Armário.

Gustavo Assis
5 min readJan 24, 2017

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E foi aqui que muito do texto se passou…

Por anos, aceitei o pouco amor que eu jurava merecer.

Para mim, que um dia acreditou que a própria existência fosse errada perante a sociedade, e me sentia tão inferior por isso, aceitei que as poucas migalhas de sentimentos que me davam, eram o suficiente para ser benquisto por aqueles que eu, de certa forma, aprendi a amar.

E quando amamos alguém, temos medo de perder. E foi abraçando esse medo, que me condicionei a reprimir quem eu era, para ser aceito por eles.

Um ciclo vicioso, em que minhas emoções eram sufocadas, mas o que importava, eram os julgamentos e valores externos que me foram passados.

Eu vivia preso naquilo, porque era importante pra mim estar ali dentro e receber em troca o que eu considerava aceitação (reforço, proveniente do outro) mesmo que para isso, eu não aceitasse o que de fato, eu sou.

Dentro de diversas imposições criadas em minha mente, talvez como forma de bloqueio para que nunca fosse desmascarado e assim rejeitado pelos quais eu julgava serem superiores, absorvi em mim preconceitos, e dos preconceitos vieram os espelhos, na busca de alguém que vivesse da mesma maneira: discreta, desconfiada, e prepotente. Era uma forma de mascarar minhas inseguranças.

Era horrível, porque todo o sentimento que eu escondia, gritava aqui dentro. Ele queria sair, e a luta era constante, assim como o medo de saberem de sua existência.

A vida é uma caixinha de surpresas, mas pra quem vive preso, ali dentro do armário, ela é um grande retângulo, onde você vai enchendo de sentimentos fortes, como tristeza, insegurança… Mas um pouquinho de Esperança.

Por sorte, a Esperança que vivia ali, me acenou um dia.

Essa Esperança me fez procurar um refúgio lá fora. E foi assim, que tentando esconder dos outros sentimentos que ali habitavam, a minha relação com ela, que fui procurar ajuda num lugar chamado internet.

Eu sabia que a limitação da minha cidade estava além do tamanho de sua população, já para a internet, o limite é além.

Cada viagem pelas zonas da internet, eram uma busca constante por pessoas que vivessem, ou se identificavam com o que eu era e passava. Mas, pouco a pouco, eu fui as encontrando.

Essas pessoas, as quais até hoje mantenho contato, me ensinaram muito. Mas o mais importante, é que elas disseram que existia um caminho com a chave pra me destrancar daquele armário.

Havia um medo: mesmo com a chave, eu conseguiria estar seguro fora dali?

Para saber a resposta eu apenas precisei ver o que essas pessoas me mostraram: a liberdade e felicidade de ser quem são.

E se o mundo lá fora, não me aceitasse, elas me fizeram sentir seguro o suficiente ao dizer que estariam ali por mim, mesmo que de longe, me dando forças.

Pouco a pouco, a insegurança, o medo, e outros sentimentos negativos que eu carregava comigo, perdiam um pouco de força. Já a Esperança, que indicava que algo podia mudar positivamente, ficava cada vez mais forte.

Com tudo que fui aprendendo, consegui entender que viver sob as regras que a sociedade limitada que me cercava e (teoricamente) restringia, eram linhas imaginárias e que eu poderia quebra-las facilmente, assim como podia ir além.

Quando tive oportunidade, caminhei para conhecer pessoalmente as pessoas que me ensinaram que eu podia me amar como eu era, e com isso, fui me afastando daqueles que me faziam sentir mal por julgarem errado qualquer coisa com o qual eu me identificasse.

Como é bom estar ao lado de quem me soma e não me diminui.

Foi assim, que pouco a pouco, e entre outros detalhes que ocorreram no meio desse caminho (citados nos meus outros textos), eu já estava confiante de que não havia mais para que esconder, e pude quebrar as correntes do meu armário.

Compartilhar com a minha família, o orgulho de ser o que sou, gay, sem medo do que poderia acontecer a partir dali, foi sair desse armário. Um ato de libertação, do qual em momento algum eu me arrependo.

Talvez eu seja uma pessoa com sorte, mas a reação da minha família foi positiva, ainda que hoje tenhamos um pouco de dificuldade de sermos naturais ao tratarmos deste assunto. Mas sinto que pouco a pouco, essa história vai entrando no eixo.

Sei que cada pessoa tem o seu tempo. Alguns ainda se perguntam: “mas se um hétero não se assume, porque eu devo me assumir?”

Acontece que vivemos numa sociedade homofóbica, onde como disse acima, nós gays, vivemos em condição de julgamento inferior, e se não nos unirmos e mostrarmos orgulho de ser quem somos, talvez essa realidade dificilmente mude.

E é também por isso, que é tão importante que nós, gays, nos libertemos dos preconceitos que existem dentro da comunidade, principalmente em relação as demais letras que formam a sigla LGBT (e tudo que ela engloba), além de lutarmos para que a cultura machista na qual estamos todos inseridos, onde na relação heterossexual há a inferiorização da mulher, o homossexual afeminado também não seja tratado como o fraco de uma relação.

E para quem estiver lendo isso, e se indagando quanto a outros pontos em se assumir, sejamos realistas sobre o principal:

Viver no armário, é se privar de ser quem você é. É colocar outras pessoas em primeiro lugar na sua própria vida e reprimir o que você sente.

Você merece mais do que isso. Você merece se amar e ser amado.

Apesar de tudo aqui escrito até então, entendo que exista um dos pontos mais difíceis para alguém que vive dentro do armário, a questão familiar. E para esses, o meu recado é…

É difícil escrever para quem vive dentro de uma família preconceituosa, para aquele que se assumiu e foi expulso de casa, para aquele que sofreu abusos psicológicos e físicos, mas eu te peço que não deixe de lutar pelo que acredita e jamais se sinta culpado por ser o que é. Infelizmente, você é vítima de uma sociedade que não entendeu ainda, que ninguém escolhe sofrer preconceito, ser motivo de chacota e viver uma vida com traumas que dificilmente cicatrizam.

Como acredito que família, são as pessoas que nós escolhemos, espero que encontre em seu caminho, pessoas que possam te acolher, portanto cative nelas o amor que quer receber.

Você não precisa de pai, mãe, irmãos ou qualquer pessoa te dizendo o que você é ou não, só porque eles tem seu sangue.

Entenda: você é a pessoa mais importante da sua vida. E as escolhas devem ser suas, portanto, escolha aqueles que te amam.

E por fim, não continue se mantendo condicionado a amar pessoas que não te querem bem, só porque elas não conseguem entender o que você é. Porque você é alguém que merece ser amado! Todos nós merecemos. ❤

Caso tenha chegado nesse texto, e alguma dúvida ou medo ainda te assombre, não fique receoso de me procurar. Estamos juntos nessa, me adicione no Facebook, no Twitter, ou me envie um e-mail. Espero poder ajudar!

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