Memória — O processo cerebral
Carta do autor
Estamos cansados de saber que o cérebro humano é dotado de capacidades incríveis relacionadas a todas as formas que vivemos e interagimos com o mundo ao nosso redor. O cérebro é, simplesmente, um universo a ser explorado.
Neste artigo, discutirei sobre um ponto mais específico: a memória. Pois assim como o cosmos, não podemos explorar tudo do cérebro em um dia só, muito menos em um único artigo.
Quero deixar bem claro, também, que, serão apresentadas teorias de uma forma simplória, como introdução ao tópico, isto é, evito utilizar vocabulários técnicos, a fim de que todos possam processar as informações.
Todas as pesquisas e informações foram obtidas a partir de artigos científicos que discutem estudos relacionados ao tema; e palestras do TED Talk’s. Mais sobre as referências, no final do artigo.
Introdução
Neste artigo, serão discutidos os processos de aprendizagem, esquecimento, memorização, e a aquisição de memórias a longo prazo pelo cérebro humano.
Serão apresentadas teorias relacionadas e uma conclusão sobre o assunto.
Necessidade de memorizar
Em todas as espécies, a capacidade de memorizar aspectos de sua realidade garantiu a sua sobrevivência sobre outras. A memória permite que ações sejam tomadas a partir de situações vividas, ou seja, a aprendizagem.
Claro que não utilizamos a memória, hoje em dia, para necessidades primitivas, porém o que mudou foi a realidade que vivemos, não o conceito e a necessidade da memória, isto é, precisamos memorizar situações para que possamos tomar atitudes mediantes elas.
As memórias formam o nosso conhecimento sobre tudo que sabemos; permite que aprendamos sobre assuntos novos, e para isso as informações que memorizamos devem, também, ser organizadas em forma lógica, para que possamos acessá-las posteriormente.
Porém, quando esquecemos de algo, causa-nos um desapontamento com nossa própria capacidade de memorizar. Mas, de certa forma, o esquecimento também é necessário, é o que veremos a seguir.
Necessidade do esquecimento
“Uma vantagem do esquecimento diz respeito a sua função auto-protetora. Se lembrássemos de tudo o que já nos aconteceu, de tudo o que já ouvimos ou vimos, nossa memória seria um grande emaranhado de conhecimentos inúteis e dispensáveis, causando-nos grande dificuldade em acessar determinadas informações e atrapalhando em muito nossa atividade cognitiva.” — Giovanni Kuckartz Pergher e Lilian Milnitsky Stein (2003)
Esse parágrafo do artigo ‘Compreendendo o esquecimento: teorias clássicas e seus fundamentos experimentais’ descreve de forma clara o que estamos discutindo.
Mas, se precisamos esquecer, é evidente que queremos nos lembrar de muitas coisas das quais não nos recordamos e que são importantes. Neste sentido, como que podemos melhorar nossa capacidade de memorização?
Processo de esquecimento
Antes de adentrarmos a solução, precisamos entender como o esquecimento ocorre e quais são suas características, e por isso, trouxe 4 teorias, de forma bem resumida, que abordam pontos diferentes sobre o assunto. Se sua intenção não for se aprofundar muito nas teorias, no final do tópico, incluirei uma conclusão sobre os principais aspectos abordados, o que lhe dará uma boa continuidade.
Teoria de Ebbinghaus
Seus estudos basearam-se em verificar o tempo que se demorava para esquecer um material decorado; que, no caso, eram sílabas sem sentido. Verificou que o esquecimento das palavras acompanhava a seguinte curva, representada pela imagem 1.
Essa forma do esquecimento deveria valer para qualquer tipo de memória, sobre qualquer situação.
No entanto, alguns estudos mostraram que nem todos os tipos de conhecimentos eram esquecidos da mesma forma, como: nomes de amigos e familiares, que não se vê há muito tempo, eram facilmente lembrados, ao contrário das palavras aleatórias, que eram esquecidas de acordo com a curva.
Teoria da Deterioração
Para resolver o problema da teoria de Ebbinghaus, Potter afirmava que memórias de tópicos diferentes poderiam possuir diferentes intensidades:
- Memórias fortes: São recuperadas com mais facilidade
- Memórias fracas: Mais difícil de serem relembradas;
Independentemente do tipo, as memórias perdem intensidade ao longo do tempo — que deveria ser constante, e independente de fatores externos — e, em um determinado ponto, podem ser esquecidas; e que para fortalecer as memórias, basta-se relembrá-las.
Um problema encontrado nessa teoria durante os estudos práticos realizados por Jenkins e Dllenbach (1924), em que os participantes deveriam decorar uma lista de sílabas, e alguns dormiam e outras ficavam acordados. O resultado foi que, os que dormiram tiveram uma fixação melhor do que os que não dormiram, este fato contradiz a teoria de que a curva de esquecimento deveria ser a mesma e constante durante um certo intervalo de tempo, independentemente dos fatos ocorridos
Teoria da Interferência
De acordo com essa teoria, o esquecimento não decorre do tempo, mas sim perante a aprendizagem de outros conhecimentos, que por sua vez “interferem” no processo de memorização de novos conceitos. Quanto mais conteúdo aprendido durante um intervalo de tempo, mais interferência eles terão, ou seja, “quanto mais anterior é o conteúdo aprendido, maior é a extensão da interferência” (Sternberg, 1996/2000, p. 231).
Falha na Recuperação
Este outro modelo propõe que o esquecimento não se daria pelo desaparecimento da informação, mas pela falha de sua recuperação, ou seja, a informação está armazenada, porém não pode ser facilmente utilizada, uma vez que está desencontrada.
Essa suposição surge do fato de que, ao ser exposto, várias vezes, a eventos que estimulem tal memória, ocorre uma fixação maior. “[…] cada nova repetição criará novas ligações entre a memória e o presente contexto, como também irá fortalecer associações já existentes” (Schwartz & Reisberg, 1991, p. 530).
Conclusão sobre o esquecimento
De acordo com as teorias descritas brevemente acima, nota-se que elas podem se diferir em alguns pontos, porém se percebe alguns fatores comuns, que podem ser extraídos, para que possamos concluir o raciocínio sobre esquecimento:
- O esquecimento ocorre em formato de uma curva;
- Diferentes tipos de conhecimentos são relembrados de forma diferente, ou seja, a curva do esquecimento é diferente, para tipo de memória;
- Fatores externos interferem na memorização; como, o sono e fatos relacionados a emoções;
- Conhecimentos interferem no modo como outras informações são armazenadas, podendo ajudar, ou atrapalhar.
- Em todas as teorias, o método para reforçar a memória de um tema é sempre relembrá-la
Como o cérebro memoriza por longo prazo
O processo de memorização pode ser dividido, inicialmente, em dois principais passos:
- Contato com a informação no mundo externo, que é colocada no curto prazo. Como por exemplo: um código de ativação de e-mail, ou uma senha temporária que será alterada.
- Ao relembrarmos essa informação, algumas vezes, sem que esta seja esquecida, ela vai para a memória de longo prazo. Mas porquê?
Processo de memorização
As memórias são formações complexas do cérebro, assim como o raciocínio que as utiliza. O fato é que, ela são formações neurais que se conectam por meio de sinapses. Partes do cérebro são destinadas às memórias de curto prazo, enquanto, outras partes, como o hippocampus, ficam responsáveis por atividades mais complexas e memórias duradouras.
Ao exercitar a memória, a informação vai para regiões como o hippocampus, e começa a formar estruturas neurais com os outros neurônios, que ali já estão, a fim de iniciar sua fixação. Digo iniciar, pois existe, ainda, um meio a ser melhorado: a velocidade e facilidade de acesso a essa informação.
Esse processo pode ser desenvolvido pelo mesmo método de revisão, evidenciado por todas as teorias.
O que ocorre no cérebro, nesse estágio é que, esses agrupamentos recentes de neurônios podem fortificar as conexões de sinapses entre eles; quanto mais sólida ela for, mais rápida é a transmissão da mensagem. Ao longo do tempo, as sinapses perdem força se não forem utilizadas.
Outro fator importante é: lembra-se de que o cérebro, para que as sinapses ocorram de forma assertiva e que todo o processo acima descrito funcione corretamente, as composições e soluções bioquímicas no interior do órgão devem estar corretamente balanceadas.
Desta forma, fica evidente que, atividades cerebrais, referentes à memórias, estão diretamente relacionadas com as emoções, uma vez que, estas provocam uma mudança hormonal no organismo e tais soluções químicas interferem na comunicação neural, além da própria alimentação que influenciará nas formações de todo o organismo.
Situações de estresse fazem o corpo reagir com mecanismos de defesa, deixando-nos em estado de alerta e prontos à ação. Porém, o organismo fica inundado com as soluções químicas hormonais, e o cérebro perde capacidade de memorização e raciocínio.
Conclusão
Agora que já temos uma boa base de entendimento sobre os processos cerebrais, podemos listar alguns fatores que devemos manter para que tenhamos uma boa saúde cerebral.
- Exercícios físicos — ajudam o corpo como um todo, e, principalmente, no que se refere ao balanceamento hormonal;
- Boa alimentação — o cérebro consome muitos nutrientes e muita caloria. Uma alimentação balanceada é fundamental, tanto diretamente (consumo de nutrientes), quanto indiretamente (regulação hormonal)
- Exercícios cerebrais — fazem com que o cérebro reforce as conexões existentes e melhora a capacidade de se criar novas conexões, incluindo, a memória duradoura. Pode-se citar exemplos como aprendizagem de novas línguas e instrumentos musicais, resolução de problemas de lógica; e exercícios de criatividade, como desenhar, e escrever histórias.
- Equilíbrio emocional — Processos como a meditação melhoram a organização de conexões neurais, e garantem que situações de estresse possam ser controladas e mais facilmente evitadas, que impossibilitam um bom funcionamento do cérebro.
- Dormir bem — durante o sono, principalmente nas fases mais profundas, ocorrem processos de assimilação de informações, as quais o cérebro identificou como relevantes durante o dia. Também ocorre uma estabilização hormonal, que garantirá uma boa produtividade no dia seguinte.
- Revisar — relembrar o que já foi estudado, mesmo que não necessite daquela lembrança naquele momento. Isto fará com que a memória se reforce, e será acessada com mais facilidade quando precisar.
- Não sobrecarregar o cérebro — Este é mais específico, mas precisava listá-lo aqui. Assim como visto pela teoria da interferência, muitas informações ao mesmo tempo podem causar o esquecimento delas por sobrecarga. Recomenda-se fazer pausas durante um estudo mais intenso, e que se revise durante o período, o que já foi estudado, garantindo uma fixação.
Cada um desses tópicos listados poderiam formar outros assuntos, por isso me limitei a escrever sobre eles brevemente. Um detalhamento maior fica para um próximo artigo.
Por hoje é isso. Te vejo num próximo artigo.
Recomendo o seguinte vídeo para reforçar o que vimos hoje.
Referências
https://old.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65642003000100008&script=sci_arttext
https://www.ted.com/talks/catharine_young_how_memories_form_and_how_we_lose_them