As 24h que antecederam o nascimento do Felipe

Gustavo Timm de Oliveira
4 min readFeb 25, 2018

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O cotoco amor dos pais, avós e tios/dindos ❤

Quando visitamos Buenos Aires em 2015, nos apaixonamos por uma coisa, entre tantas: a cerveja Patagônia. No último sábado, o meu querido amigo Daniel, que nos recebia na casa de praia dos seus sogros, já havia dividido três garrafas conosco, além de duas long necks de Heineken, quando recebi uma das ligações mais lindas destes meus 35 anos.

O relógio acabara de voltar uma hora, pois terminava o horário de verão. A Jóice estava ao meu lado e quando ouviu o toque, ficou alerta — e ansiosa pela confirmação de quem estava ligando. Olhei o número e não havia identificação. Atendi e a nossa intuição se confirmou: era minha irmã informando que a sua bolsa havia rompido e que nosso sobrinho — e afilhado — estava a caminho deste mundo.

O plano inicial dela e de seu marido era revelar sobre o processo de parto apenas quando este fosse iminente, para evitar momentos de ansiedade e tensão no hospital, afinal minha irmã queria ter um parto normal. Mas, como estávamos no litoral e nossa presença era necessária, tiveram de abrir uma exceção.

Estava bem, de verdade, para dirigir, apesar das Patagônias e Heinekens — que o Detran-RS não leia este texto. O maior desafio era o provável sono, pois estava cansado. Mas em cinco minutos reunimos as mochilas, nos despedimos de todos, e pegamos a estrada rumo a Porto Alegre. O Felipe estava a caminho, gente.

Perdidos em Tramandaí

Rumo à capital gaúcha em parte, na verdade. Era a segunda vez que visitava Cidreira e conhecia razoavelmente o caminho. Segui a RS-786 confiante de que em minutos estaríamos na RS-030, para depois pegar a BR-290.

Mas, em algum momento que ainda não consegui identificar, segui reto ao invés de dobrar e fomos parar no centro de Tramandaí. Na verdade, demoramos alguns bons minutos para nos localizarmos, depois da Jóice desconfiar que estávamos lá e confirmar no Google Maps, rezando para que os 5% de bateria do seu celular fossem suficientes — e foram.

Cruzamos Tramandaí e estávamos de volta à estrada, agora no caminho certo.

Xixi macabro

As cervejas não prejudicaram meu desempenho no volante. Mas cobraram seu preço: precisamos parar no posto da Concepa no posto de pedágio em Glorinha. Achávamos que o encontraríamos aberto, com movimento. Não foi bem assim.

Deserto e a meia luz, o local só tinha um banheiro aberto, o reservado para deficientes físicos. Me pergunto se haviam deixado propositalmente assim para ajudar os mijões da madrugada — eram alguns — ou se foi sorte. De qualquer forma, serviu e, aliviado, seguimos para Porto Alegre.

Móvel no chão

Eram cerca de 2h quando chegamos em casa. O Felipe estava a caminho, mas não havia porque ficarmos acordados — minha irmã estava bem, em casa, atenta às contrações ritmadas. Colocamos o celular para carregar, abrimos o sofá da sala para dormirmos perto do nosso pombo correio e deitamos.

Quinze minutos de sono até que ouvimos um barulho. Bulurum, algo assim. Era o móvel da pia da cozinha, que não suportou mais sua sustentação enjambrada e veio, em parte, ao chão. Prontamente levantei, mas não havia nada a fazer naquele momento, ainda mais sem o apoio da dorminhoca da Jóice. Voltei ao sono.

A espera

O domingo começou com uma visita à ferragem e um nova enjambração na cozinha. Então começou a espera. Havíamos combinado que minha irmã e o marido nos mandariam notícias e que quando o trabalho de parto estivesse na fase final, seríamos avisados e, assim, poderíamos contar para as avós — sim, entre os familiares, só nós sabíamos até aquele momento.

Primeiro, com calma, tomamos café da manhã. Veio o almoço no shopping, seguido de um cafezinho. Então, achando que o grande momento estava próximo, fomos para o apartamento da minha mãe, para esperar e contar a linda novidade.

Mas a tarde avançou e nada. Sabíamos que minha irmã estava bem, que seguia se preparando para o parto e que a dilatação crescia a cada hora. Mas o grande momento não chegava. Voltamos para casa. Enquanto a Jóice dormia, eu lia.

No início da noite, o Whats tocou. Estava na hora.

Vida

O Hospital Divina Providência, onde minha irmã decidiu dar à luz ao Felipe, fica a 12 quilômetros da nossa casa. Vinte e dois minutos, segundo o Google Maps. Graças ao trânsito, fizemos em menos, com certeza.

Então minha mãe subiu, aguardamos na recepção, os familiares do meu cunhado chegaram, o Felipe nasceu e subimos para conhecê-lo, ouvindo o relato do seu nascimento — um parto natural lindo, planejado e apoiado por uma doula, uma médica e uma equipe que sabem da importância deste momento.

Quase 24 horas depois, o Felipe chegava a este mundo.

Falta talento para poder relatar a emoção deste momento.

É lindo, apenas.

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