Future QBs: Baker Mayfield, Oklahoma

Henrique Bulio
6 min readNov 25, 2017

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Procurem no Google por jogadores que adentraram o futebol americano universitário como walk-ons e que tiveram grande sucesso na liga e você encontrará bons nomes — Antonio Brown, J.J. Watt, Jordy Nelson são alguns desses exemplos. Assim como toda exceção, contudo, a existência das mesmas não significa que todos tiveram as mesmas oportunidades. Uma fração irrisória de jogadores walk-on no College Football chegam à NFL, diga lá tornam-se estrelas.

Baker Mayfield, o talentoso (e polêmico?) quarterback de Oklahoma, é um desses que se encaixam na definição. Isso porque, saindo da Lake Travis High School, a chegada do jogador a NCAA em 2013 foi na condição descrita acima: Mayfield preferiu adentrar uma escola melhor (no caso, Texas Tech) mesmo sem uma bolsa de estudos do que aceitar a mesma vindo de outra universidade de menor expressão (Florida Atlantic).

O que se seguiu foi um ano cheio de reviravoltas. Mayfield foi declarado titular após a lesão de Michael Brewer (coincidentemente, também um antigo jogador da Lake Travis High School) e se tornou o primeiro calouro walk-on a começar a temporada como quarterback titular numa universidade pertencente a uma Power Five Conference. Terminou a temporada sendo declarado o Calouro Ofensivo do Ano na Big 12 e, ainda assim, se transferiu para Oklahoma depois de problemas com Kliff Kingsbury. Depois de um ano impedido de jogar pelos Sooners devido a regras de elegilibidade da NCAA, Mayfield venceu Trevor Knight na disputa pela titularidade da equipe e nos dois anos seguintes liderou um dos ataques mais explosivos do país, tendo encerrado 2015 e 2016 em quarto e terceiro na votação do Heisman Trophy — prêmio dado ao melhor jogador da temporada do College Football.

Em 2017, Mayfield encerra seu período de elegibilidade na NCAA. Até o presente momento, Oklahoma possui o melhor ataque em termos de eficiência ofensiva e também de S&P — duas métricas avançadas que medem o poderio dos 130 ataques da FBS. Além disso, a temporada atual registrou um recorde para o quarterback em sua carreira universitária: durante o jogo anual contra a rival Oklahoma State, Mayfield lançou para 598 jardas e cinco touchdowns num jogo que se encerrou com o placar de 62–52.

É claro que números impressionantes e explosivos no College Football de nada significam quando o assunto é a transição rumo à NFL — caso contrário, só se veriam quarterbacks da Big 12 na liga profissional. Embora o estilo de ataque imprimido na universidade pese para os scouts quando o assunto é avaliação de prospects, isso não seria um problema tão grande para o valor de Mayfield no Draft que vem: Oklahoma adotou na atual temporada diversos conceitos pro-style, o que ampliou os horizontes de seu principal jogador quanto ao comando de um ataque. Os Sooners estão longe de universidades como USC, é claro, mas a mudança é evidente.

O que há de bom:

  • Precisão;
  • Lançamentos em movimento;
  • Decision-making;
  • Mobilidade;
  • Líder nato;

Meu fator favorito quando se pensa em Mayfield é o quanto ele representa para o programa como um todo: vê-se que o jogador sente Oklahoma. É o que chamamos de líder nato — nota-se facilmente o quanto seus companheiros de equipe amam jogar junto com Baker. Isso é MUITO importante.

Em campo, o fator precisão vem com um asterisco: o ataque de Oklahoma não força Mayfield a fazer passes tão difíceis como se verá necessário na NFL; ainda assim, o jogador notoriamente coloca a bola em posições favoráveis para que seus recebedores conquistem mais jardas após a recepção, assim como toma boas decisões durante as partidas.

Os fatores “mobilidade” e “lançamentos em movimento” se combinam aqui: dentre as comparações que eu já vi, uma que muito me chama a atenção é a de Johnny Manziel e, pessoalmente falando, não concordo: Manziel era um jogador elétrico de forma diferente, quase sempre correndo com a bola quando saindo do pocket; já Mayfield, que também costuma deixar a zona de proteção com relativa frequência, continua explorando as opções de passe quando em movimento — além de ser um excelente jogador quando nessa situação.

O que há de ruim:

  • Altura;
  • Preocupações com o caráter;
  • Vem de uma spread offense;

Existe um consenso geral de que a altura mínima para os scouts não se preocuparem com esse fator na liga profissional é algo em torno de 1,89m; Mayfield é listado pela universidade com 1,85m. Na liga profissional, os únicos quarterbacks titulares com menos de 1,89m são Russell Wilson (1,80m); Drew Brees (1,83m) e Tyrod Taylor (1,85m). Ser baixo é obviamente horrível para um quarterback, que tem de ver por cima de sua linha ofensiva para poder ter uma visão completa do campo.

É difícil julgar a deep ball de Mayfield de um modo geral e nem mesmo há um consenso sobre o assunto: alguns, como o Pro Football Focus, argumentam estatísticamente que os passes longos do mesmo estão em ótimo nível; já outros apontam que a baixa estatura do ex-Red Raider força uma alteração nas mecânicas de passes longos, o que causa uma redução na precisão destes e quase sempre um lançamento aonde o recebedor precisa fazer um ajuste para trás buscando completar a recepção.

Por fim, o que mais vai pesar na cabeça dos avaliadores quando chegarmos à Draft Season serão sem dúvida as questões não-relacionadas ao football em si; em fevereiro deste ano, Mayfield foi preso no estado do Arkansas e um vídeo bizarro de sua prisão pode ser visto no YouTube; outro acontecimento que pesará negativamente à favor de Baker será a série de acontecimentos no jogo contra Kansas: viu-se o jogador fazendo gestos obscenos em direção à sideline adversária durante a partida, além de ter dito a um torcedor dos Jayhawks que ele deveria torcer pelo basquete da universidade (os jogadores de Kansas não são nem um pouco inocentes aqui, mas não é esse o foco da discussão). Como consequência, Mayfield foi retirado da posição de capitão da equipe e sua titularidade para o jogo contra West Virginia foi retirada.

Quatro descidas:

  • Comparação na NFL: Fico com a maioria aqui e vejo em Baker Mayfield um jogador parecido com Russell Wilson. Ambos são baixos, mas possuem excelente mobilidade e facilidade para criar boas jogadas fora do pocket; a diferença é que Wisconsin notoriamente imprimia um ataque com conceitos pro-style na última temporada de Wilson; Mayfield joga numa spread offense em Oklahoma.
  • Aonde ele se encaixa: Essa é uma discussão bastante interessante. Mayfield é o tipo de jogador muito bom em diversas áreas, mas que não é completo e precisaria de um ataque desenhado totalmente para que suas qualidades fossem maximizadas. Considerando um cenário no qual o Cleveland Browns troque de treinador e busque um novo com background ofensivo em 2018, Mayfield poderia ser um nome ideal para investir o futuro da franquia. A possibilidade do Sooner trabalhar com John Morton no New York Jets ou até mesmo ser draftado pelo New York Giants e aprender um ou dois anos com Eli Manning também é interessante.
  • Ele está pronto pra jogar desde o primeiro dia: Vindo de uma spread offense, Mayfield teria de aprender um playbook e diversos conceitos novos em apenas uma offseason; de toda forma, vimos o mesmo tipo de discussão se repetir com Deshaun Watson no ano passado, e Watson era o jogador mais elétrico em toda à NFL até romper o ligamento do joelho no mês passado. Mayfield muito provavelmente pode ser o starter de alguma franquia desde o primeiro dia da temporada de 2018.
  • Projeção para o Draft: Mayfield é o segundo quarterback com minhas maiores grades da classe atual, mas assim como sua queda ao fim da primeira rodada seria justificável, também não seria surpresa vê-lo sendo escolhido com a primeira escolha geral. Num ano recheado de nomes interessantes para a posição, Mayfield não deve passar do topo da primeira rodada.

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Henrique Bulio

Numa eterna cruzada contra o feijão por cima do arroz.