Pressa de viver (com 12 semanas de gravidez)

Isabella Herdy
2 min readSep 21, 2021

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Sempre tive pressa de viver e repito isso porque acho um grande definidor da minha personalidade. Quando mais nova tinha insônia constantemente pensando em todos os lugares do mundo que eu gostaria de conhecer e como faria para chegar até eles. Nunca tive medo de avião e sempre gostei de observar a paisagem passando pela janela do carro, mesmo que com certa pressa (bastante pressa) de chegar logo ao destino final.

Lembro de logo no primeiro dia de cada viagem que fiz, tentar guardar ao máximo aquele sentimento de não saber muito bem o que esperar sabendo que qualquer coisa que vier vai ser incrível, pra me apegar a esse mesmo sentimento no último dia, quando eu soubesse que seria difícil aceitar que a viagem acabou e meu coração se partiria ao meio só de pensar em voltar pra casa. (sim, era essa sensação pré-adolescente que eu tinha a cada término de viagem, como se fosse um término de namoro em que não fui eu quem escolhi).

Que fique claro que hoje em dia sinto certo alívio em voltar pra casa, afinal, também envelhecemos.

Sempre me surpreendi com histórias de mochileiros que largaram tudo pra trabalhar em hostels em locais paradisíacos. Até que eu mesma virei essa mochileira sem pressa para o próximo destino porque parecia ter todo o tempo do mundo.

Viver e viajar sempre foram sinônimos pra mim. Sempre achei o mundo grande demais pra ser desperdiçado em um lugar só. Com o tempo — e a maturidade — eu entendi que isso não é uma regra, muito menos uma verdade absoluta. Tem gente vivendo muito feliz no mesmo lugar e muito melhor do que quem não tem raízes amarradas. Só que viver perambulando de canto em canto sempre pareceu mais divertido pra mim. Provavelmente porque eu mesma sou tão acostumada a mudar de ideia, de gosto, e de humor, que mudar de lugar é mais natural que não mudar.

E eis que no ano dos confinamentos e distanciamentos, limitada das minhas viagens, salvando destinos aleatórios no Instagram pra sabe-se-lá-quando isso acabar, estou eu, embarcando na maior viagem da minha vida sem sair de casa. Bem na hora em que eu parecia não ter mais tanto assunto assim na terapia, com a yoga, vida amorosa e trabalho em dia. Quando tudo se mostrou tranquilo e bem encaminhado (até demais), o universo veio me lembrar que eu nunca gostei tanto assim de tranquilidade mesmo. E sempre tive preguiça de fazer roteiro antes de chegar no destino. E que minhas melhores viagens foram no free style, sem muitas expectativas muito menos planejamento.

Cá estou eu, sentada no meu quarto, embarcando na viagem mais louca da minha vida chamada gravidez rumo a maternidade. Não faço ideia do que vou encontrar por lá e não sei nem por onde começar a montar um roteiro. Mas assim como as minhas melhores viagens, já chegou cheia de perrengues e surpresas, solitária e curiosa. E assim como eu sempre fui, to indo com medo mesmo, fingindo tranquilidade e abraçando cada descoberta que eu faço pelo caminho.

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Isabella Herdy

Mãe. Tenho uma newsletter pra escrever a vontade e falar do meu filho @CriancatambemDanca. Brand Strategist at @AnaCouto.