Sobre eSports e objetificação da mulher

Hellen Oliveira
3 min readNov 17, 2015

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Segundo o site sobre jogos, Polygon, a audiência do eSports no ano passado esteve entre 70% e 96% de assiduidade do público masculino, não existindo competidoras ou equipes formadas somente por mulheres na maioria dos campeonatos. O espaço feminino dentro deste tipo de competição é extremamente limitado, e isso está diretamente ligado a visão que se forma acerca da atuação das mulheres quando se trata de eSports.

Print retirado da página https://www.facebook.com/VNCGAMES

Este print tirado da página VNC CSGO ilustra a realidade triste do machismo, da cultura do estupro e da objetificação pelas quais as mulheres são expostas todos os dias no mundo gamer. Desde o teor da postagem, a qual sexualiza as competidoras da CLG Red, até os comentários do post que passam por exposição e apologia ao estupro.

A objetificação feminina é utilizada e reproduzida constantemente em páginas, fóruns e sites relacionados a jogos, colocando-as como entretenimento ao verdadeiro público alvo, os homens. Usadas como moeda de troca para o fetichismo masculino, construídas através de um esteriótipo de mulher sexualizada que não sabe o que está fazendo, não tem a mínima aptidão ou capacidade para aquilo, apenas procura chamar atenção por se diferenciar das demais, além de toda problemática que o fetichismo abarca, há a questão do porquê uma mulher gamer é diferente. A resposta está nas estatísticas, o meio é majoritariamente masculino.

A falta de valorização da mulher não está apenas no discurso misógino de competidores e espectadores, a diferença nas premiações traz a tona as disparidades de tratamento entre homens e mulheres, enquanto o jogador mais bem pago do eSports recebe $ 1.985.992,36, a mulher mais bem paga recebe 122.000,00, ou seja, $1.863.992,36 de diferença, e conforme a lista vai decrescendo em valores as proporções não melhoram em nada.

Na tentativa de diminuir a barreira de gênero, organizações como a Blizzard e a Federação Internacional de eSports passaram a organizar ligas somente para equipes femininas, mas essa ainda é uma alternativa rasa, paliativa, diante do preconceito de gênero. É necessário criar um espaço seguro e livre de misoginia para as mulheres, na qual estas possam mostrar a qualidade do seu trabalho, mas segregar as competições por segregar não nos levará a nada, é necessário expor os discursos misóginos e fazer um trabalho de base mostrando o quão errado é por exemplo sugerir que uma equipe masculina deveria “estuprar” uma equipe feminina. Termos como este são usados no sentido figurado como se isso atenuasse a violência que ele contém, mas na verdade só exalta um comportamento de abuso que deve ser duramente combatido.

O espaço seguro e o debate de gênero devem ser fomentados em todo meio do eSports, hostilizar todo comportamento machista, misógino e violento é necessário na luta por um ambiente mais igualitário. Mulheres, não devemos nos calar diante de comentários como estes, vamos expor esse machismo que não se dá nem ao trabalho de esconder suas intenções, retomo a campanha mais do que necessária no combate ao assédio: vamos fazer um escândalo!

Para mais informações sobre o eSport feminino acesse: http://www.go-female.com/

(agradecimento: André Teixeira, que me ajudou a recolher as informações)

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