Os 25 discos nacionais que mais gostei em 2017

Isaac Magalhães
10 min readDec 27, 2017

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2017 foi um ano muito bom para a música brasileira, tivemos grandes discos que certamente serão clássicos com o tempo. (Alguns já soam clássicos desde já).

Além disso 2017 foi especialmente bom para o Rap que cresceu muito e se consolidou como um dos principais gêneros musicais do Brasil e revelou novos grandes artistas, como Baco, Diomedes Chinaski e niLL. Outros que já cantavam a mais tempo e que receberam mais destaque da mídia como Rincon Sapiência e Don L.

Cada um dos 25 discos (não fiz distinção entre álbuns e EPs, acredito que um EP pode ter uma densidade que as vezes falta a muitos discos. Por isso, alguns EPs figuram na lista) que incluí nessa lista me agradou de uma maneira especial. Isso significa dizer que gostei de todos os que aqui se encontram, desde o primeiro ao último, com distinções entre um e outro, mas gostei.

Então, vamos a lista:

25 Acrílico — Nina Becker

O disco da Nina Becker é doce. Senti boa influência jazzística e a performance vocal dela é excelente. Faixa destaque: O Seu Azul.

24 Recomeçar — Tim Bernardes

Muita expectativa se criou em torno do primeiro disco solo do Tim Bernardes (O Terno). E, na minha opinião, a expectativa foi muito bem suprida. Um bom disco de folk. Dolorido, como havia de se esperar do cara que fez músicas como Deixa Fugir e Vamos Assumir do excelente Melhor do Que Parece. Faixa destaque: Tanto Faz.

23 O Pior Disco do Ano — Froid

Assim como o anterior, havia muita expectativa acerca do primeiro disco solo do Froid após a dissolução do grupo Um Barril de Rap. O disco é recente (22/12) e talvez ainda tenha sido digerido completamente até a formulação dessa lista, mas deu tempo suficiente para perceber que a presença dele aqui é válida. Acredito que muito ainda vai ser falado sobre esse disco. Faixa destaque: Lamentável, pt. III (Part. Cynthia Luz).

22 Re: Ciclo, Lado A — Jé Santiago

O Jé é um dos rappers que vem em ascensão junto com a banca da Recayd (que SPOILER: tem outros membros na lista). No Re: Ciclo, Lado A, já deu para perceber que ele tem muito talento e que é um artista para ficarmos de olho em 2018. Faixa destaque: Netflix.

21 Gaya — Tiê

Se alguém me dissesse uns anos atrás que a Tiê gravaria um duo com o Luan Santana eu acharia improvável. Se a mesma pessoa dissesse que esse duo seria uma composição do Rafael Castro eu diria que era impossível. Mas aconteceu. 2017 nos proporcionou esse momento ímpar da música brasileira. Faixa destaque: Duvido (part. Luan Santana).

20 São Paulo Não É Sopa — Aláfia

Desde que a Aláfia veio aqui em Belém, ano passado, eu fiquei de olho no grupo. O som deles me impressionou de cara. 2017 veio e com ele o disco São Paulo Não É Sopa que é excelente. Um filho da vanguarda paulistana de Itamar Assumpção. Faixa destaque: Saracura.

19 Calzone Tapes, Vol. 1 — Recayd Mob

A melhor banca/grupo de Trap nacional. Não tem nem o que discutir. São os melhores no que fazem. Faixa destaque: Quando Eu Tinha Uma Glock.

18 Ma Ninja — MC Igu

Um dos grandes nomes da Recayd, o prolífico MC Igu. Disco essencial desse ano. Um marco para o trap nacional. As produções do Igu encaixam muito bem com o flow dele e o característico bom humor do trapper é cativante. Faixa destaque: Ice.

17 Vida Ventureira — Bárbara Eugênia e Tatá Aeroplano

Esse disco precisava existir. Barbara Eugenia e Tatá Aeroplano já tinham uma parceria de longa data na gravação de duetos, era questão de tempo até que eles gravassem um disco inteiro juntos e eu estou muito feliz que tenha acontecido. O resultado foi o Jupiter-Maçânico Vida Ventureira.Faixa destaque: Pro Mundo Virar Shopping.

16 Roteiro para Aïnouz, Vol. 3 — Don L

Com destaque para a capa em gif.

Depois da mixtape Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L todo mundo ficou esperando o próximo trabalho do rapper de Fortaleza. E ele não decepcionou. Don L consegue colocar a identidade dele no trabalho e iniciar uma trilogia ambiciosa. Veremos o que vem a seguir. Faixa destaque: Eu Não Te Amo (Part. Diomedes Chinaski).

15 Fa7her — Akira Presidente

Esse é o disco mais família do ano, sem dúvidas. Akira Presidente rima sobre a família de sangue (parentes) e a família da banca dele (Bloco 7, Pirâmide Perdida). Quase todos os integrantes da PP participaram do projeto. Um dos grandes destaques do rap nacional e que talvez tenha recebido menos atenção do que deveria. Faixa destaque: Consequências (Part. JXNV$ e Sain).

14 Cícero & Albatroz — Cícero

Uma reflexão sobre o ser e A Cidade. É interessante perceber a evolução musical do Cícero em seu quarto disco. Do começo doce e meloso de Canções de Apartamento, ao tom experimental de Sábado, para o meio termo de A Praia e agora onde tudo parece fazer sentido, em Cícero & Albatroz. Faixa destaque: Aquele Adeus.

13 Caravanas — Chico Buarque

Seis anos depois do último disco de inéditas, tenho que dizer, Chico ainda continua mais afinado do que nunca como poeta. Ótimo disco! Faixa destaque: Dueto (Part. Clara Buarque).

12 Heresia — Djonga

É como o próprio Djonga diz na remix de Atleta do Ano, do grupo MOB79: Djonga sensação/ Djonga sensacional / aviso pros rival:/ firma bunda que lá vai pau. Esse disco é uma pedrada atrás da outra. Djonga tem um talento natural pra punchlines e já começa dando uma pela capa. Excelente. Faixa destaque: O Mundo É Nosso (Part. BK).

11 Pajubá — Linn da Quebrada

Direto e reto. Um disco necessário. Linn fala sobre sexualidade, preconceito e sobre suas vivências. Flerta com ritmos brasileiros desde o funk ao samba. Definitivamente um dos melhores discos do ano. Faixa destaque: Bomba Pra Caralho.

10 Tu — Tulipa Ruiz

Acho que esse talvez seja o disco mais coeso da Tulipa Ruiz e o meu favorito até agora. Consigo enxergar uma unidade sonora dele do início ao fim, apesar de ter músicas já conhecidas pelo público da cantora. O tom calmo do disco dá mais destaque ainda ao vozeirão da Tulipa. Faixa destaque: Dois Cafés.

9 Reflexões — Dfideliz

Quando ouvi esse disco da primeira vez eu gostei, mas não dei tanta bola. Resolvi reouvir pouco tempo antes de fazer a lista e, meu irmão, que pedrada que esse disco é. Mais um membro da Recayd e mais um disco entre os melhores do ano. Dfideliz consegue escrever com a mesma qualidade transitando entre temas como política e putaria sem perder a unidade do disco. Os beats são sensacionais e mostram bem a formação musical do artista (um jazz pra minha alma…), as participações pontuais (Jé Santiago e Baco Exu do Blues) dão um tom perfeito ao disco. Muito hypado para os próximos projetos do Dfideliz. Faixa destaque: Dfideliz Micaela.

8 Bastardos Inglórios — Cartel MC’s

O Cartel reuniu um timaço para a gravação desse disco. Além de DJ Erik Scratch, Ber e Funkero, o grupo contou com duas novidades, dois dos rappers mais hypados da nova geração, Xamã e Pelé MilFlows. O resultado não poderia ser diferente. Um ótimo disco e com uma variedade incrível de beats e temas. Com mais de uma hora de duração, Bastardos Inglórios merece figurar entre os melhores discos do ano. Faixa destaque: Prenda-Me Se For Capaz.

7 Cabaré Star — Edy Star

Desde que ouvi o clássico do glam rock …Sweet Edy… de 1974, há alguns anos, sempre me perguntei quando o Edy Star, o último Kavernista, reapareceria no cenário da música brasileira. Mais de 40 anos se passaram e ele lançou em 2017 seu segundo disco. Ainda soando como o seu Glam Rock característico dos anos 70 (somado a elementos da música latina e brasileira) e marcado por uma teatralidade que leva o ouvinte a se sentir dentro de um verdadeiro espetáculo. Como um legítimo cabaré. Não há dúvidas, Edy é uma estrela. Faixa destaque: Dezessete Vezes (Part. Angela Maria e Zeca Baleiro).

6 Ressentimentos II — Diomedes Chinaski & DJ Caique

Diomedes quebra com aquela imagem do rapper forte, inatingível pelas dores do mundo, marcado pelo bragadóccio (que, aliás, é muito presente na música do Diomedes). Ressentimentos II é um disco nostálgico. Essa nostalgia é acentuada pelos samples de jazz e black music escolhidos pelo DJ Caique, fazendo uma viagem temporal para o tempo dos bailes black do final dos anos 80 e começo dos anos 90. E tudo isso é refletido na arte do disco e nos temas da poesia de Chinaski. Faixa destaque: Memórias Póstumas de um Liricista.

5 Regina — niLL

Que disco dolorido! Um manifesto sobre a saudade. niLL faz do disco uma espécie de terapia para lidar com o falecimento da mãe. O resultado é, sem sombra de dúvidas, a obra mais tocante do ano. Regina tem a sonoridade muito influenciada pelo vaporwave, o primeiro disco brasileiro de rap a incorporar essa estética. Faixa destaque: De Novo e de Novo (Part. Victor Xamã).

4 Galanga Livre — Rincon Sapiência

Rincon Sapiência, conhecido também como Manicongo, certo? Quando alguém fala que eu não sou um MC acima da média em falo “ahn? ahn? ahn?” eu não entendo nada, pai! A cultura do MC ainda vive, certo? No que depender de mim. (Rincon Sapiência — Ponta de Lança) Não tem jeito de definir melhor esse disco do que essa introdução do hit Ponta de Lança. O disco do Manicongo e conceitual e conta a história do lendário Galanga, conhecido também como Chico Rei. Faixa destaque: Ponta de Lança.

3 Lady Remedios — Bonifrate

O músico psicodélico de Paraty nunca decepciona. Não tem nenhum disco do Bonifrate que eu não tenha achado, no mínimo, muito bom. Com o EP conceitual Lady Remédios não foi diferente. Trazendo sonoridades ambient, Bonifrate consegue nos inserir dentro do microcosmo da cidade litorânea. O disco é uma aventura sinestésica que nos leva a quase pisar ou sentir o cheiro da cidade. Além das canções novas, a já conhecida encerra o EP com chave de ouro. Nostalgia pura. Faixa destaque: Rã.

2 Esú — Baco Exu do Blues

O conflito entre o humano e a divino. Entre o público e o artista. Baco já falava sobre isso desde Sulicídio. Como ele mesmo falou em entrevista ao Rap Box: é preciso atingir a divindade para alcançar o fiel. E assim ele alcançou espaço na cena brasileira de Rap e fez um dos discos mais profundos, reflexivos e ao mesmo tempo, mais simples do ano. Simples no sentido de que as reflexões nele propostas são inerentes a todos os seres humanos, desde que a humanidade é humanidade. O questionamento das divindades e toda essa querela que já dura há muito tempo. É preciso de muito talento para saber falar o óbvio, e isso Baco tem de sobra. Faixa destaque: Esú.

1 Japanese Food — Giovani Cidreira

Todo mundo deveria escutar esse disco. Ele percorre desde o tipo de música mais lentos e tristonhos, como em Cantoria aos mais agitados e eletrizantes como em Um Capoeira, apenas para se ter ideia da versatilidade do Cidreira. Percebo algumas semelhanças com Clube da Esquina nos instrumentais, um pouco progressivo etc. As letras densas, que foram em sua maioria compostas em parceria com Fernando Diniz, marcadas por temáticas humanas provocam decerto uma identificação com os ouvintes: insegurança, busca por identidade, casos amorosos, entre outros. É um disco de muitas camadas. Pelo misto de sonoridades perfeitamente harmonizadas casadas muito bem com profunda abordagem dos temas propostos por Giovani Cidreira no disco, Japanese Food é o meu disco preferido de 2017. Faixa destaque: Rosa Sol.

E que 2018 traga muita música boa pra gente curtir mais ainda.

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Isaac Magalhães

Formado em Letras e amante da linguagem. Escrevo sobre música e de vez em quando sobre outras coisas menos importantes.