Memento Vivere: lembre-se de viver

Igor Teo
2 min readSep 20, 2023

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O filósofo francês Pierre Hadot encontrou nos versos de Goethe uma expressão que complementa a famosa fórmula latina Memento Mori (lembre-se que és mortal).

Memento Mori significa que devemos nos lembrar que tudo é passageiro, que nossa existência é limitada, que tudo um dia acaba ou se transforma. É uma lição sobre nossa dimensão no mundo, e que, por maiores que sejam os nossos sonhos, a vida será sempre maior que nós mesmos.

Contudo, o que acontece com muitos que pensam sobre isso é cair num niilismo. Se tudo é passageiro, do que vale a vida? Qual o propósito de existir se tudo vai passar?

É neste contexto que ganha sentido a expressão de Goethe: Memento Vivere, lembre-se de viver. Sim, a vida é passageira. O mundo é devir. E é por isso que não devemos esquecer que precisamos viver, ou seja, não deixar a vida simplesmente passar. Nosso tempo é precioso demais para não estar vivendo nosso desejo.

É possível que Goethe tenha sido uma importante influência para outro filósofo que afirmou profundamente a vida, que foi Nietzsche. Contra o niilismo de Schopenhauer, que diante dos problemas da existência acreditava que precisávamos negar a vontade de viver através do ascetismo, Nietzsche afirma que é preciso dizer sim ao mundo, dizer sim à vida.

Outro filósofo francês que seguiu a linhagem de Goethe-Nietzsche foi Albert Camus. Através da imagem de Sísifo, que amaldiçoado à tarefa repetitiva de subir uma pedra que sempre a voltava a cair, Camus diz que Sísifo escolhe viver. Se a vida é um mistério e às vezes nos faz enfrentar desafios aparentemente sem sentido, é preciso ver nesta dimensão misteriosa o sentido da existência.

A vida é misteriosa. Exigir dela uma justificação, uma recompensa ou uma explicação em nossos próprios termos é negar o mistério que lhe conduz. É negar o próprio fundamento da vida com base em nossa suposta superioridade racional que exige um mundo ao nosso gosto pequenez.

"Lembre-se de viver" é desfrutar da vida em seus grandes e pequenos prazeres. Como via Nietzsche, encontrar até mesmo no trágico a vida se afirmando. A grande força da vida sempre se impõe. Desde tempos imemoriais, somos parte dessa grande pulsão de vida que compartilhamos com todos os seres.

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