Propósito, a nossa Singularidade e a romantização do empreendedorismo

Igor Drudi
6 min readJun 6, 2017

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“A arte é aquele domínio que permite traduzir a sua singularidade, sua diferença pessoal numa época em que a religião e a política não oferecem mais, como outrora, a possibilidade de afirmar sua identidade” Gilles Lipovetsky

Existe muita romantização do conceito “empreendedorismo”, como se fosse um novo lifestyle (estilo de vida), mais leve, libertador, encantado, jovem e colorido. Apesar de posts de redes sociais e gurus bradarem isso a todo momento, vale a pena entender a “Força” e o “Lado Negro” nessa abordagem midiática.

Existe um embate entre dois conceitos, o de Empreendedorismo e o de Empregabilidade. De forma curta e grosseira, o empreendedorismo. como já tratei um pouco neste artigo, é a iniciativa (as vezes fica sem acabativa…) humana em prol da construção de algo para o bem estar seu e dos outros. E as vezes isso vira negócio, cnpj, notas fiscais…

Enquanto que empregabilidade é a capacidade do indivíduo em alocar-se no mercado de trabalho. Ou seja, imagine que o ambiente de trabalho é um grande super mercado, daqueles quase infinitos, onde os produtos são os profissionais e os consumidores as empresas; cada qual com seus próprios hábitos de consumo e ainda sofrendo a influencia das “tendências” ou de gostos peculiares.

E quem é a “Força” e quem é o “Lado Negro” nessa história? Tudo depende de como você é ou como está, pois desta forma vê o mundo. Há quem se prepare muito para a empregabilidade, constrói um perfil robusto e competente e se coloca a disposição do mercado de trabalho, e nestes contextos, empreende muitos projetos, ações, soluções de desafios diversos em prol da organização. Há quem sinta que venceu os principais desafios da carreira e vê no empreendedorismo o próximo grande passo, ou ainda aqueles que não veem sentido algum em ser um “produto” a disposição do mercado e vão construir o seu próprio negocio.

Por que você se levanta pela manhã e por que alguém deveria se importar com isso?

Ambos os lados são jogos com algumas regras próprias, mas coexistem com muitos pontos em comum. E a mais vital é o senso de realização, é o grande significado de orgulho que o trabalho tem para o indivíduo, de que este não é banal, fútil ou algum tipo de provação. E ai estamos começamos a tratar de proposito. E pode vir de várias maneiras pois o próprio se transforma drasticamente ao decorrer do tempo e das circunstancias, pois numa situação de extrema falta de recursos (um período longo sem trabalhar, sem $$ e contas acumulando) o proposito pode ser fundamentado nas necessidades mais básicas de sobrevivência, e conforme se evolui e as condições são melhores, o valores por traz do proposito ganham novas proporções.

A Hierarquia de Necessidades de Maslow ajuda a entender um pouco da romantização do propósito, principalmente por que ter propósitos grandes e transformadores enquanto necessidades básicas como as de segurança e fisiologia não estão sanadas é um desafio tremendo. Mas independente se o objetivo é a sobrevivência ou a construção de um legado, propósito sempre haverá.

E para falar de propósito, é interessante entender o que o Simon Sinek apresenta como Circulo de Dourado (Golden Circle). é entender o por que se faz o que se faz, qual é grande causa motivadora, por que essa empresa ou esse cargo existe. A pergunta não é uma descrição (o que ), ou um processo (como), é o por que. Por que você se levanta pela manhã e por que alguém deveria se importar com isso? Muitas vezes focamos no que é mais obvio e perceptível como o “o que” e o “como”, mas muitas vezes esquecemos da energia que nos poem em movimento para irmos fazer o que fazemos. Quando ver alguém reclamando da segunda feira, já saberá diferenciar se esse alguém está indo cumprir o seu próprio proposito ou não.

Propósito vem do latim PROPONERE, “declarar, colocar à frente”, de PRO-, “à frente”, mais PONERE, “colocar, pôr”. No português está como um substantivo, mas fico com a versão latina. É verbo, uma ação consciente, intencional e reflexiva, que nos coloca a energia motivadora de avaliar se estamos atendendo as exigências das nossas necessidades ou não.

Declare fortemente o “por que” faz antes do “o que” faz. Se for difícil, pode ser esteja desconectado do por que está fazendo o que faz, seja em uma empresa ou em um empreendimento. Ai as segundas feiras são terríveis. E boa parte do propósito (ou de “por ques” mais engajadores) está relacionado ao topo da Piramide de Necessidades Maslow, a realização pessoal. E só realiza quem faz, quem é autor de alguma forma. Autor, que vem do latim AUCTOR, “o que aumenta, fundador, mestre, líder”, literalmente “o que faz crescer”, de AUCTUS, particípio passado de AUGERE, “aumentar”. Voltamos a falar de empreendedorismo, não?

E ser autor é a busca constante em ser Singular. Da escolha das roupas ao corte de cabelo, do cardápio a postagem na rede social, de sair de casa as 17 a ficar com os coroas até os 40, são todas pequenas escolhas em busca da nossa identidade. É a realização pessoal sendo suprida, nossos talentos usados em nossas criações, nossas realizações. E reconhecermos e sermos reconhecidos por isso.

Aqui vai a critica ao romantismo em torno do empreendedorismo atual, concordo com o que apresenta o Ícaro no seu artigo Por que a indústria do empreendedorismo de palco irá destruir você, pois entendendo o que é proposito e o que é empreender, transformar ambos os conceitos em entretenimento com viés ecumênico (de culto mesmo!!) com pouquíssima correlação com entregar coisas com propósito para o mundo, é um perigo para aqueles realmente estão buscando um direcionamento, um caminho. Empreendedorismo não é (somente) algo infantilizado, de barba e visual descolado, que tirou um período sabático e ganhou um super investimento para realizar os seus sonhos de silício. Pode acontecer na linha de produção em que você está, ou em outra; no balcão em que você atende, ou em outro; ou naquela ideia que está engavetada e não tinha coragem ou motivação para tocar para frente.

Motivação, vem de dentro para fora, e ai que que está a oportunidade ou o perigo de se envolver com empreendedorismo por um programa sério, pelas redes sociais ou palestra do bacana youtuber paizão. E cada vez mais temos acesso a toda sorte de conteúdo, alguns mais de palco e outros mais de realidade. Discernimento e bom senso do publico é o melhor remédio.

Eu realmente acredito que o empreendedorismo é o que principal drive de mudanças que a humanidade possui, assim veio o fogo, o isqueiro e o laser. Acredito que quanto mais valores orientados a ação e o protagonismo, de indivíduos conscientes, que reflitam sobre os seus propósitos para criar coisas e cenários melhores do que os existentes, mais evoluídos estaremos. Inovação e criatividade, estão ao alcance de todos, e podem ser o principal catalizador para a clareza de proposito, a realização da sua própria singularidade e empreender as mudanças que se almejam.

E comportamento empreendedor, esteja você onde estiver, é praticável (não é somente discurso descolado). O Brasil e o mundo precisam disso mais do que nunca,

Abração e obrigado!

Igor Drudi

https://www.igordrudi.com.br/

Originally published at https://www.linkedin.com on June 6, 2017.

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Igor Drudi

Designer e consultor apaixonado por inovação e a capacidade da criatividade mudar paradigmas, desenvolvendo projetos de impacto centrados em pessoas.