Steve Albini e o cenário bruto da indústria musical

Janaína Azevedo Lopes
25 min readDec 16, 2016

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Longo keynote do músico e produtor americano durante a conferência Face of Music, realizada em 2015, em Melbourne. A íntegra foi publicada pelo Guardian, e pode ser lida aqui. A tradução é minha.

foto: Steve Albini durante o Face of Music (The Guardian)

Vou explicar algumas coisas sobre mim, primeiro. Tenho 52 anos, tenho bandas há tempos, e sou ativo na cena da música, de alguma forma, desde 1978.

No momento estou numa banda, e também trabalho como engenheiro de gravação e sou proprietário de um estúdio em Chicago. No passado, também fui escritor de fanzines, dj de rádio, promotor de show e tive um selo pequeno. Não fui muito bem-sucedido em nenhuma dessas coisas, mas eu as fiz, então estão no meu CV.

Trabalho todos os dias com música e com bandas e tenho mais de 30 anos. Fiz algumas centenas de discos para bandas independentes e para rockstars, para grandes gravadoras e pequenas também. Eu fiz um disco há dois dias, e vou fazer um na segunda, quando sair do avião. Então, acredito que isso me dá uma posição boa para avaliar a situação da cena musical de hoje, no que isso se relaciona com o que costumava ser e como tem sido.

Estamos aqui para falar da situação da cena musical e a saúde da comunidade musical.

Começo dizendo que estou satisfeito e otimista sobre a situação. E eu aprovo as mudanças sociais e tecnológicas que influenciaram-na. Espero que minhas observações hoje iniciem uma conversa, e através dessa conversa nós possamos invocar uma discussão sobre quão resiliente a comunidade musical é, quão apoiadora ela pode ser e quão acolhedora deveria ser.

Eu ouço de alguns colegas que esses são tempos difíceis: que a internet cortou as pernas das cena musical e que logo logo ninguém mais vai estar fazendo música, porque não dá dinheiro.

Praticamente em todos os lugares em que se escreve sobre música, há alguma versão dessa perspectiva preocupante. Aqueles que costumavam fazer bons rendimentos de royalties viram a fonte secar. E quem se sustentava pela venda de discos está tendo problemas para vender downloads, e não fazer mais discos.

Então há uma suposição tácita de que esse dinheiro, perdido, precisa ser substituído, e muita energia é gasta em argumentações sobre de onde esse dinheiro vai vir. Pitis sobre isso são constantes, todo mundo insiste que alguém devia estar lhe pagando, mas que não devia pagar para ninguém. Eu gostaria de ver um fim nessa insatisfação.

Vale lembrar de onde nós viemos. De onde esse piti se origina. Nos anos 70 até os 90, o período em que estive mais ativo nas bandas da cena, vamos chamá-la de era pré-internet.

A indústria musical era essencialmente a indústria dos discos, em que discos e rádios eram os caminhos através dos quais as pessoas conheciam música e principalmente, a experimentavam.

Eles se juntaram à MTV e aos vídeos nos anos 80 e 90, mas a principal relação que as pessoas tinham com a música era como sons gravados. Havia uma cena em crescimento de bandas, e todas aspiravam ser gravadas, como uma marca de legitimidade.

Mas gravar era uma empreitada rara e cara, então não era comum. Até a tua demo requeria um investimento considerável. Então, quando eu comecei a tocar em bandas nos anos 70 e 80, a maioria das bandas passavam a vida inteira sem terem suas músicas gravadas.

Agora eu vou descrever a cena que observei na América, mas entendo que a maioria das estruturas e condições que vi tem paralelos em outros mercado. Talvez alguém da minha geração possa adicionar um tom australiano ao meu comentário — gritados bem alto, com um sotaque tão forte quanto você possa fazer, de preferência.

Um exemplo econômico: em 1979, você podia comprar um single de 45 rpm por um dólar, um disco novo por 5, ver um show por 1 ou ir num show de estádio por 7. Eu sei essas coisas porque ainda tenho alguns canhotos e ingressos nos meus discos. Perceba a paridade relativa entre os custos de shows ao vivo e os custos da música gravada. Uma inflação gradual dos preços seguiu ao longo dos anos 90, tornando o mercado da música mais caro, apesar de permanecer o principal, em termos de experiência.

Toda a indústria dependia dessas vendas, e as vendas dependiam da exposição. Bandas com grandes gravadoras viajavam, essencialmente para promover seus discos. E as gravadoras providenciavam apoio promocional e logístico para manter as bandas na estrada. Isso sustentava uma rede de contatos de agentes, e empresários, e roadies, e staff de vendas, então os gastos eram consideráveis.

Lojas também ofereciam pontos de venda especiais e promoções: displays, pôsteres, menções em anúncios impressos, promoções, acessórios e o que era chamado cap displays. Gravadoras pagavam muito por essas promoções e as lojas usavam vendas desta promoção como renda adicional. Cadeias lojistas em especial se valiam de promoções, independente do que a gerência das unidades podia achar que sua clientela local iria gostar. Não era incomum ver grandes displays de bandas de hair metal em lojas onde eles não conseguiam vender sequer um adesivo, mas o selo pagou por aquilo, então foi o que aconteceu.

Rádios eram muito influentes. Era o único lugar para ouvir música de qualquer artista e as gravadoras pagavam bastante pra influenciá-los. Jabá tinha se tornado ilegal, mas isso era uma solução comum. Funcionários de gravadoras atuando como consultores de programação eram intermediários. Eles pagavam rádios para ter acesso a seus programadores e faziam reuniões onde os novos discos eram promovidos.

Essas ofertas promocionais eram bem lucrativas. Mas suas métricas dependiam do registro de rádios que tinham incluído os seus discos na programação. Para satisfazer esse requisito e fazer o dinheiro rodar, as rádios com frequência tocavam pequenos pedaços das músicas, jogadas uma depois da outra, numa torrente incompreensível durante a programação tarde da noite, para cumprir a exigência e mostrar que as músicas tinham sido adicionadas à playlist. As rádios populares também realizavam shows gigantescos, muitas vezes gratuitos ou bem baratos, com bandas da gravadora que estavam promovendo. Esses shows não-pagos representaram um prejuízo nos ganhos da turnê, mas o valor promocional, presumia-se, valia a pena.

Jornalistas e editores que faziam resenhas, e também diretores de programas e djs independentes, que incluíam discos na playlist ou tocavam em festas, eram alvo de muita bajulação. Brindes promocionais e cópias de discos ainda inéditos eram enviados para eles. Às vezes, em caixas. A princípio, essas cópias serviam para audição e arquivo. Mas na verdade, era um suborno. As promos eram imediatamente vendidas para lojas de discos usados, e não era incomum que ficassem com o estoque cheio de novos discos antes do lançamento, desse jeito. Minha esposa trabalhou em uma loja que comprava discos usados nos anos 90. E seus fornecedores mais frequentes eram, de longe, as pessoas dessas listas promocionais de selos. O editor de música de um semanário local fez uma segunda renda confortável, em torno de 1 mil dólares ou mais por mês, da venda dessas cópias.

Então era um sistema “vazável”, crivado de ineficiências, mas muitas pessoas se sustentavam com ele. Proprietários de lojas de discos, compradores, empregados, agências de propaganda, designers, donos de clubes, representantes de selos, A&R, produtores, estúdios de gravações, relações públicas, advogados, jornalistas, diretores de programas, distribuidores, tour managers, agentes de shows, agentes de bandas, e todos os serviços auxiliares que eram necessários: bancos, correios, impressão, fotografia, agências de turismo, limusines, roupas de lycra, vendedores de cocaína, prostitutas. Por causa de tudo isso, a indústria precisava se sustentar.

Todas as facetas dos negócios eram concebidos para essas necessidades. A parte mais significativa era um truque de contabilidade chamado “recobrança de gastos”. Os gastos de um disco não eram cobertos pela gravadora, exceto no início. Esses custos eram recobrados ou tirados da renda que a banda pudesse ganhar com royalties. O mesmo acontecia com todas aquelas cópias promocionais, pôsteres, jabás, produtores, relações públicas, apoio de turnês, cartazes, envios — basicamente qualquer coisa que poderia ser associada com uma banda específica ou um disco era pago pela banda, e não pela gravadora.

Quando migraram do vinil pro CD como formato principal, as gravadoras poderiam facilmente vender os CDs como uma conveniência, compacta, um caminho sem problemas para ouvir música. A margem de lucro explodiu e o dinheiro ficou ridículo.

Custos de varejo de um CD eram a metade do LP, e a fabricação, envio e armazenamento eram uma parte pequena. Os selos inclusive usaram o legado do vinil como uma forma de aumentar essa margem de lucro, cobrando as bandas por encartes especiais, apesar do fato de que os encartes de CDs deviam ser o padrão. Ou incluindo uma taxa antecipada por discos quebrados, como se alguém fosse atacar o estoque com um machado.

No fim, as bandas dentro deste sistema ganhavam muito pouco da venda de seus discos, a não ser que fossem estrelas monumentais. Com frequência, passavam todas as suas carreiras em uma gravadora, e nunca chegavam a um ponto no qual recebiam retorno suficiente. As gravadoras tiravam seu lucro por peça em todo disco vendido. E podiam recobrar o custo de cada disco não-vendido. E todas aquelas outras pessoas eram pagas com o dinheiro que não iria para as bandas de qualquer forma, como royalties. Como esperado, aquelas outras pessoas também eram muito bem pagas. É lógico que, se o selo está te pagando com o dinheiro de outra pessoa, não precisa se importar com quanto você cobra.

Durante os anos 90, havia um tipo de corrida às armas para ver quem conseguia o maior contrato. Isso é, o contrato com mais dinheiro sendo gasto em nome da banda. Em uma briga, só que sem dor, o dinheiro seria pago para a banda como royalty, o que tiraria esse valor do sistema e colocaria em coisas como casas e mantimentos e educação universitária. Ou seria pago para outros operadores dentro da indústria, aumentando a influência e o prestígio de quem está fazendo esse gasto. É como se o seu chefe, ao invés de dar o seu pagamento a você, pudesse entregar para os amigos e colegas dele, em seu nome. Como o lucro líquido seria o mesmo e seus amigos e colegas poderiam lhe retornar em favores, por que ele ia querer deixar esse dinheiro ir parar nas suas mãos? Era um sistema que garantiu desperdício ao recompensar os maiores gastadores em um sistema gerado especificamente para escoar o dinheiro de uma banda.

Agora, as bandas existem fora desse espectro de gravadoras. As que estão na ativa, do tipo em que eu sempre estive, para essas tudo sempre foi mais fácil e mais simples. Promoção geralmente se resumia a flyers colados nos postes, menções ocasionais nas college radios e nos fanzines. Se você marcava um show em um lugar que não fazia propaganda, então você tinha um prospecto bem concreto de tocar em um clube vazio. A mídia local não levava bandas a sério até que houvesse uma manchete nacional sobre ela, então você podia simplesmente esquecer da cobertura de imprensa. E a rádio comercial estava totalmente presa pelo sistema de jabás.

A exposição internacional era extraordinariamente cara. Para que os seus discos conseguissem chegar no exterior, você tinha que convencer um distribuidor a exportá-los. E era difícil, sem meios, para qualquer um ouvir o disco e decidir comprá-lo. Então você acabava mandando cópias promocionais para outros países com um gasto enorme, sem ter certeza se eles seriam ouvidos ou não.

John Peel

A única exceção a isso foi o brilhante DJ da BBC John Peel. Ele ouvia religiosamente cada um dos discos que recebia por email, dedicando horas de todos os dias a essa tarefa. Eu mandei para ele uma cópia do primeiro álbum que fiz, e não apenas tocou no ar, como ele me mandou um cartão com uma história pessoal de Chicago, de visitar uma tia matrona quando era criança em Evanston, o subúrbio onde estava minha caixa postal.

Então, essas bandas independentes tinham que ser esforçadas. Elas construíam suas próprias infraestruturas de clubes independentes, promoters, fanzines e Djs. Eles tinham seus próprios canais de promoção, inclusive o primórdio da cultura de internet que é tão prevalente hoje — por exemplo grupos de discussão e notícias. Essas bandas independentes até fizeram seus próprios selos! Alguns eram coletivos, e os que não eram provavelmente operavam em um esquema de divisão de lucros que promovia a eficiência, ao invés do sistema de patronagem da recobrança, que encorajava a indulgência.

Foi aí que eu ganhei minha experiência, nessa cena independente cheia de punks, malucos do noise e drag queens e compositores experimentais e poetas de rua falantes. Você pode agradecer o punk por isso. É de onde a maior parte de nós aprendeu que era possível fazer seus próprios discos, conduzir seu próprio esquema e manter controle de sua carreira. Se um bando de cheiradores de cola espinhentos podiam fazer isso, nós pensávamos, então qualquer um consegue.

O número de discos lançados desse jeito era inacreditável. Milhares de pequenos lançamentos chegavam às lojas independentes, que então provinha um mercado para a distribuição independente. Era o início de uma alternativa ao paradigma da gravadora. Era difícil e lento, mas mais eficiente do que a abordagem de tiro com os grandes, cuja resposta para todos os problemas era gastar mais dinheiro da banda.

Foi o início do que nós chamaríamos de rede peer-to-peer, ponto por ponto. Lá pelo meio dos anos 90, havia selos independentes e distribuidores movimentando milhões de dólares com discos e CDs. E havia uma economia underground e saudável de bandas fazendo um lucro razoável graças à eficiência dos métodos independentes. Minha banda, por exemplo, tinha retorno de 50% de lucro líquido em todos os títulos que lançou através do nosso selo. Eu fiz funcionar e isso nos deu uma porcentagem de royalty maior do que a do Michael Jackson, Bruce Springsteen, Prince, Madonna ou qualquer outro superstar. E nós éramos apenas uma em milhares daquelas bandas.

Então, era assim que o sistema funcionava. É isso que perdemos quando a internet fez tudo disponível de graça, em qualquer lugar. E não se enganem, nós perdemos isso. Ainda há uma rede de selos independentes, mas é uma porção pequena do que já foi. Os que sobreviveram, o fazem ao fornecer a música de nicho para uma audiência exigente. E porque foram fortalecidos na arte da eficiência, sua constituição lhes permite dimensionar tudo para atender a demanda restante.

Você deve ter notado que, na minha descrição do mercado de música de massa e a indústria como era pré-internet, eu falei pouco do público ou das bandas. As duas extremidades do espectro eram pouco consideradas pelo resto do negócio. Fãs serviam para ouvir no rádio e comprar discos, e bandas serviam para fazer discos e viajar pra promovê-los. E essa era toda a consideração que lhes era dada. Mas o público era de onde todo o dinheiro vinha, e as bandas eram de onde toda a música vinha.

Através da internet, que mais do que nunca cria acesso a tudo, música sem limite passou a ser disponibilizada de graça. As grandes gravadoras não viram como fazer dinheiro da distribuição online, então ignoraram mesmo isso, deixando que hackers e público desbravassem a nova paisagem dos downloads. Pessoas que preferem a conveniência dos CDs aos LPs naturalmente preferem ainda mais baixar músicas. Você pode baixar ou ouvir em streaming, ou no YouTube, ou receber de seus amigos e contatos em grupos de mensagens, por arquivos zipados. Num piscar de olhos, a música passou de rara, cara, disponível só em mídias físicas e ambientes controlados, para ser ubíqua e de graça. Que evolução incrível!

Há muita maldade proferida pelas pessoas na indústria da música sobre o quão terrível o compartilhamento gratuito de música é, como isso é equivalente ao roubo, etc. Isso é mentira e nós vamos lidar com isso em um minuto. Mas agora eu quero que você olhe para a experiência da música de uma perspectiva de fã, pós-internet. O que era difícil de encontrar, agora é fácil. Música para o meu gosto específico, o quão fodido ele possa ser, agora é acessível a alguns cliques ou talvez postando um pedido num fórum de mensagens. Como resposta, eu tenho mais acesso à música do que imaginava. Com curadoria de outros entusiastas, dispostos a me mostrar as coisas boas, pessoas, como eu, que querem que outras pessoas ouçam as melhores músicas possíveis.

Essa distribuição orientada pelo público tem outros benefícios. Músicas há muito esquecidas ganharam uma segunda vida. E bandas, cujas músicas estavam à frente de seu tempo, puderam alcançar uma audiência de nicho que a velha distribuição de massa falhou em encontrar para elas. Quando um entusiasta mostra pro outro, essa música esquecida finalmente chega ao seu propósito. Tem um documentário excelente sobre um desses casos, uma banda de Detroit chamada Death, cujo único disco foi lançado em uma edição simples, acho que em 1975, e desapareceu até que uma cópia foi digitalizada e tornada pública na internet. Gradualmente, a banda encontrou um público, sua música ganhou lindas reedições, e a banda ressuscitou, completa, com turnês, tocando em casas lotadas. Agora, tem a possibilidade de uma carreira que o antigo sistema de “estrelas” lhe negou. Há centenas de histórias parecidas e existem selos de especialidades que fazem nada além de relançar clássicos perdidos assim quando foram lançados.

Agora olhe as condições da perspectiva da banda, as condições encaradas por uma banda. Em contraste com o passado, o equipamento de gravação e a tecnologia ficou mais simples e prontamente acessível. Computadores vêm com softwares suficientes para gravar uma demo decentemente e lojas de música vendem microfones e outros equipamentos baratos, que antes só eram disponíveis em locais específicos. Em resumo, toda banda agora tem a oportunidade de fazer gravações.

E podem fazer várias coisas com esses registros. Podem postá-las por aí: Bandcamp, YouTube, SoundCloud, seus próprios sites. Podem linká-las em grupos de discussões, Reddit, Instagram, Twitter, e até na sessão de comentários de outras músicas. “LOL”, “que merda”, “bem melhor”, “morte ao falso metal”, “LOL”. Em vez de gastar uma fortuna em ligações internacionais, tentando achar alguém que ouça sua música em cada parte do mundo, toda banda do planeta agora tem acesso livre e instantâneo ao mundo, ao seu alcance.

Eu não exagero sobre o quão importante é essa evolução. Antes, no paradigma de cima-para-baixo, a indústria local era permitida a ditar qual música estava disponível em mercados isolados e remotos, por localização ou linguagem. Era inconcebível que uma banda pequena ou independente pudesse ter uma penetração de mercado na, digamos, Grécia ou Turquia, Japão ou China, América do Sul, África ou os Balcãs. Quem você pediria que lidasse com a sua música? Como você o encontraria? E como você justificaria todo o processo e as complicações relacionadas ao dinheiro requeridas para mandar quatro ou cinco cópias de discos para lá?

Fãs podem encontrar a música que quiserem e desenvolver um relacionamento direto com as bandas. Agora esses lugares estão tão bem servidos quanto Nova York ou Londres. Fãs podem encontrar a música que gostam e ter um contato direto com as bandas. É absolutamente possível — tenho certeza de que isso acontece todos os dias — que um cara em um desses lugares longínquos ache sua nova banda preferida, mande uma mensagem para essa banda, e que o vocalista leia, e responda pessoalmente do seu celular, no outro lado do mundo. Muito melhor, não? Eu vou te dizer, é infinitamente melhor do que ter um relacionamento com uma banda limitado a ler o encarte do disco. Se tal coisa fosse possível na minha adolescência, tenho certeza de que eu seria uma espécie de mala sem alça pros Ramones.

Alguns anos atrás, minha banda fez uma tour na Europa Oriental. Nós tocamos em todos os hot spots: República Tcheca, Polônia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Bulgária, conseguimos ir tão longe quanto Istambul, na Turquia. Foi uma experiência mágica, tocar para públicos que eram relativamente desacostumados a presenciar turnês de bandas, e que nos receberam como amigos. Nós tocamos em casas cheias, assim como no resto da Europa. E no resto da Austrália.

E os públicos pareciam estranhamente familiares com a nossa música. A diferença-chave era que, na maioria destes locais, nenhum disco tinha sido vendido. Essencialmente 100% de nossa exposição tinha sido por meios informais, na internet ou no boca-a-boca.

Naquela viagem, nós fizemos contato com promotores locais e organizações de arte, o público criou interesse pela nossa música e desde então temos vendido alguns discos naquela região. Nossa turnê seguinte naquela região foi mais fácil por consequência, e nós voltaremos a Istambul nessa primavera (obs: esse texto foi publicado em novembro de 2014), usando os contatos que fizemos na primeira viagem exploratória. Espero passar dias maravilhosos.

Em resumo, a internet facilitou muito a condução das rotinas de ser uma banda e aumentou sua eficiência. Tudo, de marcar ensaios usando calendários online, agendar tours por email, vender merchandise e discos por lojas digitais, até arrecadar fundos para fazer um disco, é uma nova facilidade que deixaria as bandas da era pré-internet babando. O velho sistema foi construído pela indústria para servir aos personagens dentro da indústria. O novo sistema, onde música é compartilhada informalmente e as bandas têm relação direta com os fãs, foi construído pelas bandas e os fãs, do velho jeito underground. Pula todos os passos intermediários. Bandas agora têm o controle padrão de sua exposição. Não é mais necessário pagar pessoas para pagar outras pessoas para tocar o seu disco no rádio, apenas para que aquelas pessoas mintam sobre fazer isso. Não é mais necessário gastar dinheiro para que sua banda seja ouvida. Isso acontece automaticamente.

Tem mais uma mudança, mais sutil, que tudo isso instigou. Desde que as pessoas não têm mais que ouvir o que quer que esteja tocando no rádio e não são mais limitadas a ter o que as lojas decidem oferecer, elas se tornaram mais indulgentes com seus gostos. Meus amigos geralmente ouvem playlists exóticas que eles mesmo criaram, cheias de escolhas intuitivas e contrastantes que são somente deles.

Nosso chefe de escritório tem um estúdio hi-fi e é tão provável que ele toque o novo 45 polegadas da Leather, banda de hardcore, ou o electro-drone do Tim Hecker, quanto é que ele toque uma raridade do soul de Cincinatti ou disco ou improv guitar, seja recém-lançado de Oren Ambarchi, ou de 30 anos atrás do selo Takoma. As pessoas agora podem ouvir apenas as músicas pelas quais ficam extasiadas, o tempo todo.

Existem comunidades online ativas para todo tipo de música e suas subculturas. Seja se você goste do reggae do Dusty Deep Cut, eletrônico minimal, pop sinfônico, blues do Texas, noise japonês, power eletrônico, música de criança, música de natal, Raymond Scott ou Burn Ives, eu te garanto que há uma comunidade online onde você pode se conectar com outros entusiastas para saciar a especificidade imediata dos seus gostos.

Essas comunidades online agora são uma parte vital da cena e esse debate está acontecendo lá, diariamente. Eu, provavelmente, levantei inconscientemente algumas de minhas opiniões nessas discussões que tive online, então gostaria de confessar esse plágio agora, como uma forma de encorajá-los a se envolver nesses fóruns onde todas as conversas interessantes sobre música estão acontecendo.

Imagine um grande salão de fetiches, onde não importaria como você gosta de foder ou ser fodido, nem quanto os seus gostos mudam, nem quaisquer objetos ou arreios sejam necessários; você poderia abrir a porta e ter todos eles, num colchão macio, a qualquer hora do dia. É isso que a internet se tornou para os fãs de música. Mais assentos de arquibancada, para a torcida.

O resultado é fãs mais apaixonados por essa música. Dispostos a gastar mais em vê-la tocada ao vivo. Dispostos a comprar mais coisas efêmeras e ansiosos por estabelecer uma relação pessoal com as pessoas que fazem a música.

Os preços de show aumentaram, como consequência. E as bancas de merchandising nos shows estão sempre atrolhadas. Lá em casa, shows que costumavam custar cinco ou seis dólares agora são 20 ou 30. Aqui, a inflação dos ingressos está mais acentuada, com shows saindo por 80 dólares ou mais. Por consequência, a renda de shows para as bandas cresceu exponencialmente.

Minha banda tem tocado muito, nos mesmo locais, por toda a nossa carreira, há 20 anos. Acho que poderia dizer que saturamos nossa audiência, não importa quanto tempos tenhamos ficado ali. Alguns desses shows agora estão pagando mais do que há 10 ou 15 anos. Isso mesmo, alguns locais onde nós costumávamos ganhar quatrocentos ou quinhentos dólares, agora ganhamos quatro ou cinco mil.

A facilidade de acesso, o interesse redobrado e o aumento na renda criaram novas parcerias e possibilidades entre indivíduos, bandas e artistas visuais, filmmakers da internet, coreógrafos e outros tipos de pessoas públicas. Colaborações acontecem em tempo real ou estão espalhadas pela internet, onde as partes, com frequência, não se encontram de verdade. Eu tenho um amigo que tinha muito tempo livre no ano passado, daí ele formou algumas bandas novas. Uma delas era totalmente composta por pessoas que ele só conhecia online, e todas as suas músicas eram feitas via colaboração online. Essa música era um resultado da interconectividade da internet.

Tudo isso, as características, as possibilidades, foram instigadas e possibilitadas pelo compartilhamento online de música. Se não diretamente, então como um caso de construção de audiência, como a banda Death ou a minha própria banda lá pelos Balcãs e além, então indiretamente, por mudar as expectativas dos ouvintes e dos músicos.

Isso explica o meu entusiasmo pelo jeito que a cena musical mudou, mas e o meu otimismo?

Eu gostaria de dizer uma platitude sobre a exposição online da música. Em todos os cantos ouvimos, essa é a platitude: “Nós precisamos descobrir como fazer a distribuição pela internet funcionar para todos”. Eu faço aspas no ar para indicar a distância intelectual entre eu e a citação. Tenho um amigo, Tim Midgett, que usa três dedos para fazer aspas no ar, assim expressa uma ironia extra.

Eu discordo dessa platitude inofensiva. É inócua e insípida, e enche o ar depois que alguém pergunta: “Como vai a cena musical por esses dias?” E mantém a esperança de que o atual estado, como descrito, presumivelmente mágico, possa ser mudado para o melhor. Para “todos”. Essa palavra “todos” é importante para as pessoas que usam a frase. Nas suas mentes, o modelo de distribuição física funcionou pra todo mundo. Mas o modelo novo, não. Ainda não, ainda não. Não até que nós “o descubramos”. Tenho certeza que todos vamos cansar de eu fazendo aquelas aspas no ar. Eu discordo que o jeito antigo seja melhor. E eu não acredito que essa frase seja verdadeira.

“Nós precisamos descobrir como fazer a distribuição digital funcionar para todos”. Eu discordo porque, nessa linguagem simples, estão suposições tácitas: a estrutura de um sistema explorador com que eu tenho brigado ao longo da minha vida criativa. Dentro dessa frase banal, “nós precisamos descobrir como fazer isso funcionar para todos”, se esconde o esqueleto de um monstro. Vamos ao começo. “Nós precisamos descobrir”: o sujeito dessa frase, a primeira pessoa no plural, soa inclusiva, mas o contexto acaba com essa presunção. Quem teria o poder de implementar um novo paradigma de distribuição? Quem estaria na sala quando discutíssemos nossos planos? Quem faria as descobertas que precisamos? Indústria e consumidores?

Consumidores é a resposta provável, mas os consumidores votaram sobre como a música seria armazenada, ou marcada, protegida de cópias ou deixada vulnerável? Alguém? Os consumidores tiveram uma escolha sobre a Apple enfiar um disco do U2 na sua Library do ITunes, ou não? Claro que não. Essas coisas simplesmente foram feitas e tivemos que lidar com elas como um estado das coisas. Consumidores se rebelando ou reclamando — “o empurrão do mercado” — não é o mesmo do que estar envolvido na decisão de fazer algo. Claramente, o “nós” dessa frase não inclui o ouvinte. Eu acredito que toda tentativa de organizar a cena musical que ignora o ouvinte está amaldiçoada.

E as bandas? As bandas têm um lugar na mesa do “nós”, enquanto nossas necessidades de “descobrir” são atendidas? Claro que não. Se você perguntar às bandas o que elas querem — e eu sei disso porque estou numa, e lido com bandas todo dia — o que elas querem é uma chance de mostrar suas músicas e de serem pagas por seu público. Eu acredito que o atual status de operação satisfaz a primeira dessas condições muito bem, e a última, pelo menos tão bem quanto o velho paradigma da gravadora.

Então quem é “nós”? As partes administrativas do velho negócio de gravadores, eis o “nós”. As gravadoras que têm direitos sobre um monte de música. Eles que querem fazer a descoberta. Eles querem definir a agenda. E eles querem fazer todos os ajustes estruturais. As bandas, o público, as pessoas que fazem música e que pagam por ela — visivelmente, não estão na discussão.

Que tal essa palavra, “precisar”, nós “precisamos” descobrir? Precisar na verdade é “querer”, uma preferência. Esses restos industriais estão insatisfeitos com o jeito que a internet, as bandas e o público podem se virar bem sem eles. Então, preferem mudar as coisas para re-estabelecer sua relevância. Você vê isso na onda dos “negócios 360” que estão sendo ofertados agora, em que tudo que a banda faz, de suas músicas até suas camisetas, suas contas de Twitter, tudo pertence à gravadora. Em troca, a gravadora oferece dinheiro pra começar. Eu acho que essa abordagem está condenada por coisas como o Kickstarter, que provou ser mais efetivo e eficiente pra juntar dinheiro diretamente do público que quer apoio para sua música.

E que tal o infinitivo “descobrir”? Nós precisamos “descobrir”. Presume que nós podemos saber como atacar a distribuição global, muito depois da internet ter arrumado um jeito eficiente e compartilhado de fazer exatamente isso. Tem um motivo pra que a “torneira” não tenha mudado radicalmente nesses anos. Tempo e observação têm demonstrado que a melhor e mais simples forma de controlar a água quente é fechar a torneira. Problema resolvido, não precisa mais solucionar a questão da água quente. Eu não posso ser o único que fica puto com as torneiras constantemente desalinhadas em banheiros públicos. Imagine se ouvir música fosse tão frustrante quanto isso.

A parte seguinte da frase: “fazer” a distribuição funcionar. Isso implica que nós temos controle na distribuição, que nós podemos fazer algumas coisas, mas não outras. A internet prova que isso é uma falácia. Uma vez que nós lançamos uma música, saiu do nosso controle. Eu uso o verbo “lançar” porque é um vocábulo comum. Mas eu acho que é a descrição perfeita. Ainda mais apropriado se você considerar o que acontece quando você lança outras coisas, tipo um pássaro ou um pum. Quando você os lança, eles vão para o mundo e o mundo vai reagir e usá-los como melhor aprouver. O pum pode torcer narizes, até se dissipar. O pássaro pode voar e fazer sujeira em parabrisas; pode levar um tiro de um fazendeiro. Foi lançado, então você não tem controle sobre isso. Você não pode reaver o pum, não importa o quanto você gostaria. Você não pode proteger o pássaro.

Distribuição é uma palavra problemática. Seu significado prévio implica escassez e alocação de produtos físicos. Você pode inventariá-los, você pode taxá-los. Nada disso acontece com arquivos digitais. Se fosse possível mandar os arquivos digitais de volta para o controle estrito das gravadoras (é impossível, não se preocupe), qual seriam os seus incentivos para ser honesto na contagem? No modelo de distribuição física, você poderia inventariar os títulos no depósito durante uma audição e comparar com a entrega, declarada na nota de manufatura impressa, e saber, com uma precisão razoável quantas cópias foram vendidas. Como, Jesus, você poderia inventariar um arquivo digital? Contar quantos ficaram na prateleira?

Essa palavra é problemática, mas não supera “funcionar”: nós precisamos descobrir como fazer isso “funcionar”. “Funcionar” é uma palavra impossível nesse contexto. Dependendo de quem usá-la, vai ter sentidos contraditórios. Para a gravadora, o sistema funcionaria se gerasse lucro por execução, se controlasse acesso à música enquanto desse acesso à audiência para anunciantes como uma renda adicional, e permitisse disponibilidade para estratégias de marketing, para promoção. Para o ouvinte, significaria aumentar o acesso, a habilidade de achar música específica e de nicho, reprodução contínua, sem incômodos, fácil de usar, livre de espionagem, a baixo ou nenhum custo, utilizável em dispositivos diferentes, sem marketing e sem propagandas. Para uma banda, isso significaria encontrar um público e não ter barreiras para participação, sem limite de quanto do material é disponibilizado. Você entende agora o quanto isso é problemático. É literalmente impossível para um sistema satisfazer todas essas necessidades simultaneamente, quando elas são contraditórias.

E as tentativas híbridas já experimentadas foram desastrosas, vergonhosas. Eu tentei esses dias ouvir um podcast de um site oficial, licenciado. Quando meus gatos começaram a brigar, perdi um pouco, porque tive que separá-los, alimentá-los e acalmá-los. Voltei para o computador e tentei retroceder uns minutos que tinha perdido, mas fui agraciado por uma nota dizendo que, devido ao acordo de copyright, a esse player não era permitido voltar o podcast. Eu acho improvável que as pessoas que postaram o podcast queiram essa configuração. E o site só assegurou que eu nunca mais me importasse com o produto deles novamente.

A conclusão daquela frase, o “para todos”, também é problemática. Nós sabemos que as lojas de discos, que uma vez eram a face amiga da indústria e o recipiente de muita patronagem promocional descritas posteriormente, não estão se dando bem na era digital. Lojas de discos agora têm mais apelo quando vendem usados, algo que a indústria costumava ficar puta da cara a respeito. E por ter material especializado, de nicho, que também é “marginal” na visão das corporações, eles claramente não são parte do “todos”, na frase.

Então não há porque insistir que outros serviços e escritórios obsoletos daquela era sejam trazidos de volta para hoje. A indústria da música encolheu. Nesse encolhimento, mudaram algumas coisas, deixando que as bandas e o público estabelecessem seus relacionamentos com os fins. Eu vejo isso como saudável e emocionante. Se eu aprendi algo nesses 30 anos é que, com seus próprios meios, bandas e seu público podem se virar bem: as bandas podem descobrir como apresentar sua música em frente a uma plateia, e a plateia vai descobrir como recompensá-las.

E eu não lamento a perda dos escritórios de ineficiência que morreram nesse processo. Eu acho que algumas pessoas estão fora do negócio. Mas as mesmas coisas aconteceram quando o carro substituiu o cavalo, e todos ferreiros tiveram que se adaptar, passando a fazer porteiras de jardins ao invés de ferraduras.

Quando eu li essas anotações no avião hoje, me senti como se tivesse passado muito tempo enumerando reclamações e não quero concluir sem reiterar quão incrível o atual ambiente da música é. Eu vejo mais bandas e ouço mais música do que nunca na minha vida. Há mais shows, mais músicas disponíveis do que nunca, bandas são tratadas com mais respeito, e estão mais no controle de suas carreiras e seus destinos. E os vejo como uma constelação de empreendimentos: algumas grandes, algumas pequenas — a maioria é pequena mas todas com uma resposta mais rápida de seu público e uma chance de maior de ser bem sucedido. É realmente emocionante.

Eu tô falando há um tempão, mas ainda não mencionei o debate de propriedade intelectual. Vou tentar fazer isso rapidamente, agora. Gostaria de deixar espaço pra perguntas após falar, e apesar de deixar muita coisa de fora — publicações, créditos roubados, sampling, uso justo, inspiração — suspeito que haverá uma discussão saudável depois e acho que esta discussão é necessária, e está atrasada.

De minha parte, acredito que o conceito de propriedade intelectual exclusiva, com relação à música gravada, chegou a um fim natural, ou algo tipo um fim. A tecnologia trouxe a ideia de uma necessidade de abrigar o significado da palavra “lançamento”, como um pássaro ou um pum. Não é mais possível manter controle em materiais digitalizados, e eu não acredito que o bem de todos tenha a ver com essa tentativa.

Temos um grande bem comum quando deixamos material criativo na posse do público. A lei de direitos autorais tem sido tão modificada nas décadas passadas que agora isso quase não acontece, criando absurdos sempre que o direito autoral é invocado. Tem muito trabalho que não está legalmente em domínio público, apesar de seus proprietários, autores e criadores terem morrido ou desaparecido do mercado. E esse material, do ponto de vista legal agora removido da nossa cultura — ninguém pode copiá-lo ou relançá-lo, porque ainda está ligado ao direito autoral.

Outros absurdos se multiplicam: o uso de certas músicas como trilha de vídeos caseiros ou projetos de estudantes é tecnicamente infração e obstáculos legais são feitos para prevenir isso. Se você quer um vídeo de sua festa de casamento — a primeira dança do seu pai com sua noiva — não tem opção legal, a não ser o silêncio. Se sua filhinha faz uma dança excêntrica para uma música do Prince, nem se dê ao trabalho de colocar no YouTube para que os avós dela possar ver, ou um anão roxo vai jogar uma liminar contra você. Tô ofendendo o baixinho? Foda-se. A música dele é o veneno.

Música integra o ambiente como um elemento atmosférico, como o vento, e não deveria estar sujeita a controle e compensação. Bem, não até que os donos dos direitos estejam dispostos a me deixar virar a mesa sobre eles. Se você acha que a minha audição vale algo, então tá, eu também acho. Tocou uma música do Phil Collins enquanto eu tô no supermercado? Me paga 20 dólares. Def Leppard? Faço por 100. Miley Cyrus? Não tem tanto dinheiro assim disponível.

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