O estranho costume de ficar sem demonstrar interesse
Outro dia, eu conheci um cara por acaso. Trocamos contato e, após dias de muita conversa cheia de malícia, via whatsapp, marcamos um encontro. Estava bem claro que um tinha interesse no outro e que ia rolar, pelo menos, uns beijinhos.
De repente, ele parou de responder.
Obviamente, eu me perguntei o que poderia ter causado o seu afastamento.
É muito importante dizer que quando você mete um ghosting (se afasta de uma pessoa para quem você, supostamente, demonstrava interesse ou com quem se relacionava), deixa para a pessoa um vasto campo para imaginar o que pode ter acontecido, inclusive culpar a si mesma.
Enfim, seguimos.
Quando retomamos contato e voltamos a combinar um encontro, eu achei melhor perguntar algo que estava me intrigando: se ele tinha sumido porque eu disse que estava ansiosa para o nosso encontro. Inacreditavelmente, ele disse que sim, que isso o fez se sentir um pouco desconfortável.
Pelo amor dos deuses, eu não disse que o amava ou que queria casar com ele, nem mesmo demonstrei interesse em ter um relacionamento sério, eu apenas quis demonstrar que estava contente porque íamos nos encontrar e isso foi o suficiente para paralisar o rapaz. Então, o que é permitido ou esperado nas relações de hoje?
Não se pode fazer um carinho, demonstrar afeto, nem interesse, então por que eu ficaria interessada em ter algo com alguém?
O medo ou a escolha por não engatar um namoro está transformando as pessoas em robôs que só marcam encontros superficiais e, diante de qualquer demonstração de afeto, elas fogem como se estivessem com medo de um monstro que as persegue. Não sou contra o sexo casual, aliás, contanto que seja consensual, eu não sou contra quase nada, mas existe uma diferença em não ter nada sério e marcar encontros mecânicos. O que há de assustador em um encontro para conversar, beber e comer? Isso não acarreta um casamento.
Me incomoda muito que o status de casual tenha se tornado sinônimo de falta de carinho e afeto. Se for pra ser tratada com indiferença, pra que eu sairia de casa? Demonstração de afeto não faz de ninguém mais fraco ou vulnerável, apenas torna todo o lance muito mais gostoso.
Tenho a impressão de que boa parte dos homens que se relacionam com mulheres acreditam que elas estejam o tempo todo atrás de alguém com quem firmar um compromisso, mas eu tenho uma surpresa, rapazes: não é bem assim.
Para esse cara que se sentiu acuado quando demonstrei interesse, eu escrevi um “textão” explicando que não estou atrás disso, que queria apenas curtir um momento com ele, saindo, indo a um bar e, talvez, esticando a noite. Ele me bloqueou. rs Não levei para o lado pessoal, mas confesso que fiquei um pouco confusa. Se eu não posso demonstrar interesse e nem indiferença, é pra fazer o quê? Esses homens estão lidando com seres pensantes, mas aparentemente não é essa a vontade deles.
Comecei a conversar com um cara por aplicativo de relacionamento. A conversa estava boa, ele todo “amorzinho” e tals…Até que eu fiz o impensável: o convidei para ir a um bar. Horas depois, recebi uma mensagem explicando que era melhor a gente não se encontrar porque eu aparento ser muito carente (???) e que ele não estava no clima de passar pela BUROCRACIA de ir a um bar e conhecer alguém.
Dessa vez, confesso, fiquei um pouco chateada. Não pelo cara, mas porque eu jamais imaginei que ir a um bar e me conhecer pudesse ser visto como “muita burocracia”. Pior ainda, deixou bem claro que o cidadão não estava nem um pouco a fim de ter a minha companhia ou de me conhecer.
E então, o que fazer? Eu, particularmente, acho bem difícil ter qualquer tipo de relação amorosa em 2022. Parece que tudo o que fazemos tem que ser limitado. Tem que gostar com limite, demonstrar interesse com limite, ser amável com limite. Eu não quero limitar meus sentimentos, quero gostar, amar, gozar e aproveitar ao máximo e, mais ainda, mostrar tudo isso de maneira explícita porque eu acredito que o que deve ser escondido são somente os sentimentos ruins como raiva, ódio e inveja. Tesão, amor, carinho, simpatia e outras coisas boas, eu quero cada vez mais.
