Wacky Races

Agarráia!
3 min readFeb 20, 2023

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Quando eu era bem mais jovem ainda era possível encontrar resquícios de um gênero de filme que já não existe mais.

Não sei se há um nome especifico para ele, mas seria algo como “competição internacional”. Filmes em que você conseguia colocar os estereótipos de cada país um contra o outro, sem ninguém chorar à respeito.

Os maiores exemplos do que quero citar aqui, são duas comédias da década de 60, quase uma continuação da outra, que compartilham tema, diretor e até alguns artistas. São eles Those Magnificent Men in their Flying Machines (1965) e Monte Carlo or Bust!(1969), também conhecido alternativamente como Those Daring Young Men in Their Jaunty Jalopies. O primeiro consegui assistir algumas vezes quando pequeno no finado canal 21.

Os dois são filmes de corrida. No primeiro caso, uma corrida aérea de Londres à Paris em 1911. No segundo, o famoso rally de Monte Carlo em 1920. Os personagens de ambos são estereótipos ambulantes, os italianos tarados e emocionados, os franceses sedutores e sacanas, os alemães certinhos e chauvinistas, está tudo lá. Sendo assim, você não precisa criar muita complexidade para esses personagens já que eles são a extensão da personalidade de cada país (seja lá o que isso significa).

Os dois filmes tinham também praticamente o mesmo vilão, interpretado pelo Terry-Thomas (que depois viraria a grande inspiração para a criação do Dick Vigarista):

Onde estará esse cachorro? MUTTLEY!!!!

Alguns outros filmes ainda deram sobrevida ao tema, como o filme Who Is Killing the Great Chefs of Europe? (1978) onde não existe propriamente uma competição, mas nesse comédia/suspense, cujo titulo já entrega o tema, estão todos lá, chefs italianos, ingleses, franceses, americanos etc. cada qual com a sua estranheza.

Hoje em dia as coisas mudaram bastante, ficaram chatas. Nada de tirar com a cara do coleguinha, mas tem que botar todo mundo na arca. Imagine que absurdo não colocar um personagem para cada paleta da Pantone. O resultado é que nos filmes de hoje, mesmo nos que aparecem várias nacionalidades, essas são todas apagadas e estúpidas. As vezes um traje étnico aqui ou ali só para dizer que o cara é indiano e não de Osasco.

Mas há uma exceção, e боже мой* se há. Muito antes da guerra na Ucrânia, para Hollywood (e muitos outros woods) os russos ainda não haviam sido incorporados à raça humana, então para eles continuam servindo os estereótipos mais grosseiros. Vilões de primeira categoria com poucos sentimentos, sotaque acentuado e as vezes algumas cicatrizes (a lista é longa, de filmes do James Bond até algum monte de estrume da Marvel). Ocuparam em grande parte o lugar dos alemães que ainda carregam a pecha de nazista nos filmes mais de época.

Uma rara exceção é o bobinho filme de Kaiju Pacific Rim (2013) que além dos mocinhos americanos, até tenta introduzir um robô pilotado pelos chineses e outro pelos russos, mas que não duram cinco minutos antes de serem trucidados pelos monstros gigantes (apesar do design legal do robô russo que parece uma chaminé de reator nuclear). Mas isso aí já faz 10 anos e se aparece algo parecido hoje quem sabe dê até cadeia.

До свидания!

*Bozhe Moi — Meu Deus, em russo.

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