“O que meus ídolos achariam disso?”

Gabriel Hislla
4 min readMar 11, 2016

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No último domingo, 6 de Março de 2016, eu completei 22 anos.

grande ernesto

Desde muito cedo sou afligido de uma preocupação descomunal com a passagem do tempo. Tenho um terror muito consciente de o quão rápido a vida passa desde os 14 anos de idade, quando estava no meio do ensino médio, e estaria sendo omisso se não confessasse o arrepio que me deu pensar quanto tempo faz desde então. No meu aniversário descobri que conheço um amigo de ensino médio há 8 anos. Meu deus, eu lembro quando eu tinha 8 anos de idade.

Não sei se causa ou consequência dessa cronofobia, mas penso demais em o que tenho feito da minha vida, o que quero conquistar, aonde quero chegar com ela e perto de aniversários esses pensamentos vem à tona com a velocidade e o peso de um submarino em fim de guerra. Sendo sucinto, posso te dizer que eu não quero pouca coisa da vida. Me espelho em pessoas muito grandes e parando pra pensar não sei porque não faria isso. Eu não sei porque não ser ambicioso. Eu não sei porque eu não deveria querer ser um Hemingway ou um Bukowski ou um Eisner ou um Michelangelo, entende? Talvez mirando alto demais eu consiga ser algo mais do que medíocre.

Vamos agora falar sobre mediocridade.

Há poucos dias vi o seguinte tweet do Renato Alarcão, que é uma das minhas maiores referências nacionais em ilustração:

Corta pra alguns anos atrás. 2012, se não me engano. O Alarcão veio dar um workshop promovido pelo escritório de design no qual eu trabalhava, a saudosa Karuana. Lembro-me bem no fim do curso, enquanto o Alarcão tomava uma heineken que eu por um tempo até guardei a tampa, quando comecei a encher o ouvido dele com perguntas pretensiosas sobre carreira e estilo e coisas que eu estava muito longe de ter direito de me preocupar. Pacientemente e com bom humor, Alarcão me pediu pra ter paciência.

Nesse mesmo dia tirei uma foto com o Alarcão na qual nós dois imitávamos o Steve Jobs, mas infelizmente a foto se perdeu como lágrimas na chuva

Outro cara que admiro muito é o Rafo Castro, cê conhece? Apesar de ter um estilo de ilustração completamente diferente do que eu pretendo ter, é uma das minhas maiores referências de prática de design e ilustração no Brasil. Eu poderia falar muito sobre, mas basta de dizer que virei ilustrador por causa dele. O Rafo viu meu primeiro trabalho e me deu incentivo o suficiente pra que não fosse o último. Nos primeiros trabalhos que eu fazia ele tava lá, me dando opinião, me dando toques.

Corta pra alguns anos depois e estou ouvindo um podcast com o Rafo, o Clichecast #26, e ele começa a desenhar uma carapuça que me serviu perfeitamente. Falou da pressa que a minha geração tem em se mostrar e querer ter um “estilo” e como fazem de tudo para terem fama, menos trabalharem. Tenho certeza que a minha mente registrou o que ele disse de forma mais chocante e que ele não usou essas exatas palavras, mas a essência foi essa. Fiz um rápido retrospecto mental e vi que eu tinha me tornado aquele exato tipo de pessoa. Meu trabalho tinha se tornado apenas fazer coisas medíocres para receber likes no facebook.

Independente da área criativa, imagine o método: Ter uma ideia boa, executá-la o mais rápido possível (terminando só o suficiente para criar forma, sem ter o cuidado de aparar e refinar e lixar todas os defeitos e pontas soltas), postar em redes sociais e passar mais tempo colhendo os frutos em forma de curtidas em comentários do que passei executando o trabalho. Agora imagine uma obra que você gosta de alguém que você admira: Você acha que ela seria um décimo do que é se quem a fez seguisse esse método? Se você acha que sim, está sendo ingênuo ou otário.

Mas então porque minha geração acha que esse método funciona? De onde a gente tirou que é uma boa ideia?

Se você me perguntar o que acho, talvez estejamos mais preocupados com fama do que em melhorarmos.

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