O Homem Cordial
Paulo Miklos, desde a sua estreia no cinema, com O Invasor (Beto Brandt, 2001), chama a atenção com personagens desajustados e peculiares, mostrando liberdade para transitar entre a comédia e o drama. Em O Homem Cordial, de Iberê Carvalho (O Último Cine Drive-in, 2015), ele é Aurélio, um músico que enfrenta as consequências da cultura do cancelamento e do linchamento virtual.
O filme começa com uma apresentação que marca o retorno da banda de Aurélio, famosa nos anos 80, porém a recepção por parte do público não é a das melhores. Fica claro, desde o começo, que a hostilidade destinada ao músico vem de um incidente que culminou na morte de um policial e que um garoto menor de idade chamado Mateus (Felipe Kenji) estava envolvido.
Aurélio tenta se desvencilhar dos ataques, mas se vê em busca de Mateus, que está desaparecido desde o incidente. Aos poucos, o espectador é conduzido a uma rede ligada por elementos da realidade brasileira: racismo, preconceito social, alienação e violência policial. Tudo isso, porém, antes do filme revelar o que, de fato, culminou nessa situação.
Paulo Miklos, mais uma vez, brilha na tela e lidera o elenco afiado que nos apresenta à trama. Ao longo da história, Aurélio conhece militantes que lidam diariamente com a indiferença direcionada aos menos afortunados e com a realidade da cidade de São Paulo, tão invasiva o tempo todo. Ele se vê de frente com a desigualdade escancarada sem o menor pudor e, nas suas limitações, tenta fazer a diferença.
Iberê Carvalho constrói um retrato incômodo da vida urbana, sem meias-verdades, mas com situações corriqueiras. Aurélio e Mateus são personagens, mas podemos encontrar seus similares todos os dias, em cada esquina.
O Homem Cordial foi premiado em Gramado e em Barcelona e chega aos cinemas pela O2 Play, distribuidora que faz parte do grupo O2.
Texto publicado originalmente no site Cinema de Buteco.
