Hanneli Tavante
4 min readNov 30, 2014

Sobre ídolos, matemática, física e tecnologia

Faz três anos que saí da Universidade. Sempre fui muito rebelde e critiquei muito o sistema de ensino. Admito que não era das melhores alunas, tomei muitas DPs e não prestei metade da atenção que deveria ter prestado em diversas matérias. 'Por que tenho que ter 14 cadeiras de matemática na grade?', me perguntava, irada.

Nesses anos fui me envolvendo profundamente com software: Web, banco de dados, boas práticas, etc. Mas comecei a sentir um estranho 'vazio' de conhecimento. Meu cérebro estava entrando na zona de conforto. E isso faz mal.

E foi justamente aí que um daqueles eventos aleatórios ocorreu. Na ocasião eu viajava muito, toda semana, e gastava muitas horas em aeroportos e dentro de aviões que sempre atarsavam. Precisava ocupar esse tempo com algo mais desconfortante que Pokémon ou livros de Agatha Christie. E foi então que decidi dar uma chance a "Universo numa Casca de Noz".

E algo estranho ocorreu no meu cérebro. Inteletualmente (saí buscando várias conceitos que haviam no livro) e emocionalmente. Passei horas refletindo sobre a existência física do Universo e minha própria existência. Nessas reflexões tive momentos nostálgicos da Universidade (certamente não das provas, mas de alguns poucos professores que realmente me ensinaram coisas úteis de maneira respeitosa). Até cheguei a enviar um email para alguns no auge da nostalgia emocional.

Ocorre que a leitura de "Universo numa Casa de Noz" me remeteu a buscas no Google que envolviam fórmulas matemáticas e teoria quântica — que meu conhecimento restrito de ex aluna que dormia nas aulas não dominava. Mas diferente da época universitária, onde minha única motivação para ver algum conteúdo era 'não tomar DP', agora eu tinha uma motivação real para aprender cálculo e física.

Ainda falando de "Universo numa casca de Noz", senti aquela sensação horrível de finalizar um livro que mexe com você emocionalmente —" e agora, o que eu faço?" E pior, o livro deixa muitas questões em aberto. Minha única alternativa era entender melhor essas questões. E para isso eu tinha que dominar matemática e física.

Foi então que parti para a leitura de "As grandes Equações". Esse livro me trouxe um lado humanizado dos grandes nomes das ciências exatas. E me peguei imaginando histórias de como Maxwell chegou em suas equações ou como a vida foi dura para Euler. E de respente me peguei pensando: "Puts, esses caras foram fodas!" E de repente olhei para isso:

E encarei com a maior naturalidade. Essa fórmula foi feita por uma pessoa.

E me peguei pensando se eu teria capacidade para inventar fórmulas. E me lembrei da época da escola, que eu mandava super bem em matemática e física. Recordei-me que muitos colegas repudiavam as ciências exatas. Por que será? Tenho pensando nisso.

E pensando nisso comecei a cultivar uma admiração incontrolável por ciências exatas. Imaginar que uma tomografia se concretizou graças a um matemático é sensacional. Passei a admirar o acender e apagar de luzes. Admirei também os push notifications recebidos pelo sinal do 3G. TUDO ISSO foi pensado por pessoas que toparam encarar as ciências exatas. Por que tanta gente repudia isso?

E comecei a pensar que o ensino de exatas é um tanto complicado. Comecei a pensar em técnicas para humanizar o ensino de exatas — talvez assim mais gente tome gosto pela coisa. Que tal tentar ensinar frações com comida? Ensinar tensores com algum problema concreto de telecom? E por aí vai.

Queria compartilhar esse outro lado das ciências exatas com as pessoas. Sinto uma empolgação enorme toda vez que me deparo com um problema para resolver. Uma empolgação tão grande quanto vencer a liga Pokémon caso o problema seja difícil.

Passatempos matemáticos servem de entretenimento, diversão e exercitam o cérebro de muitas formas. Ian Stewart é um grande mestre nisso, por tentar popularizar a matemática. E dou todo meu apoio a ele — temos que quebrar o tabu que 'matemática e física' são difícieis. Não são! Na maioria dos casos é só o cérebro preguiçoso que prefere reclamar do que resolver o problema!

Certo dia estava na livraria Martins Fontes (que tem uma ótima seção de livros de exatas!) e um grupo discutia sobre o Ensino Médio no Brasil. Um deles disse: 'é horrível, se um jovem quer gastar mais tempo aprendendo sobre Hegel ele não pode e tem que ir estudar números complexos, mesmo que deteste'. A matemática e as ciências exatas no geral sofrem essas 'micro-agressões'. No meu caso era o contrário! Se eu pudesse ficava só nas contas durante o ensino médio. Assume-se que ninguém quer estudar exatas e os que o fazem são por pura obrigação. E o prazer de descobrir semelhanças? E a sensação de "EU SOU FODA" após resolver aquela integral tripla demoníaca? Não, gente. Ciências Exatas também podem dar prazer.

Certo dia estava conversando com uma colega. Perguntei "quem é seu ídolo atual?" Ela respondeu algum ator de "O Hobbit". 'E o seu?' Respondi 'Euler'. Ela perguntou se era de algum filme ou de alguma banda. Ela não é obrigada a saber quem foi Euler, mas não precisava assumir que seria alguém do ramo de Música ou Cinema. Ídolos podem vir de qualquer lugar.

Queria registrar nesse post meu momento de admiração pelas ciências exatas. Queria contribuir para a sociedade de alguma forma — inventando ou propondo um novo teorema de alguma coisa incrível, por exemplo, haha. Brincadeiras a parte, queria levar as ciências exatas de forma mais simples e apaixonada para as pessoas. Ainda não achei uma boa forma de fazer isso, porque diferente do mundo de Software, onde posso dividir conhecimento com as pessoas através de conferências, não tenho muito acesso aos núcleos de matemática e física. Ainda quero descobrir um meio eficaz ☺

Hanneli Tavante

Software developer, Engineer, Programming Languages, electronics, Science, Maths, bookahoolic, tech, Pokémon, Lego, animals, coffee drinker.