Eu sou machista. E acredito que todo homem, em maior ou menor grau, também é.

Henrique Mirai
3 min readMay 27, 2016

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Dois fatos me fizeram pensar isso: Uma piada tosca e um caso de estupro coletivo.

O caso de estupro coletivo acredito que eu não preciso falar qual é.

Já a piada tosca aconteceu quando eu caminhava com a minha namorada pela rua e vi um monte de purpurina no chão. Eu olhei pra aquilo, olhei pra ela e disse: “ok, vou fazer uma piada tosca: morreu uma bicha aqui?”. Ela concordou com a tosquice, eu também e seguimos o nosso caminho.

Mas sabe qual foi o maior problema disso tudo pra mim? Ela não teve graça. Não só para a minha namorada, ela não teve graça para mim.

Então por que eu contei ela? Eu não sei. Provavelmente (quase certo) por um gatilho, já que eu ouvi isso em algum momento e reproduzi ali. E é por isso que eu sou machista.

A nossa cultura é machista. Se você tem a minha faixa etária pra cima então (25–35 anos), é quase certo que você foi criado em um ambiente machista. E mesmo que você se considere “desconstruído”, eu aposto que no fundo da sua psique ainda existe aqueles resquícios, que não aparecem só em forma de violência e/ou submissão.

Se você considera que uma mulher precisa de ajuda para carregar algo pesado enquanto um homem da mesma estatura e porte não, você está sendo machista. Se você duvida quando uma mulher fala que é capaz de fazer algo porque acha que ela não pode disputar com os homens em pé de igualdade, você está sendo machista. E por aí vai.

E é por isso que por mais que doa ler que é nossa culpa 30 (ou 33) homens terem estuprado aquela mulher, não deixa de ser verdade. Porque a raiz daquilo está no machismo.

E como você, homem, pode ajudar a mudar isso?

Em primeiro lugar, aprenda a respeitar o outro e o “não” que ele disser. Isso significa que se uma pessoa diz que está incomodada com uma piada/comentário/ideia sua, não fale mais na frente dela ou de qualquer outra pessoa que você ache que vá se sentir da mesma maneira. Se isso for impossível — e se for eu lamento mas você tem um belo problema de socialização aí — pare de frequentar esses lugares ou andar com essas pessoas.

Em segundo lugar, busque ouvir. Pare e se pergunte porque a sua piada/comentário/ideia incomoda. Analise, tente entender o lado do outro. E pelo o amor de tudo que é mais sagrado: não fale que você vai mudar a sua ideia só porque te falaram que você precisa. Isso não é mudança, é submissão. Se você realmente não consegue entender o que o outro diz e o porque de sua ideia/opinião/posicionamento o incomodar/ferir, então ao menos respeite isso e saiba quando e como expressá-la.

(Ah, e não é pecado falar uma coisa e mudar de ideia depois. O pecado é insistir em algo que você não concorda mais por simples orgulho.)

Em terceiro lugar, ajude o outro que se sente incomodado a ser ouvido. Mostre, com argumentos, exemplos ou simplesmente não rindo quando for uma piada tosca, como a ideia daquele que incomoda fere quem está ouvindo. Se os argumentos do outro (ou os seus) não o fizerem mudar de ideia ou pelo menos o fizerem pensar, que então ele entenda que quando estiver naquele meio aquela atitude não será aceita. Se ele estiver aberto a isso, tente ajudá-lo a entender o outro que se sente incomodado/ferido.

Em resumo: Respeito > empatia (e mudança) > Espalhando a idéia.

Isso vai impedir que outros 33 homens estuprem uma jovem no futuro? Quase certo que não. Mas acho que não deixa de ser um bom começo.

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Henrique Mirai

Designer web, fotógrafo nas horas vagas, nerd/geek fã de Doctor Who e Star Trek. Você também pode achá-lo em henriquemirai.com.br