Quanto custa a sua integridade?

Isabela Gadelha
3 min readNov 10, 2017

Em A Visita da Velha Senhora, Denise Fraga protagoniza comédia sobre ganância

Lenize Fraga interpreta a bilionária Claire Zahassian

“Vamos fazer o que não conseguimos lá fora e juntar a esquerda e a direita”, disse o ator Ary França, arrancando risos da plateia de A Visita da Velha Senhora durante uma dinâmica. Antes de começar a peça, o elenco ensina o hino da fictícia cidade de Güllen. A interação com os espectadores é constante do começo ao fim, tornando-os, em alguns momentos, personagens da história.

O espetáculo foi escrito pelo suíço Friedrich Durrenmatt em 1955 e é reconhecido mundialmente. Apesar de ser um retrato irônico da época, a atualidade do assunto atravessa gerações e chegou ao Sesi da Avenida Paulista. A “tragicomédia” mostra a fragilidade dos valores éticos e morais do homem quando se trata do dinheiro. Até que ponto o ser humano consegue ser íntegro, quando se tem a tentação de uma quantia enorme?

É um assunto que pode ser facilmente relacionado ao cenário político brasileiro. Como Ary França fez no início do espetáculo ao dividir o coro da plateia em direita e esquerda, se referindo à polarização política em que o país se encontra. Em meio a diversos casos de corrupção, faz parte do nosso cotidiano assistir nos noticiários o resultado do dinheiro corrompendo a sociedade. A ética do homem tem um preço.

Esse dilema em que os cidadãos de Güllen se encontram surge quando a bilionária Claire Zahassian (Denise Fraga) volta à sua cidade-natal, que está sofrendo de problemas financeiros beirando à miséria. A protagonista oferece uma quantia enorme que pode salvá-los, no entanto, só será entregue se matarem Alfred Krakin (Tuca Andrada), sua paixão da juventude que a abandonou grávida trinta anos atrás.

Apesar da temática séria e a mensagem forte, a abordagem é cômica o tempo inteiro. De forma satírica, vemos os personagens caminhando na linha tênue entre ética e a ganância, sendo seduzidos pelo conforto e ostentação do dinheiro. Aos que não gostam de uma comédia mais exagerada que beira ao ridículo, talvez não seja a melhor experiência. Por mais real que seja a situação, a história é retratada com uso do absurdo para arrancar risadas. Em momentos decisivos, por exemplo, sempre algum personagem quebra a tensão com comédia.

Um ponto forte da peça é o figurino: enquanto o cenário simples reflete a situação financeira de Güllen, a bilionária Claire Zahassian se sobressai sempre de forma impecável nas vestimentas. É curioso, no entanto, o detalhe das próteses douradas da personagem. Fica confuso no que acrescentam à história. Mas um detalhe interessante é a liteira que, de acordo com a personagem, é um presente vindo do Museu do Louvre, em Paris.

A reflexão que A Visita de Velha Senhora estimula é importante, especialmente por usar a comédia como artifício. Em meio a um mundo movido a dinheiro, tratar desse assunto em forma de entretenimento é uma boa sacada. No entanto, se trata de um humor satírico que pode se tornar cansativo àqueles que não se identificam com o gênero teatral.

Serviço:

A Visita da Bela Senhora

Quando Quinta a domingo, às 20h, até 26/11

Onde Teatro Sesi-SP, Av. Paulista, 1313.

Quanto Grátis

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