Tudo que cabe em um instante

Eu fui mas eu olhei pra trás
Mas pra mim não é novidade
Sou nostalgia pura
Sou contemplação eterna do que foi
e mais ainda do que seria
(quem me dera)

Eu queria escrever sobre
tudo que cabe dentro de um olhar
Mas eu
Eu ainda não atingi tamanha façanha poética
De sintetizar em palavras todos os anos
que se passam em um segundo
(mas você me faz querer tentar)

Eu me lembro perfeitamente
Você esqueceu seu olhar em mim
E eu encontrei
Perdoe-me se eu falhar novamente
na minha descrição pífia
(vem me fazer sentir de novo)

Foi como uma onda
Faria Hokusai sentir inveja
De tão perfeita e tão intensa
Levou com a maré meu medo
Me puxou junto
Mas me deixou na praia antes
que eu pudesse me afogar
(eu não me importaria)

Eu iluminaria uma cidade inteira
Só com a eletricidade
que me percorreu
Cada átomo meu quis
se mover na tua direção
(descobri a força do meu autocontrole)

Eu quis saber
Qual seu maior medo
Suas histórias de infância
Quis te desvendar
Eu quis…
(você)

E se fosse uma cor seria azul
Meu misto de tristeza e alegria
Como sentir um blues tocando
minha pele e a melodia
tivesse se transformado
em um par de olhos
(but the thrill is not gone baby)

Eu te dei a mão
E a gente viveu naquele
breve eterno instante
Uma música do Cícero
Um romance dos anos noventa
Um espetáculo circense
na era vitoriana
(deixa eu te contar tudo no seu ouvido)

Eu não segui regras
Eu quase nem rimei palavras
Mas é que eu fiquei mesmo assim
Desordenada…
Me olha de novo
(me faz sentir viva)

Era profundo como
a noite estrelada
Suave como Monet
Com as sombras de Rembrandt
(vamos reproduzir um quadro
bem famoso de Klimt?)

Mas eu fui e visito aquele instante
de uma vida que nós vivemos
Do silêncio que se seguiu
E eu dizendo
Não me deixa ir
(e se você chegasse perto…)

Só queria olhar nesses olhos
novamente, mas
Seria perigoso demais
Já dizia um sábio
Não dá pra viver assim
Querer sem poder te tocar
(ah, se você deixasse…)