Rapper do boygroup MONSTA X, I.M (ou Im Changkyun) fez um debut solo com a mixtape “DUALITY”. Aqui conhecemos um I.M diferente do que estávamos acostumados a ver, ao mesmo tempo que muito familiar os fãs. Temos uma faceta muito diferente daquela enérgica, animada e cheia de carisma mostrada no trabalho com o MONSTA X, mas aqueles que acompanhavam o grupo com certeza já notavam o lado mais sóbrio, reflexivo e introvertido do maknae que agora nos é apresentado musicalmente.
O nome “DUALITY” remete a um conceito que I.M considera estar sempre impactando sua vida, possuindo até uma tatuagem que o representa (os símbolos “:):”, que podem representar um emoji sorrindo ou triste dependendo do ponto de vista). Os sentimentos brutos e diretos por trás da mixtape vêm de reflexões sobre momentos onde podemos estar tristes e angustiados devido a vários fatores, mas ainda felizes e satisfeitos devido a outros. Especificamente para um idol como I.M, também pode significar ter que sorrir e expressar muita energia devido ao seu trabalho mesmo quando está emocionalmente perturbado ou sob pressão.
Percebemos uma estética sonora muito clara e coesa durante todo o EP, com vocais repletos de efeitos e instrumentais alinhados com o hip-hop moderno. Apesar da linearidade, as faixas foram bem trabalhadas para evitar a monotonia. I.M possui uma boa proficiência com o inglês e o utilizou extensivamente em quase todas as letras, tornando-as mais acessíveis para ouvintes ocidentais.
Faixa-a-faixa:
- “God damn”: através de comentários do próprio I.M, sabemos que a faixa-título da mixtape fala sobre enganar a si mesmo se dizendo que está bem, quando deveria reconhecer que não está. O refrão e boa parte do pré-refrão são em inglês. A música possui boas doses de sensualidade, embora seja uma mais sutil, diferente daquela usada pelo MONSTA X. Existe um uso pontual de adlibs no segundo verso, com efeitos de autotune que os tornaram interessantes e fazem uma pequena pausa no ritmo. Faz um bom trabalho em estabelecer qual será o ritmo para as próximas faixas.
- “Howlin’”: uma faixa totalmente em inglês, agora lidando com um conflito entre almejar alguma coisa mas não se sentir totalmente realizado por ela enquanto a conquista. Um estado de confusão, que nos levaria a questionar o que queremos de verdade se afinal não conseguimos ficar satisfeitos. A introdução usa toques de piano, que retornam pontualmente no decorrer da música. Os vocais são um pouco mais rápidos e com um pouco de agressividade, entregando a vontade de seguir adiante mas sem perder o sentimento angustiante.
- “Burn”: acompanhando a agressividade da faixa anterior, esta intensifica um pouco a batida. São diferenças sutis, porém sentidas ao se escutar o EP como um todo. O coreano se sobrepôs ao inglês agora, embora haja bastante ênfase em um verso falando que não quer mais perder tempo com o passado. O autotune é mais suave nessa música, ressurgindo intenso quando I.M. fala “burn” ou “fire” — sempre sincronizado com a batida.
- “Happy to Die”: apesar do nome, se trata da faixa romântica do EP e fala sobre se sentir perdido em uma paixão. Se destaca por possuir o instrumental mais diferente entre os demais, embora a batida grave se mantenha presente. A declamação dos versos é muito envolvente, com I.M colocando ênfase em palavras familiares mesmo ao fã ocidental de música coreana, como 좋아 (“joah”, que pode significar tanto “gostar” quanto “estar bem”). A música termina com um fadeout da voz de I.M enquanto diz “lost in forever”, nos deixando também perdidos em um sentimento que se estende indefinidamente.
- “시든 꽃 (flower-ed)”: a faixa de encerramento do EP é totalmente em coreano, com seu título nativo significando algo como “flores murchas” ou “flores secas”. Possui um ritmo lento, com I.M declamando devagar em um tom mais baixo acompanhado de uma batida melancólica que lembra muito lo-fi. Essas impressões foram feitas antes de buscar traduções da letra, impossibilitando um comentário temático preciso. O vocal termina de forma súbita em um refrão e nos deixa com um breve encerramento instrumental, trazendo novamente a sensação de um sentimento que embora tenha se contido naquele momento continuou conosco.
Talvez a melhor palavra para descrever essa mixtape, além de seu título, seja “personalidade”. Aqui, temos I.M se destacando não pelo seu papel como membro do MONSTA X, mas por seus sentimentos mais profundos. Muitas dualidades são expostas, começando logo pelo idol enérgico e o rapper mais contido, a sensualidade intensa contraposta a uma mais sutil, a energia explosiva dos palcos junto do questionamento daquilo que nos impulsiona. I.M nos mostra suas dualidades, as contrasta, mas não parece as colocar em conflito — pois cada uma delas é um fragmento de um artista completo.
As faixas giram em torno de 2 minutos e 40 segundos de duração, com apenas a title sendo mais longa e contando com 3 minutos e 30 segundos. Apesar de curto, o EP não parece passar tão rápido; as faixas possuem a duração ideal para a proposta. Deixa um gosto de “quero mais”, com certeza o monbebe (nome dado ao MX para seu fandom) está ansioso por futuros trabalhos do rapper maknae!
Minha música favorita foi “Howlin’”, pelo tom mais agressivo; embora tenha gostado muito também de ser envolvido pelos vocais de “Happy to Die”. Não deixem de comentar a favorita de vocês, e apoiar muito os projetos do I.M.
Assista ao MV de “God damn” |Ouça o álbum no Spotify
[Escrito originalmente em 06.03.2021]
