram o segundo triunvirato (uma aliança política onde o poder máximo era dividido entre três pessoas) e combateram os ‘’liberatores’’ que virtualmente acabaram derrotados, a grande maioria deles foi morta em combate ou acabou por cometer suicídio após a derrota na guerra, jamais esperando que o seu plano de salvar a república fosse ser o motivo de sua destruição.
Após a derrota dos ‘’liberatores’’, Júlio César havia sido considerado uma divindade pelo governo romano, logo, Otávio que já era considerado como filho de César, tendo mudado seu nome para Gaio Júlio César Otaviano, era agora considerado também como herdeiro divino, ou como era chamado, ‘’filho divino’’, essa grande influência do sobrinho neto do ditador levou Marco Antônio a se afastar para sua província no Egito, se casando com Cleópatra VII, rainha do Egito e antiga amante de César. Ao passar por um período de curta paz, Otávio e Marco Antônio se encontrariam para uma última guerra civil que decidiria quem iria deter o poder máximo em Roma, no fim, Otávio derrotou Antônio na batalha de Áccio, levando este a se suicidar juntamente com a rainha egípcia posteriormente.
Otávio retornou a roma e restabeleceu a república, até mesmo perdoando alguns dos apoiadores dos ‘’liberatores’’ e de seu antigo rival, Antônio. No decorrer do tempo, Otávio foi acumulando diversos títulos vitalícios, se tornando assim como seu pai adotivo e tio avô, ditador vitalicio.
Assim a república foi se moldando ao poder exercido por Otávio, que recusara títulos monárquicos, porém aceitou ser tornado em ‘’principex civilis’’, ou, primeiro cidadão de Roma. Esse período é conhecido como Principado Romano e viria a ser a semente do que se tornaria o maior império da história, o império romano, cuja qual Otávio se tornou imperador em 27 A.C, com 36 anos de idade, agora sendo chamado de César Augusto, o divino, reinando até o ano de 14 D.C, morrendo aos 75 anos.

Representações na história e na cultura

Desde o momento em que o assassinato ocorreu, este foi motivo de diversas obras literárias, teatrais, musicais e também uma lição de comportamento político. No decorrer da história diversos historiadores e escritores fizeram referencia ao assassinato de César, nomes como Suetônio e Plutarco escreveram sobre este, grandes dramaturgos como William Shakespeare, Thornton Wilder e Lord Byron escreveram obras se baseando nos eventos do 15 de Março de 44 A.C, posteriormente, diversos filmes e séries vieram para representar o acontecimento, suscitando debates sobre história e política.
A importância do assassinato de César é indiscutível na história mundial, já que ele é o ponto de ruptura entre a república romana e o maior império da história, o império romano, implicando todo legado cultural, político e social deixado pelo último.

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Giulio Roberto

23 anos Estudante de direito, amante da história, marinheiro civil, músico e estudante de línguas.