Sobre Fazer as Coisas Com o Coração

Henrique Lira
2 min readFeb 28, 2017

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Sr. Carlos Lopes, violonista, 93 anos

Em uma noite fria e chuvosa de fevereiro, no bairro de Alfama, Lisboa, entramos em uma pequena portinha que dizia Viela do Fado.

Fado significa destino. É um estilo de música tipicamente português e, como bem explicado pelos próprios fadistas: “uma música feita para ser cantada com o coração”.

De acordo com eles, não são as mais belas vozes que fazem sucesso, mas sim aquelas que cantam com a alma. Estava prestes a entender isso melhor.

Os dois músicos da noite entraram pela porta da frente e passaram apertados por entre as mesas cheias de expectadores. Um deles era esse senhor simpático, sarrista e bem-humorado que me inspirou a fazer esse singelo texto.

Senhor Carlos Lopes, 93 anos de idade, violonista, toca há 78 anos. Basicamente meu pai nem pensava em nascer e o sr. Carlos já estava com um violão no colo.

Sua personalidade já cativava, mas foi quando ele começou a tocar que ele me fisgou totalmente.

Ele tocava notas extramamente complexas com uma facilidade que causava tontura acompanhar seus dedos dançantes. Querido marujo e maruja, ele usava até o dedão pra tocar, quando lhe convia.

Não só isso, mas de alguma forma eu sabia que ele não queria estar em qualquer outro lugar do mundo naquele momento.

Aquele senhor simpático não estava só tocando aquele violão brasileiro de mais de 50 anos — ele estava celebrando a vida através das suas notas.

Depois de desejar boa noite ao sr. Carlos e ir embora com o coração apertado do lugar, pensei:

A gente faz as coisas com o coração justamente quando não tentamos fazê-las com o coração. Deixamos nossa vontade maior tomar conta do avião e voamos, sem hesitar.

Obrigado, sr. Carlos Lopes. Espero assistir o senhor tocar novamente um dia!

E para quem se interessou em escutar fado:

Obs.: Acabei encontrando um documentário bem intimista sobre a Viela do Fado. Bem interessante! :-)

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