Caminhos de uma sociedade em rede
Hoje após o resultado das eleições americanas muitas pessoas na minha timeline lembraram de outros episódios controversos de nossa história recente.
(controvérsia: discussão, disputa, polêmica referente a ação, proposta ou questão sobre a qual muitos divergem.)
Entre esses episódios controversos, além da eleição de Trump, se encontram o Brexit e as eleições de Doria e Crivella.
A internet promoveu o encontro de indivíduos que isoladamente não tinham força de expressão e ajudou a mudar a nossa sociedade de forma significativa. Houveram transformações permanentes em diversas esferas quanto ao preconceito e cultura.
Porém vale lembrar que essas mudanças ocorrem para causas que apoiamos, para causas que somos indiferentes e para causas que detestamos, e nem sempre a representatividade está favorável a nossa opinião além da representatividade variar em função do tempo.
Agredir de qualquer maneira as outras partes definitivamente não leva ao entendimento ou reconciliação. Lembrando que agressão não é só física, existem diversas formas e classificações e dependem de interpretação.
Existe a agressão verbal, e o que pode soar como um elogio para uma pessoa pode ser agressivo para outra. Existe agressão indireta onde um simples comportamento, sem dizer nada, pode ser percebido como agressão por outra pessoa.
A escalada do entendimento, por força da comunicação de massa que a internet criou, também levou a uma escalada da agressão. Fomos colocados diante de diversos conceitos, comportamentos e formas de expressão que não conhecíamos, e nos transformamos em direções que não imaginávamos.
O que vemos acontecendo nesses episódios controversos é um novo capítulo de transformação. As mudanças ao redor do mundo não foram percebidas de forma positiva por todos, e a divergência de percepção na maioria das vezes acontece por falta de informação.
Sim, quem pensa diferente de você é ignorante, essa pessoa ignora suas lutas, suas dores, sua história de vida e o seu sofrimento. Acontece que a ignorância é uma mão de duas vias, e quando você entende que o outro lado é privilegiado é difícil fazer esse esforço para entender as lutas, dores e histórias de quem, na sua visão, tem privilégios.
Alguns quando entenderam que tinham privilégios resolveram abrir mão deles, outros quando entenderam que tinham privilégios resolveram lutar para que outros tivessem os mesmos privilégios, outros ainda quando descobriram seus privilégios resolveram batalhar para que ninguém tivesse privilégios e outros ainda lutam para manter os privilégios que tem ou recuperar os privilégios que perderam.
Existem várias formas de ver o mundo e o choque que a internet nos propõe a cada dia é entender essas diferentes maneiras de ver o mundo.
Eu decidi hoje desbloquear todo mundo que eu tinha bloqueado no Facebook. Não porque eu perdoei o que essas pessoas fizeram comigo, não porque eu tenha dado razões pra a visão delas de mundo, mas para me permitir, ainda que por um breve tempo novamente, acompanhar o que elas pensam e sentem.
Se eu me sentir agredido novamente, voltarei a usar o bloqueio como arma de defesa, ainda que seja um placebo. Na prática essas pessoas continuam por aí livres vivendo a vida delas e interferindo, ainda que pouco, na minha vida.
Eu da minha parte quero evitar agredir outra pessoa, da minha parte estou abrindo espaço para ouvir e entender, porque por mais que eu não goste dos desdobramentos históricos recentes, entre me trancar, protestar ou entender eu vou escolher, ao menos por enquanto, o caminho do entendimento. E talvez nesse caminho eu encontre outras opções que eu não seja capaz de ver agora.
