Nas garras de T’Challa
Meu objetivo nesse blog é escrever somente sobre HQs, mas uma frase de um amigo me fez refletir e escrever esse texto.
Poucos dias antes de assistir Pantera Negra, vi um vídeo curto que o amigo Dennis Cunha havia postado em seu Instagram dizendo: “Eles estão assistindo o meu filme!”. Ele se referia aos brancos que estavam na sala de cinema assistindo a um filme de elenco majoritariamente negro. E uau! Eu sou um desses que estavam assistindo um filme que não é meu!
Vi diversos argumentos sobre a importância desse novo filme da Marvel, mas nessa frase é que eu consegui não só entender, mas até entrar no cinema de uma forma diferente. Não é o meu filme, e isso é ótimo! Os ritmos não são meus, as roupas não são as minhas, e a cultura não é a minha, e isso é ótimo!
O real objetivo em tudo em que escrevo é estourar a bolha para que não leitores de histórias em quadrinhos possam entrar nesse universo, e o que o filme dirigido por Ryan Coogler (Creed) faz é estourar a bolha de que um filme hollywoodiano pode ser sobre a cultura africana.
Não importa o quão ignorada ela seja, nem mesmo “quando tolos criam muros”, parafraseando o protagonista, “devemos criar pontes”.
Sobre muros nos lembramos de imediato de Donald Trump, mas quero levar para o gate (portão, em inglês), especificamente para o movimento Comicsgate. Enquanto vemos o sucesso do filme já falado, vemos uma crescente de um movimento contrário nos quadrinhos norte-americanos.
Artistas como Ethan Van Sciver (Lanterna Verde e Flash) criaram um movimento para acabar com a diversidade e a inclusão, pois segundo este movimento isso estaria prejudicando a indústria de quadrinhos.
Dado o exemplo do tolo que quer criar muros, vamos falar da ponte. Se o grande mal é a diversidade e a inclusão, por que Pantera Negra teve umas das maiores bilheterias de abertura da história(192 milhões de dólares)? Por que Miss Marvel (a muçulmana Kamala Khan) possui criticas tão boas?
O grupo de Van Sciver precisa entender que o Capitão America de Sam Wilson não é dele, como Pantera Negra não é o meu filme. Quando vemos um herói queremos ser ele, voar como o Homem de Ferro, ser forte como o Thor, mas o Comicsgate, o racista, o preconceituoso quer os brinquedos só para ele e quando encontra algo diferente quer destruir.
Não posso estar na pele de T’Challa ou Killmonger (Michael B. Jordan), e esse não é meu objetivo. Somente quero que se crie mais pontes, nos tirando desse mundo de pensamentos vazios e nos levando para um mundo onde haja a convivência de todos, seja aqui, seja em Wakanda.
Deixo aqui algumas recomendações sobre os assuntos abordados:
- Para entender melhor o Comicsgate, leia o texto do Terra Zero e do Minas Nerds.
- Para ter uma boa resenha de Pantera Negra, leia o texto da Isabelle Felix.
- Para um contexto sobre a criação do Pantera Negra, leia o texto do Nexo Jornal.