cúmplice, sim
fui evangélico durante a maior parte da minha vida e lembro de pirar muito com algumas coisas da bíblia.
jesus foi um cara foda, inclusive.
mas queria compartilhar com vocês uma das coisas que eu lembro de ter aprendido.
sempre achei bem louco o negócio de chamar os outros de bem ou mal-aventurados, escarnecedores… acho chique esse refinamento todo.
daí tem um salmo que fala o seguinte: “bem aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”
é meio que aquele papo do dito popular “diga-me com quem tu andas que eu te direi quem és”, tá ligado?
corta.
brasil, agosto 2020,
mais um episódio de racismo no meio cervejeiro.
mais um episódio de racismo no meio cervejeiro.
mais um episódio de racismo no meio cervejeiro.
mais um, sacou?
uns babacas foram pegos no pulo do gato sendo racistas e a coisa se tornou pública.
para além dos crimes cometidos (crimes, viu, espero que respondam legalmente), queria falar sobre outras questões que esse episódio traz à tona.
a primeira delas é que esse não é o primeiro e não está nem perto de ser o último episódio de racismo. apesar de não ser lá uma grande primeira observação, ela tem uma implicação bastante tangível, que é a seguinte: outros episódios iguais ou piores estão para acontecer a qualquer momento.
a qualquer momento mesmo.
por essa mesma razão, o que vem acontecendo com a Sara e com a Implicantes é chocante, é triste, é horrível, mas, infelizmente, não é surpresa.
tudo isso vai seguir acontecendo porque o meio cervejeiro é um grande conluio de homens estúpidos com ideias estúpidas, atrasados, grosseiros e prepotentes e, em vários casos, burros. ignorantes mesmo.
e é um setor cujo público, em sua grande maioria, tentou e forçou uma abstenção da discussão política até que o cenário se tornasse insustentável.
“ain, cerveja e política não se discutem, vou seguir bebendo cerveja desse moço aqui que apoiou a candidatura de bolsonaro e que tirou foto com empresário fascista”.
meu irmão, até quando você vai achar que seu consumo não tem nada a ver com ocorrência de episódios como esse?
e não apenas o consumo de cerveja, mas de conteúdo também.
enquanto tua liberdade individual for mais importante do que pautas sociais e políticas, sim, você será cúmplice.
e a palavra é essa mesmo: cúmplice.
numa googlada rápida aqui, dá para achar a seguinte definição de cúmplice: “quem ou o que contribui de forma secundária para a realização de crime de outrem; codelinquente.”
codelinquente é uma ótima palavra também.
pois então, vocês que fecham com essa galera todo aí são codelinquentes, combinado?
confesso que ando tão enojado da cena como um todo que dei uma sumida das redes nos últimos dias, então não acompanhei o suficiente para ver se houve alguma retratação pública… mas isso não importa muito, na verdade.
de nota de repúdio o brasil está cheio, mas e ações?
meter um black is beautiful mas colar com racista? rs
nada pessoal, mas rs é um pouco esquisito, não é não?
outra coisa que eu queria falar para você, cúmplice e codelinquente, é o seguinte: nem vem com essa muleta que tão te cancelando, não.
você está sendo criticada ou criticado.
com razão, digassidipassagi.
então assume teus B.O.
você não é especial, meu amor, e tu é pessoa pública.
querendo ou não, tu é pessoa pública.
e pra tu que não é pessoa pública, o papo é o mesmo. tome nota.
enquanto estiver respirando, comendo e cagando, você tá sujeito & sujeita a errar e ser criticado & criticada.
você colou com os cara, num colou? cês são amiguinho, num são?
num vem tirar o teu da reta fácil assim não.
“ah, não tenho nada a ver com isso”
tem sim, minha filha.
e mais, num mete essa catracada de pipipipopopo-sou-não-sei-quem-vamos-aprofundar-o-debate…
“você sabe o que eu já fiz pela cena” is the new “você sabe com quem está falando?”
“cidadão não, influencer-sommelier-cervejeiro-e-os-caralho, muito melhor que você”, deu pra ouvir nas entrelinhas.
cancelamento é o caralho.
você tava colando com racista, homofóbico e misógino.
quer aprofundar o quê? bora lá. vem de inbox, bb.
vocês foram avisadas e foram avisados.
vocês sabiam quem eram essas pessoas.
e é claro que muita coisa é dita na privacidade de grupos de whatsapp… mas as falas machistas, homofóbicas, transfóbicas, racistas estavam todas aí, para quem quisesse ver.
às vezes mais, outras vezes menos evidentes. escondidas em postagens, participações em podcasts, entrevistas, comentários, confrarias & etc.
mas estavam ali.
aquelas piadinhas, sabe, que tu ignorou?
“fulano é foda rsrsrsrs”
aí quando a merda é jogada no ventilador, respinga em geral e você vem dizer que esse não tem nada a ver com esse pepino todo, fica em silêncio… isso te torna aliado dessa galera.
como disse bem um amigo, identificar os racistas escrotos é fácil.
é fácil chamar de racista um cara que faz piada com de negros & bananas, num é? os babacão que chama os outro de preto fudido, aquelas coisas baixa tudo.
chamar esse bonde de escroto é fácil.
mas e os migo e as miga desse bonde? chama de quê?
até quando você vai se dar ao luxo de se posicionar pra nada, zé? de não usar seu consumo como ato político? até quando você não vai entender que fechar com babaca te faz babaca por tabela?
acorda, fia.
e cuidado com o atropelo.
não queira estar do lado de lá quando acontecer.
cuidado com quem anda tu convidando pra sentar na tua mesa.
jesus que o diga, né não?
pra fazer colab, pra fechar contigo em lançamento de cerveja, pra produzir conteúdo.
cuidado com o que e com quem você anda bebendo.
cuidado.
e pra todo chorume racista da cena cervejeira do brasil e demais cuzzones além mar: a conta vai chegar.
o tempo de vocês acabou. suas portas vão fechar.
amém.
e mal aventurados sejam aqueles que seguirem colando com esse lixo da cena.
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