15 melhores álbuns nacionais de 2015

interfectoris
10 min readDec 28, 2015

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I. Lenine — Carbono

Para mim é sempre complicado ouvir um disco novo do Lenine. Lenine é sem dúvidas um dos artistas que mais admiro no Brasil, e justamente por isso exijo muito de seu trabalho, sempre espero um álbum melhor que o anterior. A verdade é que Lenine não precisa provar mais nada, em seu décimo álbum de carreira ele faz mais do mesmo, mas não de uma maneira ruim ou repetitiva, em ‘Carbono’ ele continua a fazer boa música como só ele é capaz de fazer. Lenine contorce as palavras, entorta acordes e fala de coisas que eu jamais conseguiria colocar em um refrão. Neste registro ele consegue criar vida, cor, história e aparentemente é simples assim… Lenine é uma molécula de carbono que se une a vários outros elementos em onze faixas para formar a química do álbum.

Faixas essenciais: A Causa e o Pó, Simples Assim e Quem Leva a Vida Sou Eu.

II. Jéf — Interior

O gaúcho Jéf foi o vencedor do reality ‘Breakout Brasil’ exibido pela Sony em 2014 e neste ano lançou pela Sony Music Brazil seu segundo álbum de estúdio ‘Interior’, que conta com cinco faixas inéditas e releituras de músicas do primeiro álbum ‘Leve’. Com uma musicalidade encantadora, dono de uma sensibilidade incrível para compor e escolher melodias certeiras para baladas românticas, é difícil não gostar de ‘Interior’ já na primeira audição. Apesar do artista não gostar de rótulos, sua música pode ser considerada indie e folk, como definido pela própria gravadora.

Faixas essenciais: Leve, Rema e Acredita e Quando Você Voltar.

III. Instituto — Violar

O Instituto é um coletivo, selo e núcleo de produção resultante da parceria de Daniel Ganjaman com Rica Amabis e Tejo Damasceno. Atualmente é uma dupla formada por Rica e Tejo. Após hiato de 13 anos, o instituto voltou à ativa com um novo disco de estúdio, e assim como no primeiro álbum ‘Coletânea Nacional’ de 2002, ‘Violar’ em 2015 conta com participações de grandes nomes da música brasileira, como Criolo, Tulipa Ruiz, Otto, Nação Zumbi, Sabotage e tantos outros para celebrar um momento único da música e do rap nacional e, portanto, não poderia deixar de constar nesta lista.

Faixas essenciais: Vai Ser Assim, Alto Zé do Pinho e Pacto Com o Mato.

IV. Tulipa Ruiz — Dancê

Em ‘Dancê’ Tulipa Ruiz acerta mais uma vez ao proporcionar aos ouvintes uma experiência contagiante que só a sua potente voz pode oferecer. Quando fui apresentado a Tulipa Ruiz em 2010, eu sabia que ela tinha encontrado a fórmula para estourar no cenário pop brasileiro e por um momento realmente conseguiu. Entretanto, Tulipa Ruiz parecia investir mais em um “pop florestal” íntimo dos fãs, mas não em músicas que fossem estourar no rádio, na balada ou em alguma trilha sonora de novela. Em ‘Dancê’ ela deixa claro que a pista de dança está liberada e fez canções com um único objetivo, “simplesmente fazer o ouvinte dançar”.

Faixas essenciais: Prumo, Proporcional e Virou.

V. Garage Fuzz — Fast Relief

O Garage Fuzz é uma das bandas mais respeitadas da cena underground do Brasil. Em 2015 eles estão de volta com ‘Fast Relief’ album de inéditas desde o EP ‘Warm & Cold’ de 2012. ‘Fast Relief’ é um álbum que consagra o hardcore melódico do grupo que possui 25 anos de carreira. ‘Fast Relief’ não esconde as influências de bandas como Dinossaur Jr., Lemonheads, Husker du, entre outras, entretanto, as doze faixas soam mesmo como o bom e velho ‘Garage Fuzz’, grupo que faz um hardcore sincero e que é referência desde a década de 90.

Faixas essenciais: Kids on Sugar, Fast Relief e Blockhead.

VI. Ventre — Ventre (抱きしめ と キス)

Ventre é o melhor álbum nacional de rock de 2015. Gravado de forma independente, ‘Ventre’ é o debut album do homônimo trio carioca. É sempre muito bom quando me deparo com um material bem produzido e com boas raízes em um período de baixa criatividade do rock nacional. Apesar de soar próximo do stoner rock, não é fácil colocar Ventre em uma só categoria. Em entrevista recente o trio deixou claro que suas influências variam de Deftones, Jeff Buckley e até mesmo Gonzaguinha. Com essa gama de influências, ‘Ventre’ traduz diversas sensações e com um pouco de melancolia conversa com o ouvinte sobre trivialidades do dia a dia ou sentimentos, como a faixa que consta como subtítulo (em japonês) do álbum “um aperto e um beijo”.

Faixas essenciais: Quente, De Perto e A Parte.

VII. Silva — Júpiter

O fato de ‘Júpiter’ estar nesta lista é por merecimento, mas também um manifesto. A maioria dos críticos que escreveram sobre este álbum continuaram a reconhecer o talento do músico multi-instrumentista Lúcio Souza, mas não conseguiram convencer que a escolha de habitar o planeta da música pop romântica foi um erro em sua trajetória espacial. A verdade é que os críticos brasileiros tendem a só recepcionar bem mudanças na ‘formula’ de determinados artistas, quando eles já possuem uma carreira consolidada. Os críticos parecem ter medo das mudanças experimentadas por Silva em ‘Júpiter’, afinal, os elementos característicos dos excelentes ‘Claridão’ (2012) e ‘Vista Pro Mar‘ (2014) quase não estão presentes, substituídos pela simplicidade de alguns riffs de guitarra, uma batidinha leve compondo um eletrônico suave e muitas referências ao R&B. Contribuo com a crítica ao reconhecer que faltou um pouco mais de amadurecimento nas ideias e uma produção mais centrada. O curto álbum ‘Júpiter’ talvez fique marcado na carreira de Silva como seu álbum mais fraco (mal avaliado), ainda sim, é um álbum pop que soa muito bem e bastante romântico em 2015.

Faixas essenciais: Eu Sempre Quis, Feliz e Ponto e Deixa Eu Te Falar.

VIII. Rodrigo Campos — Conversas com Toshiro

O compositor e músico multi-instrumentista Rodrigo Campos apresenta experiências, personagens e cenários da cultura oriental em ‘Conversas com Toshiro’. Não é um álbum sobre o Japão, mas assim como seus registros anteriores ‘São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe’ (2009) e ‘Bahia Fantástica’ (2012), ele consegue transportar o ouvinte à lugares provavelmente desconhecidos, mas fáceis de se ambientar no imaginário poético. É um vislumbre do Japão sob uma ótica cinematográfica, o que permite uma investigação sobre o espirito oriental, sobre amor, sexo, vida e morte em algumas conversas com Toshiro.

Faixas essenciais: Wrong War Kai, Chihiro e Velho Amarelo.

IX. Rodrigo Ogi — “RÁ!”

O Brasil tem grandes rappers em atividade, alguns desconhecidos para o público em geral, mas nem tanto para quem acompanha o cenário do rap e hip hop no Brasil. O paulistano Rodrigo Ogi é um destes rappers não muito conhecidos. Ogi mostrou grande habilidade nas rimas em ‘Crônicas da Cidade Cinza’, seu álbum de estreia em 2012. Em 2015 Ogi nos apresenta um trabalho com a mesma qualidade, mas com uma profundidade ainda maior na construção dos personagens e lugares contados através de uma narrativa conduzida por um analista. É um disco completo de rap, com muita influência do samba e histórias para contar.

Faixas essenciais: Trindade 1, 2 e 3.

X. Gal Costa — Estratosférica

Acho que a melhor palavra para definir o ‘Estratosférica’ é “reinvento”. Gal Costa nunca teve receio de experimentar novos caminhos, para ter uma ideia de sua versatilidade, basta lembrar de seu último trabalho ‘Recanto’ de 2011 em que canta músicas de Caetano Veloso em uma experiência eletrônica. Em ‘Estratosférica’ Gal vai além da estratosfera, soa leve e jovial com composições de músicos da nova geração, como Marcelo Camelo, Céu, Lira, entre outros, e como não poderia faltar tem Caetano Veloso e um time experiente ao seu lado que conta com Milton Nascimento, Antônio Cicero, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Tom Zé. É um belo trabalho para compor sua histórica e eclética discografia.

Faixas essenciais: Estratosférica, Jabitacá e Quando Você Olha Pra Ela.

XI. Dingo Bells — Maravilhas da Vida Moderna

Uma das grandes e gratas surpresas de 2015 foi o Dingo Bells, um trio de gaúchos com muito talento com as palavras e de uma musicalidade eclética surpreendente. Todos esses elementos tornam o álbum de estreia ‘Maravilhas da Vida Moderna’ um belo cartão de visitas para uma provável carreira de muito sucesso. O som do Dingo Bells não reinventa a roda, mas dá uma calibrada no pop rock utilizando de várias influências do rock gaúcho e da diversidade musical brasileira para falar de coisas simples e complexas da vida, seja no imaginário do tempo dos dinossauros ou na distância sentimental dos anéis de saturno.

Faixas essenciais: Eu Vim Passear, Dinossauros e Bahia.

XII. Lê Almeida — Paraleloplasmos

Assim que ouvi o ‘Paraleloplasmos’ eu tinha certeza que esse álbum iria figurar entre os melhores do ano na minha lista e das listas da crítica especializada. ‘Paraleloplasmos’ é tão bom quanto o primeiro álbum do Lê Almeida “Mono Maçã” de 2011. Apesar de eu não saber o que significa ‘Paraleloplasmos’, acredito que o significado esteja relacionado com melancolia e o amor juvenil que está tão presente nas letras deste álbum. Enfim, Lê Almeida é o melhor do lo-fi no cenário do rock alternativo no Brasil.

Faixas essenciais: Fuck The New Scholl, Meus Argumentos e Câncer dos Trópicos.

XIII. Emicida — Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…

“O ‘Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa’ é um Cavalo de Troia”, foi assim que Emicida definiu seu álbum. É uma analogia certeira para um dos álbuns mais importantes do ano, que com uma sonoridade acessível, mas com a agressividade de quem quer pôr o dedo na ferida, convida os ouvintes a refletirem sobre a juventude da periferia, a falta de oportunidades, o racismo, o preconceito e a luta negra no Brasil e no mundo. Aliás, ‘Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa’ ultrapassa os limites da periferia de São Paulo e apresenta referências de sua viagem à África, para onde Emicida viajou em março deste ano, absorvendo influências e gravando com músicos locais. É um álbum com grandes parcerias musicais que passeiam entre o reggae (“Passarinhos” com Vanessa da Mata) e MPB (“Baiana” com Caetano Veloso), explora o emocional e deixa um excelente recado para quem acha que o racismo não existe: “Cês diz que nosso pau é grande / Espera até ver nosso ódio”.

Faixas essenciais: Mãe, Passarinhos e Boa Esperança.

XIV. Elza Soares — A Mulher do Fim do Mundo

Eu não tenho dúvidas, ‘A Mulher do Fim do Mundo’ é o melhor álbum de 2015, afinal, estamos falando de Elza Soares, a mulher que está no fim do mundo, mas que quer continuar a cantar. É um álbum histórico que apesar de soar linear, versa sobre diversos temas, desde momentos da vida de Elza, violência doméstica ou da vida na periferia, divaga entre o samba paulista e carioca, encontra o rap e o rock e soma sua voz poderosa com a linguagem das ruas, botando literalmente ‘Pra Fuder’.

Faixas essenciais: A Mulher do Fim do Mundo, Maria da Vila Matilde e Pra Fuder.

O ÁLBUM DE 2015

XV. Maglore — III

Elza Soares poderia estar no topo desta lista, mas esta seria uma escolha obvia, então resolvi fazer diferente: o topo da lista pertence ao álbum nacional que eu mais escutei em 2015.

‘III’ é o terceiro álbum de estúdio do trio soteropolitano Maglore formado por Teago Oliveira (voz e guitarra), Rodrigo Damatti (baixo) e Felipe Dieder (bateria). Depois do lançamento de ‘Vamos Pra Rua’ considerado por muitos o melhor álbum nacional de 2013, a banda mostrou um enorme salto criativo. ‘III’ é o álbum definitivo do Maglore, onde o grupo demonstra maior maturidade sonora transitando entre o rock regional do ‘Veroz’ de 2011 e as referências da MPB tão presentes em ‘Vamos Pra Rua’, conferindo como resultado um álbum com músicas concisas, melodias marcantes e letras bem construídas e de fácil aceitação à radiodifusão. Todo o reconhecimento do grupo nos últimos anos foi fruto de muito esforço e dedicação, com o ‘Vamos Pra Rua’ em 2013 o grupo desembarcou em São Paulo e passou a morar junto na apelidada “Casa do Maglore”, a partir daí tiveram que conquistar o público, conseguir contatos de produtores e casas de show, basicamente tudo que também haviam construído em Salvador. Hoje a Maglore é muito querida no sudeste, mas não esquecem suas raízes e estão sempre por Salvador e região (continuem a vir para Feira de Santana por favor). ‘III’ reflete muito dessa nova fase da Maglore em que a banda absorveu novas referências no grande centro cultural que é a cidade de São Paulo, mas não perdeu seu lado poético, o bom rock’n roll e principalmente o tempero baiano.

Faixas essenciais: Se Você Fosse Minha, Mantra e Dança Diferente.

Por fim, curta a playlist dos 15 melhores álbuns nacionais de 2015 abaixo:

Que 2016 seja ainda melhor!
Abraço, Daniel Vinícius!

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