20 curiosidades que você não sabia sobre a vida de Pablo Picasso

Guilherme Dearo
8 min readAug 14, 2015

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por Guilherme Dearo

A vida de Pablo Picasso (1881–1973), o maior pintor do século 20, é repleta de mitos, histórias dramáticas e pitadas de causos fantásticos.

O próprio Picasso tratou de romancear sua vida, recontando com menos verdade e mais exagero certos episódios da infância, juventude e vida adulta.

Também não faltaram momentos incríveis e improváveis que aconteceram tais como foram contados ao passar das décadas.

O mito do artista também se mescla com problemas prosaicos envolvendo mulheres, filhos, amigos e familiares. Não há nenhum deus em Picasso, apenas um homem cheio de paixões e temores.

A seguir, confira 20 curiosidades sobre a vida do pintor e escultor espanhol, que deixou para sempre sua marca na história da arte.

1. Nascimento — O pequeno Pablo nasceu em 25 de outubro na cidade de Málaga, na presença dos pais, de uma parteira e do tio, o médico Salvador Ruiz y Blasco. Assim que saiu do ventre de sua mãe Maria, ele não se moveu ou gritou. Parecia não respirar, apesar da aparência saudável. Seu tio, então, soprou-lhe uma baforada de seu enorme charuto na cara. Ele imediatamente reagiu aos berros. Sim, Pablo estava vivo.

2. Primeira palavra — A primeira palavra de Picasso foi “piz”, querendo dizer “lapiz” (lápis). Essa é provavelmente uma história que o pintor inventou de si mesmo para dizer que estava em seu sangue o destino para a arte e a pintura.

3. Superando o mestre — O pai de Picasso, José, também era pintor, mas nunca teve o talento que seu filho mostraria tão precocemente. Foi ele quem iniciou Pablo na arte e foi também seu primeiro professor. Mas logo o aluno superou o mestre. Novamente em um provável exagero de Picasso, ele conta que o pai, ao ver a sua pintura “Mendigo com boné”, percebeu que nada mais poderia fazer ou ensinar: entregou-lhe pincéis e paleta e disse que jamais pintaria novamente.

4. Morte da irmã — Quando Picasso tinha treze anos, sua irmã menor, Conchita, morreu de difteria. O pintor ficou muito abalado com a morte da jovem irmã. Durante a doença, chegou a fazer uma promessa para sacrificar sua grande paixão: jamais pintaria novamente caso ela se salvasse.

5. Quase morte — Picasso quase morreu em 1899, quando viajou com seu amigo Manuel Pallarés para El Maestrat, em Valencia. Ao subirem um morro por uma trilha, onde pretendiam passar alguns dias pintando, Picasso quase caiu de um penhasco, mas foi segurado na última hora pelo amigo.

6. Inspirações africanas — No segundo encontro entre Henri Matisse e Picasso, orquestrado pelos irmãos Leo e Gertrude Stein, Matisse levou uma figura africana do Congo que tinha acabado de comprar na Rue de Rennes. A figura, de rosto distorcido, fascinou o pintor espanhol. Mas o poeta e pintor Max Jacob conta outra história: que ele levara para jantar na casa de Matisse o poeta Guillaume Apollinaire, o escritor André Salmon e Picasso. Lá, o anfitrião teria lhes mostrado uma figura africana sentada, prestes a devorar uma fruta e cujos olhos eram representados por duas pequenas conchas. A imagem teria inspirado Picasso de modo crucial.

7. Filho adotivo — Por pouco tempo, em 1907, o primeiro filho de Picasso foi um filho adotivo. Sua amante na época, Fernande, insistia em formar uma família. O pintor só tinha olhos para sua criação em processo, “Les Deimoselles d’Avignon”. Sozinha, Fernande decidiu ir até um orfanato. Trouxe uma menina de dez anos, Raymonde. Picasso chegou a desenhá-la um pouco, mas ela não encontrou no atêlie uma família. Dois meses depois, Max Jacob foi encarregado de devolvê-la ao orfanato.

“Quis penetrar sempre mais fundo no conhecimento do mundo e dos homens, a fim de que esse conhecimento nos liberte cada dia mais”

8. Ópio — Picasso, em seus primeiros anos em Paris, quando trabalhava no ateliê da Bateau-Lavoir, foi um grande usuário de ópio, fumado em grandes cachimbos. A droga era muito comum nas festas promovidas entre a comunidade artística. Contudo, quando um artista alemão local, Wiegels, morreu pelo uso da substância, todos decidiram que era hora de acabar com a prática.

9. Amor — Picasso podia ser insistente quando se tratava de amor e mulheres. Uma das paixões de sua vida — posterior inspiração para inúmeros quadros — foi Marie-Thérèse Walter. Ela conta que se conheceram em Paris, em 8 de janeiro de 1927, quando saía do metrô em direção à Galeries Lafayette e Picasso passava pelo Boulevard Haussmann. Ele teria ficado tão encantado que a puxou pelo braço, disse que queria fazer um retrato seu e que, juntos, “fariam grandes coisas”. Outra versão do encontro narra que Marie-Thérèse estava com sua irmã no passeio. Elas estavam na Gare Saint-Lazare para pegar o trem depois de sair da galeria e Picasso as seguiu até lá, espiando por um buraco no jornal. Quando finalmente abordou sua musa, disse que passaria a ir lá todos os dias às dezoito horas para encontrá-la.

10. Acidente — Às vésperas da Segunda Guerra, Picasso sofreu um acidente de carro em Cannes e fraturou suas vértebras. O pintor sentiria dores por um bom tempo. Ele estava no carro de Roland Penrose, que viria a ser seu primeiro biógrafo, quando um outro carro os atingiu violentamente.

11. Museu do Prado — Em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, Picasso foi nomeado diretor do Museu do Prado, lar de obras de grandes mestres como Goya e Velázquez e onde o jovem pintor encontrara inspirações no começo de sua jornada, em suas primeiras visitas aMadri. Mas o museu, naquele momento, estava vazio: as obras tinham sido retiradas e escondidas para proteção, já que a capital sofria com bombardeios. E Picasso, como diretor, nunca de fato exerceu alguma atividade no cargo. Seria apenas uma grande honra para incluir na biografia.

12. Gestapo — Como Picasso, simpatizante da Resistência e amigo de célebres esquerdistas, escapou da Gestapo, a polícia alemã, durante a ocupação nazista na França? O escultor alemão Arno Breker, escultor “oficial” do regime de Hitler, jura que foi graças à sua intervenção. Jean Cocteau, por sua vez, diz que foi ele quem pediu para que Breker intercedesse e garantisse que Picasso fosse poupado. Mas os nazistas sabiam que prender ou deportar uma celebridade do nível de Picasso causaria um escândalo. Mesmo assim, alguns alemães se arriscavam a ir visitar galerias com seus quadros e conversar com o artista.

13. Quatro mulheres — Por um bom tempo, Picasso teve nada menos que quatro mulheres “ao mesmo tempo”. Olga, sua esposa oficial (já que não tinha conseguido se separar oficialmente por questões judiciais), embora eles não convivessem mais; a jovem Marie-Thérèse; Dora Maar; e a bela que recém conquistara o coração do pintor e que teria dois de seus filhos na década seguinte, Françoise Gilot. Todas sabiam da existência umas das outras. Picasso manejava esposa e amantes de acordo com suas conveniências. Mas Françoise é quem ocuparia lugar de destaque em sua vida a partir daquele momento. No fim da vida, ainda viriam Geneviève Laporte e Jacqueline Roque.

14. Dramaturgo — Depois de se aventurar na poesia, marcadamente surrealista, Picasso se aventurou no teatro. Em janeiro de 1941, escreveu a peça “O desejo pego pelo rabo” (no original, “Le désir attrapé par la queue”). Em março, o ensaísta e etnólogo Michel Leiris promoveria em sua casa uma leitura dramática despretensiosa que reuniu um elenco provavelmente imbatível: Albert Camus, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Jacques Lacan, Brassaï e Georges Braque, entre outros.

15. Chaplin — Em 1951, Picasso recebeu em seu ateliê ninguém menos que Charles Chaplin. Naquela noite, ele promoveu um jantar com sua amante Françoise e Jean-Paul Sartre. Picasso pediu para que Chaplin fizesse o número dos “pés de pão” que dançam, do filme “Em Busca do Ouro”. Carlito o atendeu prontamente e usou duas escovas de dente para a apresentação.

16. Biografia — Em 1965, Françoise Gilot — agora sua ex-amante e mãe de seus filhos Claude e Paloma — lançou uma biografia, “Vivre avec Picasso” (“Viver com Picasso”), expondo muito de sua vida íntima. O pintor ficou furioso. Parou de ver os filhos e participou de protestos com diversos escritores que o apoiavam na proibição da obra. Mas ele não conseguiu impedir a publicação.

“A pintura é mais forte que eu, ela me faz fazer o que ela quer”

17. Filhos e netos — A relação com seus filhos e netos era muito conturbada. Durante sua vida, Picasso teve relações frias com alguns deles e relações mais próximas com outros. Mas a sua única filha legítima, dona de sua total atenção, era a arte. Filhas como Paloma e Maya receberam mais amor. Mesmo assim, passavam longos períodos sem ver o pai. Já seu primeiro filho, Paulo, foi alvo de desprezo. Fracassado e dependente do dinheiro do pai durante toda a vida, Picasso nunca o admirou. Tal desprezo foi transmitido para seus netos, filhos de Paulo. Um deles, Pablo, foi impedido de ir ao funeral do avô e acabou se suicidando pouco depois. Já Claude chegou a processar o pai para que fosse reconhecido legalmente como filho dele — já que Picasso nunca se casou com Françoise ou outra mulher que não Olga.

18. Franco — Após o golpe de estado e a Guerra Civil Espanhola que culminaram na ascensão do general Francisco Franco ao poder, em 1938, Picasso jurou nunca mais voltar à Espanha. Enquanto Franco estivesse no poder, não pisaria mais no país. Ele cumpriu sua promessa até o fim da vida. E seus companheiros pagaram por essa oposição. Por volta de 1971, quando o crítico de arte José Maria Moreno Galván declarou que o pintor era o maior cidadão espanhol do século 20, foi sentenciado a dois anos de prisão. Mais de 56 artistas tomaram salas do Museu do Prado para protestar, sem sucesso. Picasso não viu a Espanha livre: morreu em abril de 1973, pouco antes da morte de Franco.

19. Barcelona — Em 1963, foi inaugurado o Museu Picasso de Barcelona após o artista decidir doar seus arquivos para o novo empreendimento. Ele não foi à inauguração. Em 1970, quando Picasso doou uma nova coleção imensa de seus quadros ao museu, antes em posse de familiares, uma grande festa estava prevista. Mas o governo de Franco acabara de condenar à morte seis autonomistas bascos. Foi a deixa para o pintor protestar e cancelar qualquer cerimônia ou festa.

20. Louvre — Picasso foi o único artista a receber uma mostra no Museu do Louvre em Paris e a entrar para seu acervo ainda em vida. Em seu aniversário de 90 anos, oito telas adquiridas pela governo francês foram expostas com grande festa no Grande Salão do Louvre, com a presença do presidente Georges Pompidou. Era uma despedida.

Dicas de leitura:

  • “Picasso”, de Gilles Plazy
  • “Picasso: The Last Days”, de Mariano Miguel Montanes
  • “Picasso: Genialidad en el Art”, de Marie-Laure Bernadac e Paula Du Bouchet
  • “Picasso (volume 1 e 2)”, de Ingo F. Walther e Carsten-Peter Warncke

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