TETA Cheese Bar: o sarrafo subiu

Crítica HDB: bistrô, bar e empório num só lugar, TETA Cheese Bar sobe o padrão de estabelecimento gastronômico com cervejas artesanais em Brasília.

Mateus Vidigal
9 min readJun 11, 2018
fachada na comercial da 103 Sul

Assim que cheguei à quadra 103 Sul e vi a fachada do TETA, fiquei curioso em como seria o interior do estabelecimento. Algumas prateleiras, vitrines, queijos das mais diversas cores e formatos. Enquanto aguardava minha companheira chegar, do lado de fora do local, pensei:

“Não parece um lugar para se comemorar um aniversário de namoro”.

Assim que ela chegou, decidimos entrar e, para minha felicidade, eu não poderia estar mais errado.

Depois de passar por um mar de queijos, chopeiras e geladeiras, vejo um rosto conhecido.

Fomos recebidos por uma dessas pessoas queridas que a cerveja te possibilita conhecer. Murilo me dá um abraço e pergunta, como de praxe, se eu estava feliz.

“Cê tá feliz?”, mais precisamente.

Olho para o espaço e vejo mesas à direita e à frente, no térreo ou no pequeno segundo andar, na parte interna ou externa do estabelecimento.

Sentamos dentro mesmo.

Papo vai, papo vem, e eis que Murilo apresenta o cardápio.

Antes de qualquer coisa, devo dizer que gosto de pensar com um copo na mão. Então, na busca por uma bebida, olho para o quadro de chopes (4 torneiras), quase incrédulo...

Esfrego os olhos e olho novamente (quanto drama!):

Bamberg Maibaum e O Calibre!

“Há quantos anos não bebia um chope da Bamberg!”, pensei em dizer.

Mas aí lembrei que, na verdade, nunca bebi um chope da Bamberg.

Bamberg Maibaum, cerveja brasileira com alma alemã

A Maibaum, uma Helles Bock deliciosa, foi uma das primeiras cervejas artesanais que bebi na vida. Acredito que lá em 2012, em uma daquelas compras na famosa Mamãe Bebidas, de Belo Horizonte, melhor opção à época para se comprar cervejas especiais no Brasil.

Pedi um pint daquela maravilha. E adivinhe? R$ 17. Sim, pessoa-que-sabe-se-lá-por-qual-razão-está-lendo-este-texto, R$ 17 por 473ml de uma ótima cerveja artesanal.

Não bastasse o delírio inicial proporcionado pela Maibaum, a ótima O Calibre (German Pilsner) estava por R$ 16 o pint.

“Nossa, mas meio litro de cerveja? Isso não faz ela esquentar mais rápido?”

Calma! Como diria Einstein, isso é relativo.

Não era exatamente sobre cerveja artesanal que ele estava falando, acho… Mas, caso não queira correr o risco de ver sua cerveja esquentar, existem outros dois tamanhos: 200ml e 350ml, se não estou equivocado.

A esta altura do texto, você deve estar se perguntando:

“Mas, pera lá, esse lugar não é um bar de cervejas artesanais. É um estabelecimento de queijos artesanais, tanto que se chama TETA CHEESE BAR. Esse cara do Hora de Beber está escrevendo este texto bêbado?”

Prefiro não responder à última pergunta.

Mas sim, concordo com você ao dizer que não é um bar de cervejas artesanais.

Não é apenas um bar de cervejas artesanais.

Arriscaria dizer que, de forma direta ou indireta, o é também. Nisso, você pode concordar ou não, e nós podemos discutir…

Apesar de, sendo bem franco, achar essa discussão um tanto quanto perdida.

Afinal, como ignorar que, além das quatro torneiras de chope, existem mais algumas dezenas de garrafas e latas disponíveis nas geladeiras? De rótulos clássicos aos mais recentes, existe um real e muito bem feito trabalho de curadoria com as cervejas.

olhe só o detalhe nas torneiras de chope do TETA!

Portanto, ao menos na minha concepção (que não importa lá grande coisa, convenhamos), pode sim ser considerado como um bar de cervejas artesanais.

Ah, e tem vinho também. Muitos, pelo que pude perceber.

Calma, voltemos ao cardápio.

Já com um pint da Maibaum em mãos, ouvimos as ótimas explicações e sugestões do Murilo a respeito dos queijos disponíveis. Cada um viria com um acompanhamento elaborado especialmente pela casa.

Escolhemos uma tábua com quatro queijos, dos mais suaves aos mais intensos. E veja só que legal: além das descrições de origem e sensorial, cada queijo possui uma indicação de estilo de cerveja para harmonização.

Aqui estão os tipos que escolhemos naquele dia, simultaneamente, em porções de aproximadamente 60g, servidos em uma tábua:

Boursin Rima e geleia de laranja

Na categoria dos mais suaves, pegamos o Boursin Rima (R$ 16), um queijo feito a partir de leite de ovelha pasteurizado da Queijaria Rima (Porto Feliz/SP); veio acompanhado de uma geleia de laranja. Em seguida, na classificação “Macios e intensos”, o selecionado foi o Azulão, também feito a partir de leite de ovelha pasteurizado, daqui de Brasília, do Vale das Ovelhas (R$ 22); acompanhado de uvas desidratadas em calda (acho).

Azulão e uvas desidratadas

Já nos “Curadinhos”, o escolhido foi o Canastra Vale da Gurita (R$ 15), de Delfinópolis, Minas Gerais, feito com leite de vaca cru e medalhista de prata no Mundial du Fromage de 2017; veio com uma mostarda de morango deliciosa. Por fim, já nos “Extra curados”, Cuesta (R$ 21), derivado de leite de vaca cru da fazenda Sant’anna, de Pardinho, São Paulo, que passou por oito meses de cura em caves de maturação; veio com uma espécie de compota de figo.

Canastra Vale da Gurita e mostarda de morango

Cada um dos queijos já era incrível por si só. Quando unidos aos acompanhamentos, proporcionaram experiências incríveis! Só comendo para saber…

Cuesta e figos em compota, meu favorito da noite

Além disso, diria que é praticamente impossível não brincar de harmonização com os queijos e pratos disponíveis na casa e com as cervejas.

Eu mesmo, assim que provei uma das combinações dos queijos que pedimos (o Cuesta com compota de figos), não resisti e peguei uma Heilige Dubbel (R$ 33, 375ml) para testar… Deu muito certo!

Também funcionou bastante com o Azulão e as uvas desidratadas.

Heilige Belgian Dubbel

Se, por um acaso ou insegurança, não se sentir à vontade para escolher uma cerveja diferente e não tiver se interessado pelas cervejas das chopeiras, basta pedir uma recomendação para alguém do TETA. Pode ter certeza que saberão te ajudar.

Mas… só tem queijo?

Não, pode ficar tranquila/o.

Nessa única vez que fui, acabei não comendo outra coisa que não queijos. Como disse, eu e minha companheira dividimos quatro porções de queijo, tomamos algumas cervejas e finalizamos com uma sobremesa (já falo sobre ela) que já nos deixaram satisfeitos.

Mas ó, para você que não quer comer apenas queijos, preste atenção nos pratos que tem por lá:

Anéis de lulas cítricas, brusquetas, carpaccio de beterraba, torre de abobrinha, bolinhos de arroz e canastra, croquetes de pastrami, cubos de filet krafwerk, mac & cheese da roça, arroz caldoso de costela e aspargos braseados, polenta cremosa com ragú de linguiça, cheeseburger…

Entre outros! Preços variavam de R$ 18 a R$ 40 no dia que fui.

Não me sinto confortável para falar sobre algum deles por um simples motivo: não comi nenhum. No entanto, baseado na experiência com as outras coisas e confiando na confiável palavra de Murilo, tem muita coisa muito boa ali… Voltarei para conferir!

Agora, vamos falar sobre a sobremesa

Pare tudo o que está fazendo e repita três vezes a seguinte frase: “quando eu for ao TETA, pedirei o sorvete de queijo azul”.

Escreva no braço, cole um lembrete na geladeira e ligue o alarme, se for necessário.

Sorvete de queijo azul Serra das Antas (R$ 22), que vem acompanhado de um shot surpresa e uma calda gerada a partir de redução de cerveja (se me lembro bem).

Aí você para e pensa que sorvete de queijo não é lá uma novidade… mas sorvete de um queijo azul, intenso, é. E é incrível. E é mais incrível ainda a sua interação com os acompanhamentos que mencionei.

Há também outras sobremesas, mas já estávamos tão satisfeitos que qualquer outra coisa seria pura gula.

Por isso pedi um chope médio da Papo Cabeça (R$ 16), uma Belgian Strong Golden Ale honesta feita pela da cervejaria carioca 2 Cabeças.

Breves comentários sobre o espaço

Moderno, bonito, simples. O TETA parece ser todo muito bem pensado.

Algo que chama muito a atenção é o pequeno e curioso segundo andar: autônoma, a parte de cima do estabelecimento tem as mesmas quatro torneiras que o térreo dispõe.

Ou seja: nada de garçonete ou garçom tendo que subir a estreita escada em espiral equilibrando copos.

A parte de fora, munida daqueles “pequenas luzinhas”, é um charme à parte. Pode até soar como clichê (todo bistrô/restaurante com parte exterior parece utilizá-las), mas é um daqueles clichês que todos nós gostamos.

Mas, o que estou falando? Não entendo nada de arquitetura, design de interiores e feng shui.

Não entendo nada de muita coisa, na verdade.

Todas essas coisas são um deleite aos olhos.

Mas o que eu queria mesmo dizer é que parece ser um lugar bem versátil para ir com amigas e amigos, família, namorada/o e demais @.

Olhem só, que charme

Lembretes e considerações finais de um texto que já se estendeu muito

Apesar de ter citado os queijos que comi e os chopes e cervejas que bebi, é importante ter em mente que as opções disponíveis irão variar quase que semanalmente.

Afinal, estamos falando de produtos artesanais, elaborados e comercializados por pequenos produtores, que funcionam em outra dinâmica de produtividade.

Ou seja, cada nova ida ao TETA é uma potencial redescoberta de sabores.

E isso é algo muito legal.

“Mas, me diz uma coisa… (sussurros) é caro?”, você perguntaria, com absoluta razão.

Não, não é caro, basta olhar os preços que coloquei após cada pedido.

A menos que você queira comer e beber absolutamente tudo o que ver pela frente, algo bastante compreensível, é uma saída de custo justo.

Tenho ciência de que não poderei ir sempre… mas sei também que não estarei sendo extorquido por um restaurante qualquer de grife.

Sou exagerado às vezes, eu sei. Peço desculpas.

Para além de questões financeiras pessoais, estou seguro de que achei um bom lugar para gastar meu dinheiro em Brasília e voltar feliz para casa, sabendo que colaborei, ainda que pouco, para a manutenção de um ótimo estabelecimento gastronômico da cidade.

“Ah, mas esse tanto de elogios, sei não… fui assim que abriu e não gostei.”

Tenho um conselho para te dar: dê outra chance, vai por mim.

E com o perdão da sinceridade que me é peculiar, permita-me dizer: no fim das contas, acho que quem está perdendo a chance de ser surpreendido é você.

Por fim, preciso dizer que a primeira impressão geral que tive é de que o TETA é um daqueles lugares que você percebe (de longe) que é gerido por pessoas que entendem do assunto.

Todo o zelo das/os atendentes, os detalhes no cardápio, o cuidado na curadoria dos produtos, enfim…

Foi uma bela primeira visita. Fui embora bem contente para casa.

Ah, sempre bom ressaltar: é possível chegar por transporte público! Existe uma estação de metrô na 102 Sul, além da própria W3 Sul.

Vida longa ao TETA, com seus queijos e cervejas mil. Saúde e até breve!

(assim espero!)

Críticas, sugestões e/ou xingamentos? Comente aqui ou mande para mim no horadebeber@gmail.com , Facebook e Instagram! Saúde!

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Mateus Vidigal

Jornalista. Falo umas bobagens e escrevo algumas coisas sobre a cena das cervejas artesanais. Siga (ou não) no Instagram: @mateus_vidigal_