Como utilizar os vieses comportamentais para melhorar seus investimentos

Gutenberg Neto
4 min readAug 25, 2018

--

Vieses comportamentais representam atitudes ou pensamentos que fogem da racionalidade. Em geral, esses comportamentos estão arraigados em nossa mente e frequentemente passam desapercebidos ou são tratados como naturais e imutáveis.

Tais comportamentos possuem ramificações em todos os aspectos da vida e, claro, não poderia ser diferente nas finanças. Desta forma, é importante reconhecer os vieses que podem estar influenciando nossas decisões de investimento e tentar compreender como evitá-los ou utilizá-los a nosso favor. A seguir, listo alguns dos vieses que considero mais comuns e de que forma eles podem afetar cada um de nós:

  • Viés de casa: trata-se da tendência que o investidor possui de focar seus investimentos majoritariamente ou exclusivamente em ativos locais, em detrimento do investimento em ativos globais. Por um lado, é altamente recomendável que o indivíduo invista em ativos que conheça bem e faz sentido que estes ativos estejam mais próximos geograficamente, além de ser mais complicado aportar em ativos estrangeiros. Por outro, não parece racional descartar a imensa quantidade de ativos de qualidade que estão disponíveis em outros países. Entre as vantagens de tentar manter pelo menos uma pequena parte da carteira em ativos estrangeiros estão a possibilidade de buscar empresas de setores ainda não tão desenvolvidos no Brasil (como o de tecnologia) e a proteção natural que estes ativos possuem contra crises locais.
  • Viés de confirmação: esse viés tipifica a tendência de buscar e/ou registrar apenas os fatos que confirmem alguma crença preexistente. Um exemplo típico no caso dos investimentos ocorre quando o investidor analisa determinada empresa e chega à conclusão de que a mesma é um bom investimento naquele momento e, a partir disso, passa a descartar qualquer análise ou indício que aponte para o contrário. É fundamental que o investidor mantenha sempre a mente aberta e busque compreender diferentes pontos de vista para poder tomar decisões com maior chance de sucesso.
  • Aversão a perdas: estudos mostram que as pessoas costumam atribuir peso duas vezes maior para uma perda do que para um ganho equivalente. Este viés é o que leva muitos a evitarem investir em renda variável a todo custo, pois não suportam a ideia de verem alguma queda no valor do dinheiro aportado, mesmo com inúmeros estudos mostrando a importância de manter pelo menos uma parte da carteira em ativos de renda variável. É importante que o investidor tenha um plano antes de investir em qualquer ativo e evite se desfazer do mesmo por conta de possíveis variações de curto prazo que venham a ocorrer.
  • Viés de retrospectiva: representa a nossa capacidade de encontrar explicações aparentemente óbvias para qualquer acontecimento a posteriori. Hoje em dia, por exemplo, as bolhas da internet (2000) e imobiliária (2007), iniciadas nos EUA e com ramificações globais, parecem simples tragédias anunciadas, mas o fato de que pouquíssimas pessoas conseguiram prever estes crashes nas suas respectivas épocas demonstra que não era assim tão fácil chegar a esta conclusão. Como investidores, devemos ter cuidado para não nos penalizarmos em excesso por decisões passadas a partir de informações atuais que não nos eram disponíveis à época.
  • Viés de informação: vivemos em um mundo onde a informação é cada vez mais acessível e abundante, o que sem dúvida é um desenvolvimento altamente positivo, inclusive quando se trata de investimentos. De qualquer forma, é importante saber filtrar as informações de maneira a absorver apenas aquilo que é, de fato, útil para nós. Este viés trata do problema decorrente do excesso de informações sobre determinado assunto que pode acabar trazendo efeitos negativos caso este filtro não seja realizado. Uma amostra disso está no investidor de longo prazo que olha a cotação de suas ações várias vezes por dia, algo que não faz sentido para um investimento com horizonte maior, já que o máximo que isso pode fazer é causar algum tipo de consternação que vá fazê-lo querer se desfazer delas no caso de uma queda momentânea. Este efeito talvez explique um estudo que demonstrou que o período médio de manutenção de uma ação por parte dos investidores da NYSE (Bolsa de Valores de Nova Iorque) passou de um pico de 8 anos na década de 1950 para apenas 8 meses em 2016! [1]

Warren Buffett uma vez falou que “a qualidade mais importante para um investidor é o temperamento, não o intelecto.” Com isso em mente, minha sugestão é que cada investidor observe com cuidado os comportamentos citados e faça uma autoavaliação buscando compreender se tem se engajado em algum deles. Sem dúvida, levar esses vieses em conta no momento de tomar e executar decisões pode fazer com que cada um de nós tenha resultados muito melhores no futuro.

Se gostou do conteúdo, apreciaria muito se você pudesse curtir ou compartilhar a postagem!

Caso queira ser notificado de postagens futuras, sinta-se à vontade para me seguir aqui no Medium ou em outras redes sociais, onde posto conteúdos diários sobre finanças:

Twitter: @gutenbergn

Instagram: @gutenberg.n

--

--

Gutenberg Neto

Mestre em Informática pela Universidade Federal da Paraíba e co-fundador da Fuze.cc. Entusiasta de investimento em ações.