O 5° Elemento do Hip-Hop: O Conhecimento.

Isabela Miranda
3 min readSep 21, 2021

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Afrika Bambaata era símbolo de resistência cultural e racial na década de 70.

O movimento Hip-Hop surge em 1970 com a necessidade de dar voz, representatividade e direcionamento para os jovens periféricos dos bairros de Nova York como Harlem, Queens, Brooklyn e Bronx. A violência entre gangues, a pobreza, o racismo, tráfico de drogas e o abandono do Estado, no que se refere a assistências básicas nessas regiões, determinava uma quebra na perspectiva de futuro aos jovens residentes da periferia.

Foram nessas condições que o Dj Afrika Bambaataa idealizou o movimento Hip-Hop que conhecemos hoje e o inseriu na cultura das gangues, a fim de dar voz a quem nunca foi ouvido e o poder da conscientização e pertencimento para que vidas fossem verdadeiramente transformadas por meio da arte legítima dos guetos, já que a carência de acesso a bens e serviços como a cultura era/é uma realidade dos bairros periféricos. Porém isso tudo só foi possível com o nascimento de um senso de coletividade que o próprio movimento incentivou nas quebradas de Nova York, todos unidos por uma única causa: a legitimidade de suas próprias existências.

Para atrair os jovens nessas condições, Bambaata, inseriu na cultura das gangues a dança (breakin, up rockin, poppin e lockin), a arte plástica (graffiti), a discotecagem (dj), bem como rimas improvisadas (mc) e compostas (rappers). Ele associou a essas atividades o elemento conhecimento, com conteúdos e ações educativas através da Zulu Nation, voltados para a difusão de valores como paz, união, liberdade e justiça. Visava reduzir a violência entre as gangues e resolver suas diferenças mediante expressões artísticas, além de preservar a história de seus antepassados e imprimir uma nova cultura urbana.

A Zulu Nation é uma ONG Fundada pelo DJ Afrika Bambaataa que tem como princípio as bases do hip hop: paz, amor e união.

Logo esses jovens entenderam que precisariam criar uma consciência coletiva se desejassem sobreviver ao descaso social que eram acometidos. O Hip-Hop surge então como um elo de ligação entre a necessidade de conscientização coletiva da periferia a fim de entender quem somos, o porquê estamos aqui e até onde podemos chegar e a escassez de recursos culturais que pudessem incentivar uma expansão saudável desses jovens.

O conhecimento não só apresentou uma nova perspectiva de mundo para a quebrada como também consolidou o movimento como necessário, gerando assim respeito à todos aqueles que mantem a cultura viva, respeitando seus valores, princípios e sua ancestralidade.

A partir dos anos 2000 o Hip-Hop, de um modo geral, ajudou a elevar de forma considerável os debates sociais necessários para uma conscientização maior da realidade periférica, com todas suas vertentes artísticas. No rap, nomes como Sabotage, RZO, SNJ se tornaram referenciais da antiga escola com suas letras de protesto e denúncia. No graffiti, Os Gêmeos se tornaram uma forte influência nacional, ajudando a definir um estilo brasileiro de arte crítica e potencializando seu trabalho internacionalmente. O breaking carrega nomes como Pelézinho, um dos principais dançarinos do mundo com mais de 20 anos de carreira. E o DJ Erick Jay que venceu o DMC World, o campeonato de DJs mais influente do mundo, ganhando prêmios de relevância nacionais e internacionais.

Confira na íntegra um vídeo do Griot Urbano, exemplificando bem as contribuições de Bambaataa e da Zulu Nation pro Hip-Hop:

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Isabela Miranda
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Jornalista, escritora pesquisadora da cultura Hip-Hop. Autora do livro-reportagem “Identidade Hip-Hop: vozes que verbalizam revolução.