Rejeição.

A vida é uma eterna competição.

Gustavo Assis
5 min readJan 16, 2016

Desde o primeiro momento, em que éramos apenas um espermatozóide, batalhando contra inúmeros outros pra vencer e ser o primeiro a fecundar o óvulo.

Nascemos, crescemos e desde pequenos, no ambiente familiar, competimos com os irmãos e primos, quem será aquele favorito da mãe, do pai, tios, avós, etc. E isso se estende a educação, onde também somos incentivados desde o pré-escolar a competir com os coleguinhas.

Só não vale trapacear, porque isso é sujo. Se errar, irão te criticar, porque você tem que ser (o mais) perspicaz. Se for o pior, se sentirá mal, porque ninguém quer se sentir inferior aos outros. Mas como dizem, o importante é competir.

Com o tempo, o jogo da vida, vai te ensinando que pra não se sentir inferior, é melhor esconder suas fraquezas (que não são exclusividades suas, afinal todos temos), mesmo sabendo que elas estarão ali.

Rejeita-las, parece mais fácil, assim não terá que enfrentar situações que te ponham em risco de critica externa, dar motivos para outras pessoas zombarem de você, e por fim, você passa a acreditar que será aceito pelos demais, contanto que vejam apenas o seu melhor lado.

Essas rejeições, que você preferiu esconder, são como pequenas sementes, que plantamos em alguma fase da nossa linha do tempo.

Assim como os anos passam, as sementes crescem. E chegará uma hora que elas crescerão tanto, que vão querer ultrapassar os vidros que cobrem o seu jardim.

Assim funciona a sua rejeição.

Durante minhas sessões de terapia, após longos desabafos, costumava ouvir da minha psicóloga, a seguinte pergunta:

"Porque você não se aceita?”

Há todo um contexto por trás dessa pergunta. Mas o que me fez escrever sobre isso hoje, é entender o quanto eu estava errado, achando que me aceitar, era simplesmente mostrar para as pessoas, o que eu queria que elas vissem ou soubessem de mim.

Com o tempo, passei a projetar nas pessoas, as minhas inseguranças. As rejeições que moravam em mim, iam juntas. E é isso que costumamos fazer, nas nossas relações com os outros, quando não nos aceitamos.

Nessa eterna competição chamada vida, passei a querer ser aceito, ouvindo o que as pessoas cobravam de mim, e eu queria provar para elas que eu era capaz, mesmo que no fundo, não me importasse realmente com isso, e estivesse rejeitando o que sinto.

Uma pauta em que muitos costumam se identificar é a do relacionamento afetivo com outra pessoa.

Quando vemos um círculo de amigos namorando, e estamos solteiros, passamos a achar que aquilo, é um problema nosso. Deixamos nossa autoestima a relevo, e aí, na primeira oportunidade, aceitamos a migalha de sentimento que alguém possa oferecer.

Fazemos isso pelo fator comparação. Pra não nos sentirmos inferior aos amigos que "conseguiram" (se eles podem, porque eu não?). E mesmo que essa relação não te faça bem, você tenta provar para si mesmo, que aquilo pode mudar, que você vai conseguir conquistar aquela pessoa, que talvez no fundo, possa estar em outra.

Você só não quer perder. Perder aquilo que talvez nem tenha. Afinal, já imaginou ter que explicar pra todo mundo, porque mais uma vez não deu certo com alguém? Se sentir rejeitado mais uma vez…

Enquanto projetarmos nas relações, independentes elas de quais tipos sejam, as nossas rejeições e inseguranças, estaremos errando.

Não é correto criar expectativas em coisas/pessoas, que elas talvez não estejam dispostas ou preparadas para preencher. E se fizer isso, não vale culpar o outro, quando na verdade é uma projeção que é sua.

No dia 30 de dezembro de 2015, eu assisti esse vídeo maravilhoso, que me abriu caminhos pra escrever esse post. Portanto, há aqui algumas referências.

Querer estar com alguém, só porque seus amigos já encontraram um par, é como ir a feira e comprar jaca, que você não gosta, só porque seu amigo que ama jaca, encheu a cesta dele com uma.

Se a sua cesta está vazia e você ama maçã, porque não esperar e procurar um pouco mais lá pra frente, onde as maçãs ficarão mais bonitas e com o gosto ideal para o seu paladar?

Se algo, ou alguém não acontecer ou quiser entrar em sua vida, agradeça. O mundo te abre milhões de novas oportunidades para que descubra coisas maravilhosas que ele pode te proporcionar.

O fim de um ciclo, como relacionamento, será doloroso? Sim! Mas assim como um diamante com vários lados, podemos enxergar isso por outra faceta, como a do aprendizado.

A vida é um rio. Deixe ele te levar de forma pacífica, e se algo não der certo, não fique se culpando. Você não precisa nadar contra a corrente. O rio continuará te levando, e sempre te guiará pelo caminho certo.

Após tudo isso, consegui entender, a pergunta da minha psicóloga. E começo a enxergar uma forma de responde-la.

Se aceitar, mais que tudo, é aprender a enfrentar sua própria rejeição.

Tudo aquilo que você escondeu por anos, e não queria mostrar as pessoas, por medo do que elas pensariam.

Por que nos culpamos e sentimos que é tão errado, ser aquilo que somos, apenas para agradar pessoas, que no fim, não significam nada, quando nos comparamos ao que somos?

Sim, vamos ser um pouco mais egoístas nesse sentido. "Eu em primeiro lugar, sempre".

Trabalhe a autoestima, fazendo coisas que você gosta, desengavetando aquele projeto ou curso que por anos, você procrastinou, por medo do que as pessoas iriam achar se você os iniciasse, ou gastasse dinheiro com aquela (na opinião do outro) futilidade, mas que pra você, significa muito.

Renove o guarda-roupa. E se aquela peça que você sempre quis, estiver em seu orçamento, mesmo que parcelando, caso você tenha vontade, compre. Não se prenda por julgamento externo. Quando você usa-la, irá se agradecer por se permitir.

Isso também vale para aquelas roupas que você não usa mais, ou te trazem recordações ruins. Doe, personalize para parecerem novas, venda… Se não te faz bem, deixe ir.

O mesmo vale para pessoas. Se não te fazem bem, bloqueie, dê unfollow, apague fotos, exclua conversas, delete da agenda, remova do Snapchat, se distancie.

Você não precisa ser amado por todos, muito menos por quem só te faz se sentir pra baixo.

Se livrar de péssimas recordações é estar de bem consigo.

Se permita, livre de julgamentos. Isso é a resposta pra acabar com a rejeição. Isso é se aceitar. E como demorei pra entender isso.

Por fim, faça as pazes consigo mesmo, se ame muito. E só depois que tiver certeza, que a sua vida é mais importante que a de qualquer outra pessoa, quando surgir a necessidade, se abra para as possibilidades.

Certeza que saberá filtrar bem quem entrará em sua vida e se sentirá melhor, se porventura, não der certo.

Se você continuar fingindo ser o que não é, para tentar agradar alguém, continuará nadando contra o rio.

Se continuar escondendo as suas fraquezas e não trabalhando a sua baixo autoestima, será totalmente injusto entrega-las para que alguém (como um parceiro) as segure.

É como diria RuPaul: If you can’t love yourself. How in the hell you gonna love somebody else? (Se você não consegue amar a si mesmo. Como você poderá amar outra pessoa?)

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