Por que você deveria aprender a investir em ações

Guga Deschamps
8 min readMay 29, 2020

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Para quem está juntando um pouco de capital ou já tem alguma reserva de dinheiro, várias dúvidas eventualmente sempre acabam surgindo:

Qual a melhor forma de fazer o meu dinheiro render? Será que o meu dinheiro está rendendo o suficiente? Ou melhor ainda: será que o meu dinheiro está rendendo tudo o que poderia render? Como escolher o melhor veículo de investimento para o meu dinheiro para ele render mais? Qual a forma mais inteligente de eu investir meu dinheiro?

O mundo dos investimentos é complexo. Existem muitas formas para você aplicar o seu dinheiro.

De um lado você tem opções seguras e de baixo risco como a poupança, que é muito simples e fácil de aplicar, ou o Tesouro Direto, em que você precisa estudar um pouco mais como funciona, mas é extremamente seguro também.

Do outro lado você tem todas as possibilidades do mercado financeiro, em que você se permite arriscar, negociando empresas ou imóveis na bolsa de valores ou negociando mercadorias e derivativos no mercado futuro.

Risco e Retorno

Tudo na vida tem seus prós e contras: sabe aquele pastelzinho da feira? Pois então, é uma delícia comer aquele pastel. O problema é que toda a gordura usada pra fritar o pastel vai ter que ir pra algum lugar não é mesmo?

No mundo dos investimentos existe uma ideia muita parecida, um dos conceitos mais fundamentais, e que a gente chama de relação entre risco e retorno (na verdade é um tripé em que risco, retorno e liquidez se relacionam, mas vamos usar apenas duas dimensões nesse momento).

A relação entre risco e retorno diz que esses dois fatores são inversamente proporcionais: quanto mais seguro um investimento, menor deveria ser o seu rendimento. Ao contrário, quanto menos seguro (ou mais arriscado) um investimento, maior deveria ser o retorno. O que nos leva à conclusão de que para se conseguir obter um rendimento maior em algum investimento, é preciso correr mais riscos.

Seguindo essa lógica, a poupança tem risco baixo, baixíssimo, e um retorno baixo, baixíssimo. Já investir na bolsa de valores tem um risco maior do que a poupança, sem dúvida, mas o potencial de retorno também deveria ser maior.

Taxa de Juros

O Brasil sempre foi um País em que a taxa básica de juros historicamente foi alta. Os motivos são vários, mas um grande motivo é que o Brasil precisava usar uma taxa de juros alta para atrair investidores para comprar a sua dívida e tentar conter os efeitos da inflação.

Nos últimos anos, com a melhora gradual da economia do Brasil e a inflação sob controle, essa taxa de juros, a taxa Selic, que é uma taxa de referência na economia, tem percorrido uma trajetória de queda desde o início do Plano Real, em 1994. Fica fácil de visualizar essa queda através do gráfico a seguir:

Taxa Selic anualizada (%)

E não é só no Brasil que a taxa de juros vem seguindo essa tendência de queda. Desde a grande crise de 2008, no mundo todo os bancos centrais vem reduzindo a taxa de juros como um mecanismo para incentivar empresas a investirem mais, animar a população a gastar mais e tentar reacender suas economias.

E o que isso significa? Com esse mega ciclo de juros baixos, investimentos de renda fixa como a poupança e o Tesouro Direto, vão provavelmente render muito pouco.

Em 2012, o governo alterou o modelo de como a poupança rende, retirando o limite mínimo de 6% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial). Agora, quando a taxa Selic ficar abaixo de 8,5% ao ano, a poupança vai render apenas 70% da taxa Selic mais a TR.

E com a queda na taxa básica de juros, o rendimento do Tesouro Direto também vai ser impactado e provavelmente vai render muito pouco acima da inflação.

Poupança e Tesouro Direto vão virar lugares para estacionar o capital enquanto se procura por melhores oportunidades.

Não se pode negar que o rendimento acumulado de investimentos em renda fixa desde o começo do plano Real é fenomenal: se você tivesse investido seu dinheiro em produtos de renda fixa em julho de 1994, início do plano Real, você teria um rendimento composto de 1,4% ao mês (taxa nominal, sem descontar a inflação) até maio de 2020. Em comparação, se você tivesse investido em um fundo que seguisse o índice Ibovespa, o seu dinheiro teria rendido 1% ao mês.

Não parece uma grande diferença o rendimento entre 1% e 1,4% ao mês, mas temos que lembrar que estamos falando de juros compostos! Se você tivesse investido R$ 10 mil em renda fixa, ao final de 26 anos você teria acumulado R$ 920 mil. Já se tivesse investido esses mesmos R$ 10 mil na bolsa, você teria acumulado R$ 222 mil. Uma diferença muito grande.

A alta taxa de juros no Brasil acabou distorcendo a relação entre risco e retorno para investidores, que acabavam preferindo deixar seu capital na renda fixa, praticamente sem risco, ao invés de alocar recursos em ativos produtivos, como empresas, e consequentemente mais arriscados.

Uma Nova Realidade

No entanto, nos últimos anos, a realidade para quem procura investir seu capital é outra. Nos últimos 12 meses (de maio de 2020 para trás), a renda fixa rendeu 0,36% ao mês (juros compostos nominais) e a tendência continua de queda.

Se você quiser que o seu dinheiro renda alguma coisa, você vai precisar buscar ativos com maior risco. E é aqui que entra a bolsa de valores: a bolsa é o próximo passo lógico para aportar capital.

A bolsa de valores é um negócio super interessante para quem quer investir de forma descomplicada. Isso parece contra-intuitivo mas veja só:

Custo de Entrada

O custo de entrada na bolsa é pequeno. Abrir uma conta em uma corretora hoje não tem mais custo nenhum. O processo é todo online. Ações são frações do capital de empresas, então você pode construir sua participação aos poucos.

Diversificação

Diversificação é um assunto complexo e às vezes controverso. De qualquer forma, como o custo de entrada na bolsa é fracionado, você pode distribuir seu capital e escolher diversas oportunidades diferentes se desejar.

Custo de Aprendizado

O custo de errar na bolsa de valores também é menor. No máximo você perde o que aplicou. Eu sei que isso parece horrível, mas considere o seguinte: o potencial de prejuízo ao montar uma empresa que não dê certo é difícil de mensurar e não acaba naquele valor que você investiu. Além de perder o que investiu, você provavelmente sairá devendo.

É muito fácil e muito mais seguro investir em ações se comparado a criar sua própria empresa.

E tem um detalhe super interessante: as empresas na bolsa de valores tem histórico, elas já existem, já passaram pelo processo inicial de se estabelecer e já competem no mercado, ou seja, já se provaram minimamente viáveis.

Volatilidade

Investir na bolsa não são só maravilhas. O problema de se investir na bolsa é a volatilidade. Você vai precisar se preparar emocionalmente para a volatilidade do mercado, principalmente investidores que vierem de anos de investimento em renda fixa.

Mas nesse ponto também existe um segredo: se você se preparar emocionalmente, se preparar estudando o mercado e os negócios que quer investir de antemão, você pode usar a volatilidade do mercado ao seu favor. Isso leva tempo e você vai precisar dedicar um certo tempo da sua vida para aprender a investir com segurança.

Construção de Patrimônio

A bolsa é um lugar de muitas potencialidades, mas uma coisa precisa ficar clara também: a bolsa não é um meio para ficar rico rápido, é um meio para, em primeiro proteger seu capital, e só então pensar o quanto ele pode render. Investir na bolsa requer análise, pensamento lógico, e temperamento adequados.

Mas eu posso afirmar uma coisa: a bolsa de valores é um negócio super divertido! Desmistificar como a bolsa de valores funciona é uma das coisas mais interessantes que eu já fiz na vida. Você combina se divertir e ganhar dinheiro, não é massa?

Um pouco da minha história

A minha experiência na bolsa de valores começou em 2006. Eu já fiz um pouco de tudo nesse mercado: negociei ações todos os dias como day-trader. Já fui corretor de ações. Escrevi durante 7 anos uma newsletter diária sobre o mercado financeiro, que era enviada para uma lista de mais de 200 mil investidores no Brasil, e hoje eu trabalho para uma empresa que opera internacionalmente no mercado financeiro.

A minha estratégia sempre se baseou em análise técnica de ações ou derivativos de ações. Eu analisava o que eu ia comprar ou vender quantitativamente, ou seja, a única coisa que me importava era o preço da ação e o movimento que essa ação fazia ao longo do tempo.

Esse universo de análise técnica é um buraco negro. Existem infinitas formas de se fazer análise técnica, por exemplo, eu já usei médias móveis de todos os tipos, simples, exponenciais, tringulares, ponderadas, envelopadas. Estudei Bandas de Bollinger, Canais de Donchian, MACD, regressão linear, Índice de Força Relativa, Medida de Amplitude de Variação, Indicador de Força Verdadeira, e Williams %R. Também aprendi tudo o que existia sobre como desenhar suportes, resistências, retração de Fibonacci… tudo para tentar acompanhar os movimentos do mercado e montar minhas operações. É complicado…

Veja bem, eu ganhei dinheiro com análise técnica. Retornos muito bons até. Mas eu não quero mais fazer isso, de ficar o dia todo na frente de um terminal analisando o mercado. “O rendimento era bom não era? Então por que parou?” Lembra da história do pastel que comentei no começo desse artigo? Então, essa exposição diária ao risco cobra um preço e o seu lado emocional começa a ficar afetado. E isso que eu gosto de me pensar como uma pessoa extremamente racional.

Eu não quero mais ficar analisando operações de entrada e saída todos os dias. Existem outras formas de estar exposto ao mercado. Eu quero escolher algumas poucas boas empresas ou fundos de investimento bem administrados e com diferenciais competitivos para criar uma bola de neve que eu tenha pouca interferência ou administração.

Eu quero pivotar a minha forma de ganhar dinheiro no mercado. Eu não estou atrás de uma fórmula mágica, ou estratégias para ficar rico rápido, mas sim criar um método de investimento para começar pequeno e rodar ele várias, com consistência, para gerar um efeito bola de neve no meu patrimônio.

Antes de investir meu dinheiro eu preciso estudar a filosofia e as técnicas de investimento usadas pelos maiores investidores no mundo para aprender a investir com confiança e segurança.

Eu pretendo misturar a minha experiência no mercado com essa nova forma de investir e apresentar tudo o que eu aprender em uma série de posts.

E estudar é uma das coisas mais importantes para investidores. Conhecimento é diretamente proporcional ao seu retorno em investimentos.

Vou terminar esse post com uma frase que me marcou muito de Warren Buffett, uma das personalidades mais importantes do mundo dos investimentos:

“Leia 500 páginas como essas todos os dias (apontando para relatórios financeiros). É dessa forma que o conhecimento funciona. Ele cresce, assim como juros compostos.”

Fontes:

https://br.advfn.com/indicadores/taxa-selic/valores-historicos, http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=38402
https://www.newyorkfed.org/medialibrary/media/research/staff_reports/sr866.pdf

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Guga Deschamps

Minha trajetória de especulador a investidor em uma série de posts