A capa traz uma arte em fundo preto com alguns círculos rosa e cinza, e centralizado a palavra “A11y”, que significa Acessibilidade.

Acessibilidade como um pilar essencial em times de design

Criando hábitos para cultivar a mentalidade e não ficar só na teoria

5 min readSep 13, 2022

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Pode parecer difícil construir uma cultura de acessibilidade quando esse não é o foco de uma empresa ou produto. Existe o mito de que acessibilidade é caro, demanda recursos e, principalmente, tempo. Mas e se eu te contar que é possível? Vamos começar pelo cerne dos projetos: o time de design. Veja como podemos trazer a acessibilidade para o dia a dia e aos poucos contribuir para fazer a diferença nos produtos digitais.

Converse com o time para trazer profissionais de acessibilidade para promover talks e workshops

Antes de qualquer prática relacionada ao tema, é necessário conscientizar. Conteúdos introdutórios e teóricos serão super úteis no início desse contato dos colaboradores com a acessibilidade. Trazer essa mentalidade para dentro da empresa é a primeira semente que plantaremos.

Crie personas com base em pessoas com deficiência

Só no Brasil temos mais de 17 milhões de pessoas com deficiência, segundo o IBGE. Além disso, PCDs são o grupo mais diverso que existe: temos mulheres, negros, LGBTQIAP+, idosos, ricos, pobres, enfim, de todas as caras! Então, não exclua esse grupo tão vasto das suas personas. Desta forma, contribuímos para uma maior diversidade de público sendo considerada desde o início do projeto.

Não deixe o time esquecer dos contextos “alternativos” em discussões de casos de uso

Ao utilizar uma determinada feature, como uma pessoa com deficiência visual irá interagir com ela? Será que as instruções de utilização estão claras? Será que as pessoas conseguirão entender, ver e interagir, independente de onde, como e com qual device estão utilizando? Esses e outros pontos devem ser levantados na hora de descrever os casos de uso, considerando todo e qualquer cenário alternativo. Dessa forma, é mais fácil propor uma experiência que atenda ao maior número de pessoas.

Institucionalize um comitê de acessibilidade para tomada de decisões

É natural que com uma rotina mais ativa na busca por atingir os níveis AA e AAA da WCAG, irão surgir dúvidas mais contextuais que não serão possíveis de serem resolvidas apenas buscando respostas na internet. Nesse caso, é interessante haver um comitê ou grupo com algumas pessoas selecionadas — que tenham mais interesse e disponibilidade para debater o tema — e que se dediquem a entrar a fundo em um cenário atípico para estudá-lo e chegar a uma solução. Esse grupo poderá ser o responsável por decidir que caminhos seguir quando houverem dúvidas dos outros times e encaminhar soluções para serem testadas com os usuários.

Adicione uma etapa de aprovação de acessibilidade na criação de componentes para o Design System

Vamos eliminar de vez o problema de geração de legado inacessível? Aproveite a etapa de construção de um Design System para oficializar boas práticas de uso dos componentes, assim como garantir que eles estão passando nos critérios da WCAG, como por exemplo contraste de cores e área de toque mínima. Veja como a Shopify documentou acessibilidade no final da página.

Um notebook está posicionado em cima de uma mesa de madeira com um site aberto. Neste site, há um texto em inglês que diz: “Eu desenho e desenvolvo experiências que fazem a vida das pessoas mais simples”
Imagem: Unsplash

Pontue melhorias de acessibilidade nos rituais de critique

Sabemos que nem todos os designers podem estar interessados em se aprofundar no tema e talvez não tenhamos muito controle sobre isso. Uma forma de ajudá-los e ajudar também o produto é lembrá-los das boas práticas e apontar melhorias nos rituais de critique, onde “sabatinamos” layouts a fim de detectar problemas de usabilidade e garantir a melhor qualidade possível. Acessibilidade pode — e deve — ser lembrada nesses momentos.

Crie um modelo de documentação para os desenvolvedores

Da mesma forma que documentamos interações e funcionalidades, é preciso indicar o comportamento esperado de cada componente visando acessibilidade. Essa prática é excelente a longo prazo pois, com o tempo, os desenvolvedores se acostumarão com algumas recorrências e poderão desenvolver de forma mais rápida e eficaz. Indique cada elemento que terá foco, assim como a ordem de navegação dos elementos por teclado etc.

Não esqueça de avaliar acessibilidade em reviews de design

Independente se existe um time de Q.A. ou apenas uma checklist feita pelo próprio designer, adicione todos os pontos de melhoria de acessibilidade e leve para os desenvolvedores. Caso seja necessário priorizar, sugiro fazer com base na WCAG, ou seja: priorize mudanças do A, depois do AA e por último do AAA. Além disso, muitas checklists foram feitas para ajudar os designers nesse processo, como a A11y Project Checklist.

Inclua pessoas com deficiência nos testes de usabilidade

Quem melhor para validar nossas hipóteses do que os próprios usuários? Inclua pessoas com deficiência nos grupos de testers para validar as funcionalidades e garantir — ao menos ao máximo possível — que seu produto está no caminho para ser mais acessível e inclusivo.

Não esqueça de considerar também pessoas mais velhas, caso elas utilizem o seu produto, e contextos de deficiências situacionais e temporárias, como: locais barulhentos, conexão precária de internet e por aí vai.

Divulgue entre os designers ferramentas online e extensões de simulação de deficiências

Existem diversas ferramentas que nos auxiliam a ter um norte, apesar de não serem fatores finais de decisão. Essas ferramentas podem ser extensões do Chrome, sites, plugins de softwares de edição e por aí vai. Diversas delas simulam dislexia, glaucoma, daltonismos etc. Uma experiência interessante é aplicar um desses “filtros” e tentar usar os devices dessa forma por algum tempo, sentindo como é estar nessas condições diariamente. Seguem alguns exemplos:

Por último mas não menos importante, seja flexível

Sabemos que nem sempre vamos ter um time que abrace a causa ou simplesmente não teremos tempo para acertar todos os detalhes, e tá tudo bem. O mais importante é ter estratégia e foco: se sente que o tempo de projeto é curto, priorize algumas frentes e crie um plano de ação. Que pode ser, por exemplo:

  • Atender, inicialmente, aos critérios do A da WCAG. Em seguida, trabalhar para atingir o AA, e mais a frente, o AAA.
  • Priorizar por deficiências: numa primeira versão deixar o máximo acessível para pessoas cegas, em seguida, para navegação por teclado e por aí vai.

Não é o ideal, mas é um começo. E com o tempo, é possível fazer testes com os usuários e levantar os feedbacks positivos para trazer como um argumento para o líder do time. O importante é não desistir.

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Design Lead, UX/UI, Web Accessibility, and Writer hobbyist