Como rodar qualquer gênero de RPG no sistema que você quiser!

Guilherme Monocores
4 min readMay 15, 2020

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Observe a figura acima. Ela é do arquiteto Bryan Berg, recordista do Guiness de fazer maiores estruturas de cartas no menor tempo. Me diga uma coisa sobre as seguintes opções:

A- “Nossa, realmente, cartas são um material excelente para criar estruturas

B- “Putz, o cara é obcecado por arquitetura e cartas a ponto de gastar tanto tempo e esforço até completar esse feito admirável!”

Qual das duas opções é a mais próxima do seu primeiro pensamento ao ver essa imagem?

Se você falou a opção B, e ainda acha que qualquer sistema de RPG é capaz de fazer funcionar qualquer gênero de ficção, esse artigo foi feito pra você. Sabe porque? Porque a maioria esmagadora dos RPGistas sabe como é difícil fazer um castelo de cartas, mas uma outra maioria não sabe como é difícil adaptar um D&D pruma campanha de Horror Cósmico.

Dentre os muitos motivos pra essa ignorância, eu posso citar:

>O interesse dos sistemas tradicionais de impedir seus consumidores de migrarem para outros sistemas.

Quando pessoas associadas a D&D falam de RPG, eu raramente as vejo falar de outros sistemas. Inclusive, quando falam de D&D, as vejo tratando D&D como sinônimo para tudo que o RPG pode oferecer™

>O desconhecimento de como funciona a mestragem de um RPG.

A maioria dos jogadores de RPG nunca mestrou, e curiosamente muitos mestres às vezes mantém as coisas assim por diversos motivos. Assim, a maioria das decisões de mecânicas e mecanismos de preparar sessões feitas por mestres são tratadas como segredos, e consequentemente, quando muito, um jogador senta na mesa e tem domínio sobre o que o seu personagem sabe fazer, ou mais raro ainda, o que a sua equipe sabe fazer, e esse é todo o conhecimento que é desejado — e permitido — ao jogador.

>A resistência e o desinteresse de deixar de lado RPGs novos, muitas das vezes causados por nostalgia ou até mesmo insegurança.

>A dificuldade de leitura e processamento de informações, que tira o incentivo pra gente ler mais sistemas e/ou estudar melhor o que conhecemos.

Isso ocorre tanto pra RPGs quanto pro design de jogos. Estou me incluindo nesse grupo porque como qualquer exemplar de pessoa com ansiedade na quarentena, estou falhando em conseguir terminar até mesmo o que gosto de fazer).

Sei que o título até agora está parecendo uma pegadinha, mas acredite, não só vou te ajudar como vou te mostrar qual o caminho das pedras, e não fazendo um artigo de “Top 3 dicas!”.

Ninguém disse que é um caminho confortante!

Se você quer mesmo aprender a adaptar um sistema para qualquer cenário ou gênero, o jeito de fazer isso é coletando referências. Aprenda tudo o que puder sobre o sistema, o gênero, o cenário…livros, artigos, vídeos, filmes, podcasts, materiais de fã…qualquer fonte de informação se torna válida.

Não me leve a mal, boas doses de criatividade e improvisação também são indispensáveis, mas é necessário que entender que quando está adaptando um sistema para fora do seu contexto inicial você está extrapolando as funções naturais de mestre como designer.

Sim, o livro existe como um manual de instruções, mas desde o momento em que a sessão começa o game designer da sua campanha é você, e não os autores. Você escolhe e pondera que mecânicas enfatizar ou até quando a história requer que regras sejam alteradas ou distorcidas. Por um lado, isso quer dizer que quando você está adaptando um sistema, você tem bem menos uma “rede de proteção” para se sustentar no caso de uma dúvida ou outra, mas por outro lado você tem muito mais mérito e domínio sobre o sucesso(e também a falha) de uma partida.

Claro que as ideias nesse texto não são para todos. A minha verdade e a sua não precisam concordar em tudo. Muitos mestres ou grupos não são nem críticos o suficiente para precisarem de mais do que uma gambiarra nas regras aqui ou ali para adaptação ser aprovada e se divertirem, e eu não quero cagar regras, os nerdcasts de RPG Cyberpunk e Cthulhu no sistema d20 estão aí para provar isso.

Só espero ter ajudado a entender que cada manual de RPG tem uma caixinha de ferrentas em suas regras que cada um usa conforme suas necessidades e vontades. Quem nunca ouviu, afinal, histórias de presidiários que escaparam da prisão por túneis cavados com objetos improvisados?

"Vou narrar Shadowrun usando as regras de Vampiro, é mole mole!"

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