A magia da adolescência aos 20: Como é se tornar adulto durante a pandemia e o isolamento

Iara Duarte Mainates
3 min readFeb 4, 2023

--

Gostaria de falar que refleti muito no pós-pandemia antes de escrever esse texto, mas estaria mentindo.

Primeiro porque não refleti muito desde que consegui alta da terapia, e segundo porque não existe pós-pandemia e sim um limbo de põe máscara-tira máscara, isola-não isola e todas as contradições.

Eu nasci em 2022, em maio de 2022 pra ser exata. Como você pode imaginar, no ano de 2020 pré-caos eu estava prestes a fazer 18 anos.

Com 17 anos, um técnico concluído e um ano anterior de muita correria entre escola, curso técnico e cursinho pré-vestibular, eu estava no início de uma nova fase: faculdade em outra cidade, morando sozinha e descobrindo o mundo do jovem adulto que come comida meio gelada porque esquentou tudo no microondas.

Mas no meio de tudo isso, com duas semanas de aula e de novas experiências chegou nossa amiga hoje tão conhecida: a COVID-19, o isolamento e o medo.

Eu fiz 18 anos isolada, com a faculdade em modelo EAD e sem poder comemorar. Eu não pude sair correndo pra tirar minha sonhada CNH que só rolou com 19 anos e em um ano inteiro de carros sendo desinfectados e provas no Detran lotadas, não pude comemorar meu primeiro drink com minha mãe em um barzinho e exibir meu RG pro barman. Não pude fazer muita coisa, mas isso é o menor dos causos.

O maior ponto é que eu passei os 2 anos que achei que seriam de pura aventura morando sozinha e aprendendo a cuidar de mim, de casa e da graduação na casa dos meus pais. Foi como uma segunda parte da adolescência.

Longe de mim reclamar do privilégio que foi poder voltar pra casa e ter um ambiente que me respeita e acolhe minhas individualidades, estar em casa foi ótimo e nem todos puderam ter essa mesma chance. Mas eu não passei pelos perrengues de ser um jovem adulto a 300km de casa.

Aprendi como a máquina de lavar funciona por aqui, aprendi a fazer feijão se medo da panela de pressão e como fazer arroz que não parecesse um risoto mal feito, pude arranjar estágio cedo sem me preocupar com todas as tarefas domésticas, pude guardar dinheiro e pude aproveitar meus pais e meus gatos enquanto passava pela incerteza da jovem adultice.

Passei perrengue financeiro? Tive que ligar pra minha mãe perguntando como cortar carne em bifes? Aguentei a casa suja porque não tinha tempo pra limpar? Não, não e não.

E isso tudo pode parecer um muro das lamentações do jovem branco, mas o ponto é esse: eu não acho que seja ruim, só desconfio da minha capacidade.

Será que sou tão adulta como outras pessoas? Será que ainda sou adolescente por não ter enfrentado os perrengues da vida? Será que tenho que recuperar esse momento pra me sentir autenticamente crescida?

No momento eu não tenho resposta, e acho que vai demorar mais um pouco até entender sobre isso. Até lá, vou tentando aproveitar esse misto de ser adolescente e adulto na casa dos pais enquanto lidamos com um vírus que não acaba.

--

--

Iara Duarte Mainates

Amante de gatinhos, profissional em construção na área de produto e palestrinha para contar até a menor história!