CLT ou PJ — como fazer a conta?

Hugo Penna
4 min readJul 3, 2018

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A discussão sobre qual é o melhor modelo é grande e envolve muitos aspectos, nesse texto vamos abordar e analisar apenas os aspectos financeiros da coisa.

Não pretendo defender uma modalidade específica, mas sim mostrar como conseguimos entender como funciona e os impactos para então ter uma base para avaliar comparativamente com todas as informações necessárias.

Um breve resumo…

CLT :

Na contratação CLT há vinculo de trabalho e esta relação é regida pelas regras da CLT e do sindicato, que varia conforme o setor, tanto o empregado quanto o empregador tem seus direitos e deveres, previstos em lei e na convenção coletiva de trabalho (CCT). Ou seja, a sua flexibilidade de negocição é um pouco limitada, pois algumas coisas já estão pré-determinadas, como previdência, fundo de garantia, beneficios base, política de férias e horas extras, entre outras coisas.

Geralmente a empresa estima gastar cerca de 1.6 vezes o salário bruto oferecido, dependendo da faixa salarial isso pode variar um pouco. Contando os descontos, o valor que o trabalhador recebe é de aproximadamente 0,8x e dai vem a famosa conta de padeiro que um funcionário custa o dobro do seu salário.

Pêjota:

Geralmente não temos abatimentos por aqui, então fica fácil saber qual é o desembolso da empresa com o seu serviço, pois via de regra a empresa contratante paga o valor acordado e pronto.

Neste caso “vale tudo” em termos de negociação, há a flexibilidade de acordar praticamente tudo, visto que legalmente é uma empresa prestando serviço para a outra. Mas lembre-se que não existe mais patrão e empregado e ninguém vai negociar nada por você.

O que devemos olhar com atenção é: Do que estamos abrindo mão? Quanto custa trabalhar por conta? Quais riscos estamos correndo? Quais os custos que nós deveremos pagar?

Vamos às contas:

CLT :

Salário líquido: bufunfa que chega ao seu bolso.

Salário líquido = salário bruto - INSS - IRPF

INSS > 8 a 11% do salário bruto

IRPF > 0 a 27,5% (salário bruto - INSS)

Custo da empresa: bufunfa que a empresa gasta com você.

Custo da empresa = (Salário bruto + FGTS + 13° salário + 1/3 de férias) + INSS patronal*

FGTS = 8% Salário bruto

13° salário = salário bruto / 12 (~8,3%)

1/3 férias = 1/3 * salário bruto / 12 (~2,7%)

INSS patronal = 20% sobre folha (depende do regime da empresa)

Pêjota:

Lucro líquido = Faturamento - Simples - Contador - Conta Bancária - “funcionários” - outros

Faturamento, aquilo que vc acordou com seu cliente.

Simples = % do faturamento, dependendo do seu CNAE, para tecnologia eles variam de 6 a 19,5%

Contador = você vai gastar pelo menos 89 pratas por mês, se conseguir fazer com um contador online. Se não conseguir são pelo menos 150 a 200 pratas.

Conta Bancária = apesar dos bancos digitais estarem cada vez mais ofertando contas gratuitas, para empresas ainda não é tão fácil, reserve pelo menos 70 pratas.

“Funcionários” = Você enquanto sócio que dedica seu tempo de trabalho para a empresa tem que receber por isso, o pró-labore, que tem recolhimento de INSS e IRPF sobre o valor de pró-labore. Mas isso é assunto para um post inteiro.

Outros = qualquer outra coisa de gasto para manter a empresa, como computadores, licensas de softwares e todas as ferramentas e serviços que você precisará para trabalhar.

Vale lembrar que toda ferramenta precisa ser trocada a cada x tempo. Pegue o valor divida por X (tempo de troca) e coloque no preço.

Exemplo: Computador custa R$ 10.000,00 e troco a cada 4 anos, 10k/48.

Contas feitas! Agora que já sei quanto vou ganhar, é só fechar o negócio então?

Não tão rápido, jovem padawan.

Temos 3 itens que precisamos levar em conta no nosso preço pelo serviço prestado para compararmos com um emprego CLT.

Previdência

A famosa, a famigerada, a aposentadoria. Você não vai simplesmente ignorar isso né?

Faça as contas, ligue pro gerente do banco, vá ao INSS, mas defina um valor ou % para cobrir um plano de previdência. Público, privado, feito por você, tanto faz, mas tenha esse valor.

FGTS

Os tempos de vacas magras podem ocorrer e seu(s) cliente(s) podem cancelar os serviços que tem com você, então tenha isso definido em algum lugar. Pode ser uma clausula de pedido de cancelamento com algum tempo de antecedência ou pode estar imbutido no preço tbm. No caso da CLT é 8%, defina o seu e inclui ae no preço.

Férias, 13º, etc e tal

Prestando serviço você tem um valor acordado para executar a tarefa e nada mais, assim como o FGTS você deve prever esses valores na sua hora de trabalho, pois esses não são “direitos” de um prestador de serviço.

Você vai ao bar e na conta tem um adicional de 13º?

Acho que não né!

Isso está incluso no preço dos produtos e serviços que você consome todos os dias, inclua no preço dos seus também.

Disclaimer:

O INSS e o FGTS têm um papel e propósito, então não podemos ignora-los. Não estou julgando se eles fazem bem ou não o seu papel, apenas lembro que estes aspectos têm grande importância e precisam ser levados em conta na hora de negociar para não nos enganarmos achando que tudo que entra na nossa conta agora é festa e que temos um futuro coberto por um terceiro.

Então como fica a conta?

Faturamento = Renda desejada + custos empresa + previdência (INSS like) + Fundo de reserva (FGTS like)

Onde esse faturamento pode ter alguma equivalência com o custo da empresa ter um CLT, não precisa ser o valor exato, mas assim você consegue comparar se a proposta de ser prestador de serviço está realmente sendo bom para todo mundo mesmo.

Glossário:

INSS — Plano de previdência pública

FGTS — Fundo de garantia (reserva financeira compulsória)

IRPF — Imposto de renda pessoa física

Links úteis:

Calculadora de IRPF

Tabela INSS

Contribuição PF - INSS

Contribuições PJ - INSS

Sobre o FGTS

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Hugo Penna

Sou um peixe que nasceu fora da água, sou uma árvore que nasceu dentro do mar.