Os romances de cavalaria

Igor Teo
2 min readAug 19, 2022

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Quando eu era criança adorava ler romances de cavalaria. Histórias sobre cavaleiros virtuosos que enfrentavam grandes aventuras e lutavam contra poderes mágicos. Só mais tarde eu vim a entender o verdadeiro significado dessas histórias.

As novelas de cavalaria surgem na Idade Média num contexto cultural muito complexo. Por um lado, elas são a adaptação ao universo cristão de antigas histórias pagãs. Rei Arthur, Lancelot e Gawain, por exemplo, são heróis cristãos que lutam contra bruxas, fadas e seres do antigo mundo mágico pagão.

Além de uma rica simbologia cristã, os romances de cavalaria eram formas de se transmitir ensinamentos éticos. Esses heróis demonstravam como uma pessoa verdadeiramente honrada deveria agir. Quando os cavaleiros falhavam moralmente, eles fracassavam em suas histórias, e somente os mais virtuosos alcançavam o sucesso.

Mas aqueles que pensam que essas histórias se esgotam no moralismo cristão estão enganados. Muitas histórias de cavalaria foram criadas por autores místicos, influenciados pela Cabala, a alquimia, e possuem uma profunda espiritualidade. Podemos dizer que, durante a Idade Média, o misticismo cristão se encontra nessas histórias.

Contudo, o aspecto mais importante dessas novelas é que elas eram histórias de amor. E não era qualquer forma de amor. Trata-se do amor cortês, o amor trovadoresco, sobre o qual já comentei em outros momentos. O amor dos trovadores era um amor místico-espiritual representado numa forma poética.

Se hoje esses romances parecem clichês baratos de filmes de Hollywood, é porque estamos vendo fora de seu contexto original. Vemos apenas a camada externa, sem entender a profundidade simbólica que, naquela época, essas histórias possuíam.

Histórias como a de Excalibur são permeadas por uma profunda filosofia, articulando conceitos complexos, como a noção de Belo, de Desejo e de Lei. Talvez ainda comente aqui um pouco mais disso desde uma visão psicanalítica.

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