Uma coxinha de feijoada e mais um pint, por favor

Apenas um texto pouco objetivo sobre porque você deveria conhecer o Publican, melhor bar de cervejas artesanais de Brasília.

Mateus Vidigal
7 min readFeb 27, 2018
(siga o lúpulo…)

Nunca gostei de ler textos que mandam você ir para determinados lugares.

Afirmações categóricas e sem desenvolvimento, típico recurso de uma retórica pobre utilizada em muitos blogs, vlogs e afins.

“Você tem que ir à pizzaria X”
“Tome uma cerveja no bar Y”
“Se você não foi ao restaurante Z, você não conheceu Brasília de verdade”.

Sendo assim devo confessar desde já: caso esteja esperando uma lista com cinco motivos porque você deve ir ao Publican, é bem provável que fique frustrado ao fim da leitura.

Talvez já tenha se frustrado logo neste início de texto.

Findado esse desabafo inicial, devo voltar para 2 de fevereiro de 2018.

Não é que esse dia seja exatamente importante para este texto, mas isso não carece de explicação no momento.

2 de fevereiro de 2018.

Saio de casa e caminho até a estação de metrô Guará com minha mochila nas costas. Neste dia, decidi levar minha máquina fotográfica pra ver se consigo tirar algumas fotos para aquele texto que fiquei de escrever sobre o Publican.

(Spoiler: eu levei a câmera)

Chego ao metrô e olho para a tela com a previsão de horário “ainda em fase de testes” dos vagões do metrô: faltam alguns minutos para que algum com destino à estação central passe por ali.

Alcanço o celular e vejo que não há nada de novo para conferir. Lamento um pouco a falta de ócio dos dias atuais. Penso em pegar a câmera da mochila para fazer algumas fotos sobre o cotidiano das estações de metrô, mas logo desisto… não estou no clima.

Mas este texto não é sobre estações de metrô, cotidiano e, definitivamente, não é sobre fotografias.

Ou talvez seja… mas isso não importa. O vagão passou e consegui um lugar para ir sentado.

Sinto sede e penso em qual será o primeiro pint que irei pedir quando chegar. “Preciso escrever sobre esse lugar”, penso, já há algum tempo.

Penso também em alguns possíveis títulos, nenhum deles muito bom.

A proximidade do Publican a uma estação de metrô é um dos pontos que, a princípio, pode-se dizer que não tem nada a ver com cerveja. Concordo e discordo, de forma paradoxal.

Ah, vá.

Se, por um lado, estar perto a uma estação de metrô não tem absolutamente nada a ver com cerveja, por outro, digo que tem tudo a ver.

Para não ficar ainda mais vago, tentarei explicar.

Moro no Guará, cidade satélite do Distrito Federal que fica a 15–20min de carro do Plano Piloto. Para você que não é daqui ou não conhece o Distrito Federal: cidades satélites podem ser chamadas (bem resumidamente) de cidades periféricas à Brasília. Infelizmente, a grande maioria dos bares e lojas de cervejas artesanais está concentrada no Plano Piloto, área composta de alguns “bairros” nobres de Brasília. Não são exatamente bairros, mas isso também não importa.

Sendo assim, chegar aos bares das Asas Sul e Norte (ambos componentes do Plano Piloto) sempre trouxe alguns problemas — principalmente na parte Norte da cidade, que não é abastecida (!) pelo metrô.

O primeiro desses problemas: precariedade do sistema de transporte público; segundo, a volta para casa de motoristas “particulares” custa o preço de uma, talvez duas belas cervejas, algo que sempre me desmotivava a sair de casa uma próxima vez quando via o meu saldo bancário no dia seguinte.

Solução?

Beber em casa, tanto na minha como nas de amigos. Não que isso seja necessariamente ruim, pelo contrário, mas é sempre muito agradável sair de casa para mergulhar em um ambiente cervejeiro com mais algumas dezenas de entusiastas como você.

Ou seja, no meu caso, só era possível sair de casa eventualmente, ou melhor dizendo, muito raramente… depois, claro, de arranjar algumas cabeças amigas com disposição e dinheiro para dividir uma viagem com esses motoristas particulares.

Ah, o terceiro problema e, talvez, o mais grave deles: os preços praticados por certos (muitos) estabelecimentos de Brasília. Por vezes, absurdos.

(Mas ó, esse tipo de coisa tem que falar baixo… tem gente que não gosta de ouvir essas críticas sobre preço cobrado… costumam dizer que você tá atrapalhando o desenvolvimento da cena com esses comentários, entende?)

Finalmente, (digo, finalmente!!!) não preciso mais beber apenas dentro de casa.

Como disse, não é que eu não saísse nunca de casa para tomar boas cervejas (ô, coitado), mas, por todos os motivos apontados anteriormente, isso era bem raro.

Poderão dizer que este texto nada mais é do que uma propaganda pouco direta ou mal-escrita, dada a tamanha falta de objetividade e rodeios.

Não estariam errados, de certo.

Talvez pudesse entrar para o livro dos recordes como a Propaganda Menos Objetiva Jamais Feita, ou então a Propaganda Com Mais Rodeios do Mundo.

Ok, ok, tentarei ser mais breve.

Chego à estação 108 Sul, na Asa Sul, caminho até a quadra 208 por dentro da própria estação de metrô (iluminada e com segurança), subo as escadas para chegar até a quadra residencial e ando por cerca de 300 metros até chegar ao Publican, localizado na comercial da 408/409 Sul.

A logomarca no formato de lúpulo logo entrega a localização do bar.

Croma Pipeline, ótima New England IPA bebida no Publican

São 14 torneiras de chope, mais algumas dezenas de garrafas disponíveis em geladeira e adega. Entre as opções engatadas na torneira, é certo que encontrará opções locais a preços justos (menos de R$ 20 pelo pint, que tem 473ml).

Por exemplo: se eu te falar que já bebi um pint de Founders Nitro Oatmeal Stout por R$ 15, você acreditaria?

Pois é…

É de salivar, não? Eu salivei…

Você, ser de paladar exigente, também não se decepcionará, posso garantir. Algumas das melhores cervejas que já bebi na minha nem-tão-curta-vida-cervejeira estavam naquelas torneiras e geladeiras.

Não acredita? Justo. Dá uma olhada aí no que está engatado no menu completo do Publican, disponível no aplicativo Untappd ou diretamente no Facebook.

Há também opções menores de copo, caso queira experimentar mais cervejas e ainda assim andar em linha reta ao pagar a conta: 150ml e 300ml.

Ah, o cardápio de comidas é enxuto, claro e objetivo (tudo o que este texto deveria ser, mas não é).

Enquanto penso naquele texto que deveria escrever sobre o Publican, sinto fome e vejo que meu copo já está vazio.

- Uma coxinha de feijoada e mais um pint, por favor

Que invenção, senhoras e senhores, que invenção!

A cerveja? Claro.

Bem-aventurados aqueles que inventaram a coxinha de feijoada! (obrigado, Andréia, pelo empréstimo da mão para a foto)

Mas a coxinha

Massa crocante de feijoada (quase como um tutu de feijão, dada a homogeneidade), recheada com uma espécie de creme de linguiça, não sei ao certo. Sequinha, parece ser frita em uma daquelas “air-fryers”, sabe?

Descrever comidas não é lá muito meu forte, melhor você pedir e ver por si só. Se gostar, fica me devendo meia porção e um pint.

Se não curtir, bom… talvez você não seja uma boa pessoa.

Há também tábuas com queijos, brusquetas, croquetes de carne de panela, sanduíches, batatas rústicas com páprica defumada e outras tantas coisas. Opções para vegetarianos também, é bom ressaltar.

Água da casa (obrigação em bares de cervejas artesanais), café espresso para aqueles que gostam, enfim…

O atendimento é impecável e os donos, Fabrício e Carlos, e a dona, Gláucia, entendem um bocado de cerveja, pode confiar.

“Mas, e o texto?”, penso…

Sigo sem ideias.

Já estou no quinto, talvez sexto pint, e sinto que é hora de ir embora.

Levanto, pago a conta satisfeito — bem mais do que em qualquer outro bar de cervejas artesanais de Brasília — e vou embora.

Bate um breve lamento de não ter mais dinheiro para vir para cá tantas vezes quanto gostaria… mas nem é um lamento tão grande assim. Já é um grande privilégio (social e economicamente falando) poder ir algumas vezes.

Mais uma vez, volto para casa feliz e satisfeito.

Aquele dia era a comemoração do meu aniversário, mas isso, como tantas outras coisas deste texto, também não importa.

O que parece importar, de fato, é que o Publican inaugurou um novo patamar de estabelecimento cervejeiro em Brasília. Ótima prestação de serviço, acessibilidade por transporte público, bom cardápio de comidas, atento às novidades e lançamentos de cervejas, preços justíssimos… Não dá para querer muito mais do que isso.

Que os outros lugares aprendam e revejam suas políticas. Principalmente, os valores de seus produtos.

Você pode até ter um outro bar favorito, caro leitor ou leitora. Tenho absolutamente respeito por sua opinião…

E não é que as outras lojas, bares e empórios não tenham seus méritos, é claro que têm…

Mas o Publican já é o melhor de Brasília, mesmo com tão pouco tempo de existência.

Desculpe tamanha sinceridade (quiçá prepotência).

Ou não, pensando bem, não é preciso me desculpar.

Se quiser debater e provar que outro bar de Brasília é melhor, estou à disposição.

Mas…

Vamos combinar a conversa no Publican, ok?

Críticas, sugestões e/ou xingamentos? Comente aqui ou mande para mim no horadebeber@gmail.com , Facebook e Instagram! Saúde!

--

--

Mateus Vidigal

Jornalista. Falo umas bobagens e escrevo algumas coisas sobre a cena das cervejas artesanais. Siga (ou não) no Instagram: @mateus_vidigal_