Anísio Teixeira

Gregório Grisa
2 min readSep 1, 2019

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Uma das principais referências profissionais e políticas que tenho é Anísio Teixeira. Ele promoveu reformas importantes na Bahia e no Rio de Janeiro nas décadas de 20, 30 e 40 do séc. XX. Um pioneiro na reivindicação da democratização do acesso à educação pública, laica e gratuita.

Anísio era chamado de “amigo das crianças” por Jorge Amado. O escritor baiano usa essa expressão ao dedicar seu livro Capitães de areia ao educador conterrâneo. Teixeira cunhou a ideia política de que educação não poderia ser um privilégio, algo naturalizado na história do país.

Gilberto Freyre, Anísio Teixeira e Jorge Amado, em 1961

Teixeira foi uma voz dissonante em relação as reformas da década de 1930, as quais entendia ainda elitistas. Dos primeiros a propor que o ensino secundário fosse menos enciclopédico e mais prático. Inspirado em John Dewey, pensava em um ensino integrado e vinculado a vida dos jovens, que realmente materializasse a dialética entre filosofia e saberes do cotidiano.

Junto de Fernando de Azevedo, Anísio foi o mentor do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova de 1932, documento que esta para educação como a Semana da Arte Moderna de 1922 está para a arte. O manifesto teve apoio de Cecília Meireles e outras personalidades da época.

O manifesto inicia dizendo que “na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação.”. Ele se faz muito atual em vários aspectos e é de leitura fundamental para que pensa a educação e apolítica. Notem a passagem abaixo.

“Nessa superficialidade de cultura, fácil e apressada, de autodidatas, cujas opiniões se mantêm prisioneiras de sistemas ou se matizam das tonalidades das mais variadas doutrinas, se tem de buscar as causas profundas da estreiteza e da flutuação dos espíritos e da indisciplina mental, quase anárquica, que revelamos em face de todos os problemas”.

Anísio foi considerado “comunista” pelas duas ditaduras que viveu (Vargas e dos militar). Ele dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, hoje o INEP, que leva seu nome. Foi também o criador e primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES).

Em 1964 teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar. Anísio Teixeira foi um grande brasileiro. Morreu em 1971 em circunstâncias até hoje não esclarecidas. Muitos advogam que faleceu enquanto era torturado e que a cena do fosso do elevador onde seu corpo foi encontrado teria sido armada.

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Gregório Grisa

Doutor em Educação e Pós-Doutor em Sociologia pela UFRGS | Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul