OS POR QUÊS DE UMA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

Quais os motivos que fazem com que uma organização inicie um processo de transformação digital? DigitalTransformation#1

Gustavo de Boer Endo
6 min readNov 21, 2019

Atualmente é praticamente impossível você conversar com alguém que trabalha com produtos digitais ou mesmo com desenvolvimento de softwares sem que os termos UX, sprint, agile, transformação digital, scrum master ou Squad venham a tona.

Apesar de esses termos estarem muito em voga, parece que pouca gente sabe ao certo explica-los em profundidade ou entender o porque as organizações resolveram adotar esses formatos.

O grande desafio das empresas é gerar lucratividade e para tanto, precisam aprender a desenhar a melhor estrutura possível para a área de TI e Digital. Afinal, muito provavelmente é a área com mais mudanças ao longo do tempo, pois tudo que é digital está em constante movimento.

Uma estrutura possível e bastante comum é aquela na qual existe uma clara divisão entre os departamentos e suas responsabilidades:

Estrutura tradicional de Tecnologia/Digital

Essa é uma estrutura que combina muito com waterfall, não te parece? E considerando tudo o que já sabemos sobre essa metodologia, o resultado final é que muitas vezes o produto em desenvolvimento entra no mercado depois de muito tempo e em alguns casos sem sucesso algum.

É claro que surgiram outros modelos de desenvolvimento depois do waterfall, mas basicamente todos eles mostram uma “receita de bolo” com fases ou tarefas a serem executadas em determinado momento do processo. Até que chegamos ao Ágil, com metodologias que se adaptam a novos fatores durante o desenvolvimento do projeto ao invés das tentativas de analisar previamente tudo o que pode ou não acontecer no decorrer do desenvolvimento.

Com agilidade, trabalhamos com constantes feedbacks, o que permite adaptar rapidamente eventuais mudanças nos requisitos e proporciona entregas constantes de partes operacionais do software. As metodologias ágeis vieram trazer uma abordagem mais iterativa e incremental de desenvolvimento de software, e colocam produtos em produção em ciclos mais curtos, regulares ao longo do tempo, que chamamos basicamente de Sprint.

Esse ciclo envolve as etapas de descoberta, na qual se aprende sobre o cliente em seu ambiente natural; de desenho, que é a fase efetivamente de projeto, de desenvolvimento e de testes. Mais ou menos assim:

Representação de ciclos de iterações com métodos ágeis

Com isso, a forma de se olhar os projetos também mudou, assim como a maneira de montar times, estruturar departamentos e, por consequência, também a forma de se estruturar as empresas.

Mas porquê o ágil se tornou algo tão desejado pelos executivos?

Parece até que uma onda de modismo dominou o mercado e fez com que as empresas começassem a adotar o ágil como forma de se dizerem modernas e competitivas. Algo mais para dizer para o mercado do que de fato para "transformar" o modo como as empresas trabalham e principalmente agregam valor para o cliente.

Mas de onde vêm essa vontade e motivação da alta gestão em iniciar um processo longo e complicado de transformação digital?

As reais motivações por trás desse "modismo" são muito simples: uma organização ágil traz mais resultados!

Histórico de falhas, atraso e sucesso em projetos de tecnologia. Fonte: Standish Group; CHAOS Report 2015, CHAOA Manifesto 2011, CHAOS Summary for 2010, Extreme CHAOS 2001.

O que todos que trabalham com tecnologia é: projetos vão falhar, vão atrasar e muitos terão sucesso.

O fato é que quanto mais rápido falhar e quanto mais sucesso tiver, mais dinheiro as empresas vão ganhar.

É justamente aí que vem a vontade de fazer uma transformação digital.

Empresas que adotam metodologias ágeis tem mais sucesso.

Comparando-se a base de 2011 a 2015 de sucesso, atrasos e falhas em projetos de tecnologia de acordo com a metodologia aplicada temos o quadro abaixo que deixa clara as motivações dos executivos.

Estudo comparativo entre sucesso, atraso e falha de projetos Waterfall x Agile. Fonte: Standish Group; CHAOS Report 2015, CHAOA Manifesto 2011, CHAOS Summary for 2010, Extreme CHAOS 2001.

O mercado passou a entender que para entregar produtos relevantes para o mercado, neste contexto era necessário, ter maior foco no cliente, aprender a de fato gerar valor e ter times com diversidade de perfis adequados para cada entrega.

Antes da revolução tecnológica e, consequentemente, das mudanças comportamentais pelas quais passamos, as empresas trabalhavam com foco no produto ou no serviço que ofereciam. Era natural que as companhias funcionassem com departamentos e áreas divididas conforme a expertise de cada profissional, e com foco na solução que cada equipe disponibilizava.

No modelo organizacional mais dinâmico e eficaz do agile, as equipes são multidisciplinares. Ou seja, os grupos da empresa são constituídos por colaboradores com diferentes formações e experiências. Esses “times” trabalham com foco em projetos e têm como uma de suas principais características a autogestão e autonomia.

No mundo atual, os jovens querem ter autonomia para tomar decisões, testar suas ideias rapidamente e a liberdade de errar caminhos, mas aprender com eles. Modelos hierárquicos com muitas camadas desestimulam jovens talentosos a continuar nas empresas. Essa mudança cultural também é um fator nesse contexto.

A flexibilidade do agile permite a mobilização de times para determinadas missões da empresa, assim, um time que está trabalhando hoje em um projeto pode, depois que esta demanda tiver sido atendida, atuar com foco em outro desafio. O mesmo grupo de trabalho em companhias focadas em marketing, vendas e performance pode contar com um programador, um profissional de marketing, designers, um cientista de dados, entre outros profissionais.

"O tempo custa muito caro"

Os ganhos de tempo, a percepção rápida de que projetos que estão sendo desenvolvidos já não atendem o mercado e a diminuição do tempo que as soluções chegam a mercado são dados incontestáveis de ganhos de produtividade e lucratividade para as organizações.

O cliente no centro do processo

A transformação digital tem outro fator que é determinante para todo o processo. Vimos que organizações ágeis geram mais retorno, são mais efetivas, multidisciplinares e colaborativas. Em linha com esses ganhos, existe um outro ganho que muitas vezes não é considerado.

Num mundo onde a competição é cada vez mais acirrada e seu grande competidor pode ser uma empresa de outro setor ou mesmo uma startup de pouco mais de 12 pessoas; a "briga" por conquistar e entender o cliente é onde a batalha de fato deve ser travada.

Empresas ágeis colocam o cliente no inicio de todo o processo. Diferentemente de um projeto de tecnologia tradicional no qual o produto somente seria testado após pronto e colocado no mercado; numa empresa digital o cliente esta motivando qualquer iniciativa e testa o produto, antes mesmo de uma única linha de código ter sido feita.

As empresas digitais quando lançam seu produto já tiveram diversas interações de centenas ou milhares de clientes com esse mesmo produto que acaba de entrar no mercado.

Cada etapa do processo de criação de um produto é testada com o cliente:

  • Conceito do produto: é definido pelas dores do cliente nas jornadas que executam
  • Modelo de solução: canais, formas, fluxos são testados antes mesmo do desenvolvimento de códigos com os clientes
  • Solução/produto: são lançadas versões simplificadas da solução que atendem as principais dores dos clientes (poucas features das principais dores)
  • Modelo de negócio: construído ao longo do processo, apesar de estudos de mercado, a aceitação/adoção, precificação podem ser validados com o mercado e podem sofrer alterações radicais

Juntamente com os ganhos de tempo de entrada no mercado, o sucesso de mercado dos produtos digitais aumenta significativamente.

Um significativo incremento na satisfação do cliente, maior lucratividade para as empresas e uma facilidade de retenção de talentos faz com que a transformação digital se torne um caminho sem volta para as empresas nos próximos anos.

A transformação digital veio para ficar e não é um modismo passageiro. É uma forma de se manter competitivo no mercado atual.

Referências:

Scaling agile at Spotify

Lean Software Development: An Agile Toolkit (Amazon)

Peopleware: Productive Projects and Teams (Amazon)

Management 3.0 (Amazon)

Vídeos da série “Spotify engineering culture”

Conway’s Law

CHAOS Report , Standish Group 2015

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Gustavo de Boer Endo

Liderei produtos que foram incorporadas a rotina das pessoas — NFe, ifood, dr.consulta, nextel e bureaus de crédito.