Organizada, Fúria Independente “decide” eleição e unifica arquibancada com poder no Paraná Clube
Nesta quarta-feira, dia 23 de setembro, ocorreu a eleição do triênio 2016–18 no Paraná. A chapa da situação, “Reconstrução Tricolor”, ganhou o pleito por 542 votos a 264 votos, da chapa de oposição “Paraná, o clube do futuro”. E teve um apoio determinante: da organizada Fúria Independente.
Principal e única torcida de incentivo no clube paranaense há alguns anos, a instituição foi fundada em 1993. Além das festas e padronização na bancada, ganhou destaque nacional principalmente em 2013, quando patrocinou a camisa do Tricolor em alguns jogos da Série B — a torcida virtual Paranautas e um torcedor e ex-médico do clube, o “Doutor Tricolor”, também fizeram o mesmo.
Além do patrocínio, a torcida ainda doou um cheque de R$ 200 mil no final do ano, em sua festa de 20 anos, ao então presidente Rubens Bohlen, na Vila Capanema. O valor para estampar o nome no vestuário, de aproximadamente R$ 50 mil, estava incluso no cheque. Outra atitude, no ano seguinte, que chamou a atenção foi através do uso do símbolo do Paraná em seus materiais, devolvendo os royalties pertences a quem é a única origem de sua existência.
Já em 2015, a Fúria entrou, definitivamente, mais uma vez na história. Mas é preciso contextualizar antes. Em fevereiro deste ano, o mandatário paranista, Rubens Bohlen, esteve na sede da organizada, em um sábado de carnaval, e expôs o cenário de “morte anunciada” do Paraná Clube aos diretores. O “clube dos anos 2000”, slogan em sua existência no final da década de 80, estava perto de fechar as portas. E isso já quase aconteceu em 2014, apesar de não ser tratado publicamente por motivos óbvios. Mas quem acompanha os bastidores sabe.
O pedido de ajuda foi atendido e a organizada decidiu ajudar a salvar o Tricolor. Busca de patrocínios, conversas com investidores, planos de negócios, união entre empresários e ex-presidentes (que deu muita polêmica), entre outros. Um grupo foi formado e prometeu dar um suporte financeiro, mas queria a saída do presidente. Após pressão nos Conselhos e uma acusação de agressão do vice-presidente da torcida, João Quitéria, contra o presidente do clube no CT Racco (ato negado e não comprovado), Bohlen renunciou ao cargo no dia 24 de março — pouco mais de um mês após pedir ajuda pessoalmente em um ato total de desespero. Muitos chamaram de golpe.
Assim, os “Paranistas de Bem”, como se intitularam, assumiram o Paraná, com Luiz Carlos Casagrande, vice-presidente, assumindo por estatuto, e prometeram investir mais de R$ 4 milhões no futebol para formar uma equipe capaz de conseguir o acesso, tendo um teto salarial variando de R$ 15 a R$ 20 mil. E com três rodadas de antecedência. O Campeonato Brasileiro não terminou e a chance matemática existe, mas essa promessa precisa de um milagre para ser concretizada. Ou mais que isso.
O foco, então, ficou para a eleição e o futuro. Com a unificação dos sócios, os torcedores de arquibancada tiveram direito a voto pela primeira vez. Antes, apenas associados do social possuíam esse direito. E aí entrou a força de vez da organizada. Dos pouco mais de mil sócios aptos a votar, pelo menos 220 deles são da Fúria. Outros tantos são ligados à organizada de alguma forma, seja por convívio antigo ou por amizade pessoal com a cúpula da torcida. João Quitéria, ex-diretor, atualmente é o vice-presidente de marketing paranista.
A organizada, pela primeira vez, se posicionou a favor publicamente de uma chapa. A campanha nas redes sociais, a boa presença na Kennedy, local da votação, e a folga na vitória das urnas explicam esse peso na decisão. “Nos últimos anos, temos nos esforçado como nunca pelo Paraná. Diferente de outras organizadas, somos uma torcida que luta pelo Time. Seja na arquibancada ou agora na política, se não fosse o nosso apoio — com a ajuda de vocês — talvez nosso time já estivesse com as portas fechadas (…). Ou colocamos os pés no chão e mexemos na ferida, ou realmente compraremos um passaporte. E o fim é o destino”, afirma uma parte do texto.
E qual será o futuro do Paraná? A atual direção e a chapa eleita defendem a redução do social, a venda (parcial ou total) da sede na Kennedy — que corre alto risco de ir a leilão ainda neste ano — e o foco total no futebol. A Fúria, em 2014, já havia pedido essa linha em uma nota oficial, deixando claro que a venda do espaço seria a única chance da torcida ainda ter um time para torcer.
Com dívida de R$ 70 milhões, a diretoria espera usar R$ 50 milhões da provável venda da Kennedy para renegociar, quitar seus débitos e ter um bom caixa. Já existe, inclusive, um comprador para o local. Também tem a ideia de aderir ao Profut e Ato Trabalhista assim que possível. Deixar, dessa forma, o clube viável já que, atualmente, a arrecadação é de somente 30% do gasto necessário para tocar o Paraná. E jogar limpo com a torcida, prometendo transparência e duas reuniões anuais para expor o cenário real do clube.
Internamente, essa movimentação realizada é vista como a “última tacada”. Ou a união entre os torcedores salva o Paraná definitivamente ou o clube fecha as portas em um futuro bem próximo. Vou me abster, um pouco, da velha discussão de uma organizada ter participação ou não dentro de um clube.
Fica nítido, neste caso, que é mais para um ato de sobrevivência de um clube que já nasceste gigante, como diz o hino, e se apequenou com o amadorismo e a incompetência dos presidentes que passaram e não pensaram no futuro, do que uma tentativa de sugar o dinheiro que entra. Até por não estar claro se haverá mais cargos da torcida dentro do clube. Muitos integrantes e ex-associados da Fúria já passaram por lá, por suas qualificações e fizeram bons trabalhos.
O tempo é curto e o caminho é árduo. Mas, pelo menos, os torcedores — em caso de fracasso e o fim do time de coração — poderão falar “tentamos”. E se der certo, com orgulho no peito, dizer: “nós fizemos história”.