Querida Regina Duarte, o humor de 1950 era uma bosta.

Hell Ravani
3 min readOct 29, 2018

Eu não tenho certeza se as pessoas tão má intencionadas ou realmente fora de si, mas é impressionante aonde tão indo pra justificar os absurdos do Bolsonaro. A Regina Duarte, aquela mesma tia que todo mundo falou pra você que era a namoradinha do Brasil — — o que é muito estranho porque se eu fosse um país eu ia querer pegar outros países também, e, conhecendo o Brasil, sei que eu seria o país que pegaria geral, não aquele disposto a namorar alguém que diz:

(no) Bolsonaro pessoalmente , encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha.

Cara, não existe você falar que é homofóbico da ~boca pra fora, como se fosse uma piada. Até porque piada é sobre outra coisa, não deveria servir pra legitimar preconceito. Quando você faz isso, tá usando o humor pra tocar na verdade daquele que tá disposto a rir dessa ~piada, porém, a graça não existe de fato, existem dois preconceituosos se reconhecendo, se celebrando. No fundo vocês concordam com desigualdade e não seguram essa onda errada que é celebrar preconceito. Rapidamente, fogem pela tangente, dizendo ~AH, MAS ISSO É SÓ UMA PIADA….. a meu ver porque sabem que historicamente precisam se adaptar no discurso. Isso não é novidade. Nem é novidade quem tente se passar por essa tão sonhada NOVIDADE.
Isso não existe, não é uma piada. Voltem pro armário VOCêS ou segura a onda de ser homofóbico, porque piada não tem nada a ver com isso.
E graças a Deus, o humor evoluiu prum mundo onde podemos e devemos criticar esse estilo de humor usado como massa de manobra pra normalizar crimes como o racismo.

Regina Duarte fala como se o humor daquele tempo estivesse extinto, sepultado com seu paizão, mas nos idos de 1950, estreava um tóxico programa de humor que vive até hoje:

Praça da Alegria (diversas emissoras, a partir de 1953)
Um dos programas de maior duração na TV que se tem notícia, A Praça da Alegriaestreou na TV Tupi em 1953 e continua no ar até hoje, com seu herdeiro A Praça é Nossa.

Clássicos como esse, onde um homem bate, xinga e grita com sua companheira gratuitamente (veja aos 2:37, no final também aos 5:07 e etc)

Esse bem mais recente, ridicularizando feminismo e violência doméstica:

Bem diferente do standup lá fora, que já ensaiava seu tom progressista, dando o mínimo espaço a figuras inusitadas como Moms Mabley, uma comediante negra, que defendia seu lugar de fala. Nessa performance ela assume o medo de ser uma mulher solteira e os abusos do marido, mas declara que queria ser um cachorro e ele, a sua árvore. O mais perto que o feminismo chegava dos palcos grandes, naquela época.

Então, valeu aí, Regina, mas o humor de 1950 era uma bosta. Sem quase nenhum senso crítico, era uma forma de fazer os privilegiados gozarem as custas dos outros achando que tava tudo bem. Nunca devíamos querer voltar pra esse humor como se tivesse tudo bem, não, não estava.
ACORDA, meu bem, tem metade do seu Brasil que nem concorda contigo.

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