A Moda e Sociedade
Como a moda surgiu na sociedade e quais impactos que ele exerce ?
A moda é componente integrante na sociedade. As palavras ligadas à moda seriam hábitos e costumes, o interessante que estes termos são ligados ao vestuário e tanto quanto a cultura da sociedade. As roupas em seus cortes e cores são puramente referências oriundas das grandes grifes ou a sociedade também pode criar moda?
Podemos observar que semanalmente são lançadas revistas que abordam tendências de moda, o que está em alta; também, podemos ver um acessório que tal atriz usou na novela e os telespectadores também querem, e no perfil das redes sociais também teriam pessoas que ditariam moda; como ocorre todo esse processo? Especialistas em cultura e moda foram consultados para nos explicar sobre o papel que a moda exerce na sociedade e como ela o faz.
A Socióloga Alecilda Oliveira explica que a moda poderia ser: “A moda é um tema importante para discutir, pois faz parte dos temas da atualidade. É interessante dizer que a moda não é exclusiva do nosso tempo, na construção da nossa civilização sempre houve o percurso da moda,porém , ela ocupou um lugar central principalmente no século XIX com a ascensão do capitalismo. A partir desta época , a sociedade deu importância sobre se estaria dentro ou fora dos quesitos da moda”.
Para a socióloga moda não é apenas a vestimenta: “ Moda não é somente indumentárias,se uma pessoa quer comprar um móvel novo , um item de decoração , um carro, um celular e o celular hoje em dia, seria uma das expressões do que é estar na moda . Tanto que , mesmo que seu celular esteja atendendo as suas necessidades, a sociedade cria novas necessidades para você comprar um aparelho novo”.
Na sociedade, há a expressão que seria “escravos da moda”,na qual o sujeito sempre segue cegamente as tendências para que fique sempre atualizado com o intuito de ser aceito e na sociedade que valoriza o novo . Alecilda explica que Simmel (1858–1918) define moda como a imitação de um modelo dado e ela satisfaz a necessidade de apoio social conduzindo o indivíduo para um trilho que todo mundo percorre, assim , tem a questão da aceitação”
Ela também fala que o papel social da roupa mudou, antes era para proteger o corpo e transformou em expressão da nossa cultura, identidade e um estilo de vida. Desse modo, as pessoas quando procuram estarem na moda, elas buscam a questão da aceitação e por outro lado a distinção, porque quer se aceitar como uns e quer se distinguir de outros; a moda faz esse movimento aceitação/distinção.
Para a socióloga os veículos de comunicação cumpre um papel fundamental das pessoas serem escravas da moda, existiria uma questão inclusive grave que seria a criação de padrões que a mídia impõe, as pessoas se identificam com aquilo que está na revista, claro que a moda da passarela e das ruas é diferente; entretanto, as pessoas buscam moda como o que está atualizado nestas revistas, naquilo que passa na televisão, no cinema e podemos observar que os veículos de comunicação produzem programas que mostram os hábitos das celebridades e falam sobre o corte de cabelo novo que fizeram as roupas que utilizaram em tal cerimônia e afins ; essas ações impactam sobre o que compreendermos sobre o que é moda, vale lembrar que a maioria das pessoas acessam estes veículos de comunicação.
Sobre o modo das pessoas buscarem a moda, a especialista comenta: “A construção de sua identidade, a pessoa procura a moda para ser aceita, uma forma de se expressar e que ela ganhe com isso”. “Não tem como, por exemplo, porque uma pessoa de cabelo crespo ter por identidade uma pessoa de cabelo superliso, nós passamos por situações assim, inclusive hoje, pessoas alisam os cabelos, ou usam de roupas que poderiam machucar seus padrões corporais; entretanto penso que isto tem diminuído”. A especialista diz que a moda atualmente é muito ampla e não tanto unilateral, a internet possibilitou novas possibilidades de moda, pois, tem acessos a novos estilos.
A Rua e a Moda
Será que as ruas, os acontecimentos na sociedade também contribuíram nas tendências de moda?
A jornalista começa exemplificando que movimentos sociais como os punks influenciaram a moda com as tachas, coturnos. Aconteceu a mesma coisa com hippies,os jovens queriam uma moda mais despojada, solta e fora dos padrões dos anos 50 .
Espinossi diz que o Impressionismo foi o primeiro a ditar moda das ruas: “Napoleão III, veio de Londres e queria fazer de Paris mais bela do que Londres. O presidente chamou um engenheiro para destruir a cidade para que pudesse ser construída novamente em ruas diagonais, fizeram saneamento básico, destruíram monumentos históricos e nas ruas construídas, eles abriam cafés e era tudo muito arborizado e as pessoas começaram a sair mais pra rua e a serem mais vistas”.
Ela comenta que na mesma época, começaram a serem criadas as primeiras lojas de departamentos, a partir deste momento a moda começa a ser mais acessível, tinham lojas pra comprar tecidos e enfeites. Rô comenta que as pessoas ricas fora do estamento aristocrático pretendiam se igualar aos nobres e tinham acesso as vestimentas melhores. Com este acesso, elas começavam a passear mais, ir aos jardins e ao mesmo tempo os impressionistas queriam captar a luz, eles saiam dos estúdios de pintura e não queriam captar apenas as pessoas, pretendiam captar os momentos da luz de cada hora do dia.
Rô continua dizendo que os impressionistas começaram a retratar as pessoas nas ruas , nos bares e nos bailes . “É impressionante como a moda é parecida e cíclica, pinturas impressionistas com laços e listados de preto e branco e tem street style com essa tendência; são comparações que ficamos absurdamente surpresos com o que fora retratados nos quadros e estes elementos estão na moda atual. Por isso que falo que os impressionistas foram os primeiros blogueiros de moda. Todavia, o que eles pintavam nas ruas demorava mais tempo para chegar aos consumidores e as pessoas usarem roupas parecidas, não seria como hoje que essas blogueiras postam e rapidamente sabemos das informações.
Segundo Espinossi ,a vida da rua diz muito o que as empresas de moda irão fazer , claro que para ela existiriam padrões impostos, mas ,sempre dentro do anseio das pessoas . “A moda viria do conceito de que o que vai pegar, o que as pessoas vão usar . E hoje , a informação é tão rápida as marcas não podem ficar alheias as preferências dos consumidores e as redes sociais vieram pra facilitar para as grifes os desejos dos consumidores ,mesmo que as empresas tenham um grande plano de marketing que atingem os consumidores sobre o que irão usar, entretanto , não sei se os efeitos desta tática serão duradouros”.
Indagada sobre se a moda é para todos, Rô responde : “ A moda está mais democrática, você pode usar o que quiser, muitas tendências vêm por causa das necessidades das pessoas e até do meio ambiente, a escolha de core muitas vezes é baseada nas matérias primas no mundo para fazer aquela tonalidade , os estudos de tendências começam bem antes dos desfiles”.
A produção de Moda
Após as tendências de moda ser lançadas nas semanas de moda que durariam a cada semestre, hoje, existe o fast fashion que seria a moda de curta duração, de preços bem menores que as roupas de luxo e altamente descartáveis, essa moda vem sendo criticada por especialistas por imporem modos de produção análogos à escravidão e aos impactos ambientais. Rô explica que fast fashion veio para dar acessibilidade às pessoas que queriam vestir- se como as celebridades. A primeira loja que fez isso foi a Zara , ela copiava as ideias das roupas lançadas nas passarelas e três dias depois estavam disponíveis em suas lojas ; este fenômeno começou a ocorrer bem antes das redes sociais digitais, onde somente os jornalistas poderiam comparecer as semanas de moda
Para Rô o tempo dos conceitos dos desfiles chegarem até as araras das lojas encurtou, pelo fato das pessoas não quererem conceitos que seriam velhos, as pessoas querem usar o instantâneo, as grifes pra se defender usam o conceito see now, buy now, isto é veja as roupas lançadas e compre agora e dessa moda o consumidor não teria que esperar seis meses para comprar. O fast-fashion seria interessante para as pessoas que queiram seguir uma tendência, um estilo.
Sobre os impactos ambientais que este tipo de moda poderia causar, Rô explica que não é somente a fast fashion causa degradação à natureza e produções das roupas de grifes também colaboram neste processo, mesmo que, numa escala menor. “O tingimento é uma das piores coisas que existem no mundo em relação a danos ambientais e também as grandes grifes fazem as suas roupas na China. Os danos ambientais fazem parte de toda pirâmide fashion”.
Ela explica que existe diferença entre fast fashion e o prêt-à-porter: “O fast fashion foi criado pelas lojas de departamento; o prêt-à-porter (pronto pra vestir) surgiu quando as grifes perceberam que não dava pra vender apenas para os clientes ricos, desse modo, as grifes começaram a abrir as suas coleções e expuseram — nas em temporadas para estas roupas fossem feitas em produção industrial, vale lembrar que a alta-costura é para poucos, por isso as marcas utilizam dos conceitos de luxo para que este seja alcançado a um público maior.”
Não é so de inspirações que as lojas de departamento fazem para criar as suas roupas ;elas utilizam pessoas famosas para vestir as suas roupas ou contratam estilistas que desenham vestidos das grifes de luxo para lançarem as coleções cápsulas.A jornalista de moda Adreana Oliveira explica que está mais democratizado o acesso as ideias das coleções das grifes, no próximo dia a pessoa pode usar estes itens .”
As semanas de moda ,segundo Adreana, surgiram em Nova Iorque durante a segunda guerra mundial, para mostrar pra imprensa sobre o que seria tendência na temporada seguinte. Antes as grifes desfilavam suas peças em casas, num espaço restrito e agora elas estão utilizando um espaço amplo, para ela o estilista não vai apenas exporia as roupas, ele mostraria o conceito delas, utilizando de uma iluminação específica do ambiente para explorar o tema do desfile. Os estilistas demoram meses para criar e executar os conceitos, com a ascensão das fast fashion, na qual essas lojas copiavam e comercializavam as tendências de maneira muito rápida; as grandes grifes tiveram que comercializar rapidamente os temas explorados nas passarelas e não esperar mais seis meses para comercializá-los”.
O Jornalismo e a Moda
Como o jornalismo poderia influenciar a moda em suas coberturas? Adreana explica que os jornalistas trabalham mostrando as histórias e registrando os acontecimentos de moda. “Diferentemente, das blogueiras que postam os conteúdos por serem patrocinados pelas marcas tendo uma relação comercial”. “O jornalista vem pra contar os momentos que nós estamos vivendo contextualizando com os fatos históricos atuais e o porquê do estilista ter usado tal conceito e as influências para ser elaborado”.
Para Adreana o jornalista interpreta os conceitos específicos e os decodifica para os leitores sendo que muitos não compreendem os termos do mundo fashion, o jornalista traduziria termos com palheta de cores, textura e simetria para mais pessoas compreenderem. “Os estilistas ficam entre a arte, artesanato e técnica, e sabemos que as peças vão lhe proporcionar um sentimento e nós jornalistas precisamos contar essas histórias para mostrar a sociedade que a moda também faz parte dela”.
Sobre o acesso as informações de moda Adreana relata que os conceitos propostos nas passarelas chegam mais rápido via streaming em tempo real e o jornalista pode até ver em casa os lançamentos, antes demorava mais tempo para esses fatos chegarem aos jornais. “os equipamentos eram pesados, quem gravava era a equipe da noite e no dia seguinte o material chegava à redação e para veículos que ficam mais longe dos locais da semana de moda, e demorava a chegar ao leitor”.
A moda pelo que verificamos parasse ser uma mescla com a produção de moda pelas grifes, pelos acontecimentos na sociedade e os nichos que possuam uma moda restrita e passou a ser popularizada aos demais. A moda seria um sistema no qual hoje não sabemos se a rua influenciou as grifes ou as grifes influenciaram as ruas e sempre anda se reinventando.