A Jornada

(Em uma longa estrada de vida)

Jade Albanaz

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Caminhando nessa jornada
Em muitos faço morada
Seguindo sempre a estrela do norte
A jornada ousará cessar com o beijo da morte?
E a morada? Desabará com um simples corte?

É difícil aceitar o desconhecido que traz medo
Mas devo aprender a caminhar desde cedo.
Sozinha ou acompanhada,
É necessário continuar a jornada.

Aprender a se deixar sentir
E aceitar que também há a hora de partir
Por mais que eu não goste de despedir
A estrada é longa e todos temos que ir.

Aprender a se deixar ser acompanhada
Por mais que a companhia não seja amada
A isolação demasiada
Desacostuma o coração
E enlouquece até o mais são dos sãos
Que acha que isolação
É sinônimo de libertação.

Aprender a conviver com seu próprio ser
Por mais difícil que seja se conhecer
Saber seus limites e prioridades
Persistência​ dentro das necessidades
Saber a hora certa de lutar
E a hora de aceitar meu devido lugar
(Penso enquanto passo por tantas cidades)

Cidade inexplorada chama minha atenção
É misteriosa e cheia de segredos
Receosa piso em seu chão
E ando por suas ruas contendo meus medos

As ruas do desconhecido são demasiadamente belas
Mas não consigo as contemplar
Pois iluminam-se a luz de velas
E a cegueira não me deixa as enxergar
Por mais clara que seja a luz do luar

Ao anoitecer converso com a lua sobre a constância
Tento entender suas fases que demonstram certa instância
Mostrando que sempre tem a hora de crescer
Mas dentro do ciclo também há de se 'imiudescer’.

Minguando até não mais aparecer
Morrendo pra, quem sabe, nova renascer
Crescendo até não mais aguentar
Vivendo cheia pra, quem sabe assim, seu ciclo inteirar.

Ao amanhecer, o sol árduo brilha sem parar
Mas nunca é longo o tempo de se admirar
Logo queima minha pele fraca que arde
Dói, mas continuo sem fazer alarde
Pois não quero parecer mais covarde

A jornada é longa e os caminhos pedregosos
"Cuidado" mamãe disse "atalhos são perigosos".
Bifurcações aparecem pra rir de minha indecisão
Buracos surgem pra desviar minha atenção.

Tento me concentrar no caminhar
Mas me distraio até ao ver poeira ao ar.
Bem-te-vi cantou aqui fora.
Mal-te-vi e já te vais embora.
Ou eu que vou-me sem fazer hora?
Não gosto de despedidas pois sempre há quem chora
E por causa delas, em mim, a saudade mora.

Faço pedido ao flash da estrela cadente
O pedido, egoísta, é pra mim mas logo lembro do que está doente
E daquele que daria tudo por uma cama quente
Sempre há quem precise mais do pedido do que a gente.

Subo em uma escada pra ver onde acaba o mar
Ele diz que, se acaba, é onde o horizonte está a gritar
Desço a escada pra ver onde acaba o chão
Mas haverá fim a estrada do coração?

O que há de vir é imprevisível
O que vem depois é quase invisível
Por mais que eu tente adivinhar
É tão provável eu acertar
Quanto nadar duas vezes na mesma porção de água do mar.

Sopro de água e gota de vento...
Nunca achei que meu caminhar era tão lento
Mas só depois de tanto andar
Percebi que eu não saíra do lugar

A estrela guia ainda brilha forte
Percebo que meu céu límpido é minha própria sorte.
As luzes que emitem os céus ao anoitecer
Me fazem ver quão bonita a noite pode ser.

Afinal a jornada é muito bonita
Pode ser doída mas é fonte de beleza infinita
Só basta saber pra onde olhar,
Nem que seja pra singela luz do luar.

Concentro-me em taciturnos estudos
Onde, sem responder, astros permanecem mudos.
Escutam sem nunca falar ou contestar
Mas estrelas sempre estarão lá pra quem precisar desabafar.
Embora nunca há como ter certeza
A busca continua em meio a tanta beleza.

O caminho é a gente que traça
E só andando pra conhecer o que se passa.
Escolhe a estrada e faz o passo acontecer
E vê o que se passou como forma de aprender.

Continuo caminhando e, na estrada, me ponho a cantar
Pra quem sabe algum dia, eu chegar em algum lugar
Nem que seja pra poder chamar de lar.

E toda minha vida não passou de um frágil segundo… Apenas mais um pequenino passo nessa longa jornada.

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Jade Albanaz

Buscando ouvir o que meu ser tem a dizer pra mim. Às vezes, é Silêncio.